26/12/2005

Esta é sobre ti
tem amor e ódio
é para ires ouvindo nestas horas d'ócio
ínfima parte de um sonho perdido
libertei-o, já o tinha esquecido
é um sinal...


Sei que me escapa qualquer coisa quando faço da minha noite dia. Mas não me salvo. É eterna a falta de sono, ou a vontade louca de não sonhar.
Não baixo os braços. Não desisto. Eventualmente um dia o sono vem e eu não mais acordo.
Há um grito no fundo, alto demais para se perceber.
Há uma cegueira qualquer que me ilude a visão.


Espero o momento
na sombra da rua
ouço uma voz que me lembra a tua
passei pelo risco de sofrer
por não ler os teus sinais
é um sinal...para recomeçar...


Um dia, ao acaso, vem o destino roubar-me as escolhas. E vem a sorte controlar-me os passos. Um dia é dia de recomeçar e alguém lança os dados por mim. Um dia acaba o jogo e eu ganho o que ninguém chegou nunca a perder. Um dia acabam-se as esperas e os contratempos. Um dia o despertador toca e eu vejo que foi sonho esta vontade de não sonhar.
E que tu não entras, em nenhum caso, neste jogo infinito de morrer e nascer de novo.

Quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera


Farto-me dos convenientes. Das promessas esquecidas. Farto-me das esperanças. Deixo que seja escolha minha a falta de escolha. E grito muito por saber que ninguém me ouve. Grito mais ainda. Tudo o que quero…

Quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera


Eventualmente é uma escolha minha, eventualmente alguém escolheu por mim… Começar a jogar de novo e ter a necessidade estúpida de tirar sempre um nos dados, ter a necessidade estúpida de preencher todos os espaços, de dar todos os passos. Porque é mais gratificante o caminho do que a vitoria. E ver tudo. Ser tudo. Ter tudo.

Leva-me as areias quentes
que me instigam os sentimentos
que me deixam nua perante os elementos
ensina-me a escavar objectos sem estragar
para que sorrir seja sempre vulgar


E sei que vou cair de novo… Fazes parte do jogo. Mesmo sem sonho. Mesmo sem esperança. Mesmo sem futuro nenhum. Porque é o destino que me leva a ti, sem eu escolher. Ao menos que a repetição seja doce. Que seja completa. E única. Que o jogo não pare. Que os dados não se percam e que eu saiba desta vez partir. E que te saiba levar comigo… Porque o destino te escolheu para mim, ou porque eu escolhi que o meu destino te escolhesse. Volto atrás. Apanho-te de novo. Lanço os dados. Agora contigo, para sempre.

Dá-me de beber, finas gotas desse mel para que o meu saber não
esteja só no papel
incita-me a lembrar
o teu gosto pelo mar
para que um dia fique pronta a zarpar
esperar que amanha tudo seja diferente...
e tu possas estar presente...



Mesa - Esquecimento



13/12/2005

Vi no espelho o reflexo
do retrato
de uma coisa qualquer chamado
efeito.
Dei nome ao acaso...
defeito.

Virei costas ao destino, quando o achei perfeito.

Voltei a página e li de novo.
Caí no erro fonético
de achar poético
o sonho do outro.
Não me engano
quando o erro é sagrado.
Quando é pecado santo.
Santo erro que cometo.
Não me meto entre o reflexo.
Entre o fonema do poema
que é contrario ao verso.
Sai disperso.
E já não o vejo.
O reflexo.
Solta a brisa a melodia
Do quase profano
Quase divino
Erro sagrado
Que cometo a cada dia

Virei costas ao destino, quando o achei perfeito.

O defeito
do efeito
do reflexo
do retrato
do espelho…
Eras tu

04/12/2005

Hoje que posso ser quem quiser... Sou tua

A chuva parou e fiz deste silencio nocturno o ponto de partida que precisava.
Nada. Não se ouve nada. E é deste nada absurdo que tudo começa.
Já não sei de mim. Perdi-me numa rua qualquer na vida de alguém. Mania minha de me entregar toda de uma vez e de me abandonar em vez de fugir. Hoje sei que fiquei por lá, não sei é bem onde.

Nada. Coisa nenhuma. Vazia.
Nada. Silencio. Vazio.

Não sei de mim. O que me dá uma certa mobilidade. Hoje posso ser quem quiser. E é neste nada despropositado que me invento. Hoje tudo começa no nada. E o nada que sou é tudo o que tenho.


(Re)Invento-me.
Hoje posso ser quem quiser.
Escolher o caminho que quiser.

Abandonei-me no caminho de alguém e, por lá ficarei eternamente – pelo menos por lá ficara o que eu fui um dia. – Hoje já não sou quem era. E já nem sei de mim.

Não se ouve nada. Escolho o vazio para me encher.
Alinho as fotografias todas. Vejo-lhes a cara. E escolho um. Ao acaso. Ao som do coração (porque não deixo de ser romântica, mesmo quando deixo de ser quem sou).
Ainda não lhe sei o nome. Não lhe conheço o cheiro.

Guardo a fotografia dele no bolso. Encho-me agora de esperança. E torno-me caçadora neste meu novo papel. Ele não me conhece a cara.
Hoje posso ser quem quiser
E eu quero ser dele… Sem limites e sem autorização. É assim que me crio de novo, para voltar a me abandonar um dia mais tarde. Quando a esperança desabitar o meu corpo.

Hoje sou dele… E serei dele para sempre. Porque no final eu fico sempre por lá.

Porque somos sempre dadivas na vida dos outros. Porque temos de nos saber dar, para um dia podermos receber.

Eu – soma de todos os eus que já perdi – continuo a espera de alguém que caia despropositadamente na minha vida. Como um (feliz) acaso. Uma dadiva. Que venha para ficar sem me pedir nada. Que me tire o sossego. O fôlego. E que me faça viver. Sonhar. Que me faça sua sem pedir.

Obrigada por teres vindo, obrigada por te deixares caçar. Hoje sou tua. E és sem duvida a dadiva que reservaram para mim.
Hoje posso ser quem quiser… Só não me posso perder mais.
Hoje sou eu completa. Em ti. Em mim. Como nunca.

28/11/2005

É assim que te deixo quando sei que não te deixo para sempre

Quando chegas, como se fosse sempre a primeira vez, trazes na mão os sonhos todos que me fazem adormecer.
E não te amo. Não te amo mais, já não sei amar mais.
E por isso, quando chegas, com os sorrisos todos do mundo e cheio de histórias de encantar, digo-te para voltares depois, noutra altura, noutro tempo.

E hoje é só mais um dia em que tu chegas, sem autorização, em que me roubas do mundo por um momento apenas

[porque a vida, meu amor, a vida é feita de momentos e enfeitada de sentimentos que fingimos conhecer]

Tu chegas, agarras-me com a violencia toda que te ensinaram, e nunca me magoas. Mesmo quando os teus olhos gritam de raiva, quando as tuas mãos se perdem no meu corpo. Não me magoas. Perdeste as forças para me magoar e eu perdi as forças para sofrer por ti.

E chegas, como se fosse sempre a primeira vez, e eu deixo-te brincar. Fazes de conta que es principe e que me vens salvar de qualquer coisa. Não há cavalos alados, nem banda sonora. Eu e tu.
Tu na tua vontade quase infantil de me fazeres tua e eu na minha vontade estupida de te fazer sonhar só mais uma vez, só para depois te ver cair. Como gosto de te ver no chão, meu amor.

Acabamos sempre a brincadeira exaustos. Tu exausto de me amar e eu exausta de te fazer cair. Não sei qual de nós mente melhor.
Não sei qual de nós terá razão.

Sei que me agarras, que me finges tua.
Sei que no final te deixo sozinho, numa cama qualquer sem cheiro, de corpo gelado e alma vazia.
É assim que te deixo quando sei que voltas amanha. E só por saber que voltas.

É assim que te deixo quando sei que não te deixo para sempre

15/11/2005

surpresas.....

Descubri em mais uma banal conversa de café que tenho uma inegável capacidade para me surpreender, reviver pessoas, encontrar virtudes onde sei haver defeitos, sonhar, percebem??
A questão é mesmo essa, só seremos felizes se virmos a não realidade, o sonho a cada esquina, a surpresa...
Surpreendo-me a cada folha caida, a cada olhar de soslaio, a cada nascer e por do sol, a cada riso de uma criança.....
Quero ver algo novo a cada passo, nunca saber o que vem porque ai acomodo-me e incrivelmente vivo na esperança de nunca me conhecer, de nunca te conhecer, de nunca saber como vou ou vais reagir...
Desconfortável? Sem dúvida que sim mas tão mais verdadeiro, sincero e glorioso...
Imaginem um mundo onde nada nos surpreende, nem sequer o riso de uma criança..
Teriamos menos risco, menos dor, menos choro, mas também menos alma, menos sonho, menos vida...
Sejamos então o que vier, de alma aberta, sentindo sempre que os sonhos são renováveis e capazes de ser melhorados, sem medo, sem prudência, batendo de frente, levando para traz mas sempre sabendo que um dia vai resultar, um dia vamos conseguir, vamos ser felizes....
Vamos ser felizes??? queria dizer-vos que sim mas nunca o saberei e se soubesse já não era surpresa e já não seria feliz, não correria atras de mim sem me querer conhecer...
Mais uma vez me vejo embrenhado num sei lá de letras e frases, sinto assim que chega a hora de vos deixar...
Surpreendes-me sempre amor.....

11/11/2005

O beijo

Ela andava sempre apressada, como se soubesse de cor todos os caminhos que podia tomar, como se o destino fosse uma enorme linha recta. Andava sempre assim e, normalmente, acabava por tropeçar, nos outros e tantas vezes nela própria.

Ele andava perdido, de mãos a abanar cheio de nadas. Tal marinheiro na tempestade. Rumo: Terra. Caminho: Indefinido. Sem pressa. Cheio de certezas de finais felizes.

E ela só queria que por uma só vez ele viesse a correr atrás dela. E que ela não o sentisse, não o ouvisse, não o cheirasse, que ela de forma alguma não o pressentisse. Ela só queria ser tomada de surpresa. E que por uma só vez fosse ele a correr atrás dela. Que a tomasse nos braços, num assalto. E de olhos fechados a beijasse. E que o beijo lhe trouxesse de presente o nome dele, num segredo.

[Sim, meu amor, os beijos têm nomes, de pessoas, e de todos os sentimentos. O teu, revela-te a cada segundo e tem nome de todos os sentimentos. Os bons, os maus, os que nos fazem crescer e ate daqueles que nos fazem ficar muito pequeninos. Os meus lábios só querem provar os teus. A doce amargura que te encerra. E deixar-te provar, por uma só vez, o suave veneno que me inunda.]

Ela só queria ser tomada de assalto. Dançar no ultimo compasso.
Ela só queria ser uma dádiva… Que fosse tomada. Roubada. Resgatada. Só queria que fosse assim. Pela vontade exterior de quem mora, afinal, tão cá dentro.

E na última nota, da banda sonora do momento desejado, ela só queria misturar o veneno com o amargo.

25/10/2005

Disse que morria quando nos visse morrer...
Ainda não morri e já não sei de nós. Disse tanta coisa que agora não importa que pouco há para dizer.

Não nos vi morrer, porque não morre o que não tem vida. E nós, hoje sei, nunca passamos de um nós inventado no desespero de nos tornarmos reais. Hoje alegro-me por nunca termos passado disto, de um sonho, de uma vontade inutil de existencia, por necessidade, por conforto, por nos acharmos perfeitos de tão imperfeitos que sempre fomos.
Hoje sei. E fico feliz por te ver longe. Por te ter longe. Por não te querer perto.

Hoje escrevo, porque já não sinto. E escrevo o que quis sentir.
Hoje invento um pouco mais da nossa história por saber que o fim já passou e que eu já nem me importo com isso.


Vi-te por lá, onde as gaivotas desenham corações e cantam ao vento as suas canções. Ias sozinho e eu não te parei. Ias sozinho e sorrias muito. Aprendeste a voar sozinho a ser feliz sozinho. E eu fiquei feliz. Por conseguirmos, finalmente, atingir a felicidade. Sem histórias. Sem desejos. Ias sozinho... A sorrir muito.
Não me viste, já não me ves mais. Ias com os sonhos todos nos olhos. Talvez por isso não me tenhas visto, porque eu já não faço parte desses sonhos e já não me importo, nem um pouco.
O ceu está muito azul, e o vento sopra fraco e nós voamos no mesmo ceu, na mesma felicidade com sonhos diferentes, com caminhos diferentes.
Somos finalmente livres das histórias que inventamos. Livres de nós. Somos finalmente nós. Eu e tu. Sem ligação, nem vontade nenhuma de cairmos outra vez no erro de nos querermos.


Vi-te por lá, sorrias muito e trazias os sonhos todos amarrados nos olhos.
Eu ia por lá... Mais minha que nunca.
Feliz...

17/10/2005

Lembram-me mil músicas e refrões para exprimir o que sinto a cada dia, sempre tentei ter uma música para cada momento, tornar eterno o irrepetivel e passageiro o que me faz sofrer...
Hoje só ouço uma, que me agonia e faz sentir frágil( doce palma, nem tu), q me inferniza e não me deixa pensar, agir ou mudar...
parece a valsa de um homem carente, uma feiticeira ou uma qualquer outra escrita por uma chaga....
Fogem os verbos e as metáforas, rendo-me ao teclado e escrevo de dentro d uma alma, não vai ser lindo, poético ou carinhoso e terno. Apenas o partilhar com alguém o que nem sei ser meu...
A cada momento relembro uma frase de um refrão, aquela frase, aquele refrão...
Disse em tempos que queria ter sido eu a inventar essa frase, que era a melhor de todas, uma alma nua.
Agora na solidão em que me encontro so queria que ela não existisse para eu não a querer ter inventado, fura-me as entranhas, sei que a vou escrever no fim do texto e por isso o alongo interminavelmente para não ter que a escrever...
Porquê palma???
porque tens que ter sempre razão?
Podia ser o só ou a fragil, o jeremias ou o tempo dos assassinos.....
podia não ser e seria bem mais facil, menos doloroso, mais conveniente...
parei 5 minutos para um cigarro ouvindo a mesmo infernizante música, ela não vai embora ao contrário de quem amo, a ela não a desiluso ou magoo, não me diz que tou errado ou faz pensar que estou certo,
ÑÃO LHE MINTO....
parei 15 minutos, pa conversar com um colega que nada sabe, só a música sabe, só ela me conhece neste momento, só ela e tu...
Mas a ti não te tenho e ela não me larga...
PARA NUNCA MAIS TENTAR MENTIR....

12/10/2005

Emaranhado de mim

Selei num segredo os momentos todos do mundo. Guardei por lá as horas certas. Os beijos. As promessas. Num segredo que murmurei ao vento em tom de brincadeira.
Chovia. Chovia muito e o céu era muito cinzento. Decidi que era hora. E embrulhei-me toda em palavras. Fiz um segredo do tamanho do mundo e contei-me ao vento. Ninguém ouviu. A chuva era forte. E o meu grito foi abafado pelos sons do mundo. Gritei baixinho. Gritei muito. Gritei muito alto.
Nada.

Embrulhei-me num segredo que ninguém ouve, que ninguém quer saber. E agora vejo-me fechada em mim. A tropeçar nas linhas que inventei. Cheia de enredos e de histórias encantadas que eu não vivi.
Vejo-me por cá. Longe do mundo, longe de mim. Num segredo que me apaga aos poucos e que já não sei confessar. Perdi as forças para gritar. Ou então perdi a vontade de me mostrar.
Eventualmente ninguém me quer saber.
Por isso, hoje, sou só eu neste meu segredo, estúpido, cheio de mim que me apaga aos poucos e que me faz menos eu.

Um dia tropeço em mim, num canto qualquer onde fiquei a dançar numa balada sem fim, e fico por lá, no sítio dos segredos a ver-me dançar. Ate ao amanhecer, ou o resto da vida. E esqueço-me de mim, do que fiz de mim… Do que quiseram fazer de mim.

É fácil viver a sonhar, com os pés longe do chão frio…
Alegremente livres… Tristemente sós…

08/10/2005

Tipo folha... Tipo nada

Sinto-me, indiscutivelmente, inútil. Como as folhas, afinal, que cansadas do verão se deixam cair no chão. É tipo folha mesmo. Em queda permanente. Em voo descontinuo, marcado pela bondade do vento. Tipo folha. Seca. Quase morta.
Não que sofra de algum mal indubitavelmente sério. Ou de um qualquer mal banal. Não sofro de nada. Desaprendi de sofrer… E, drasticamente, desaprendi de sorrir. Foi inevitável a anulação dos sentidos. A quase anulação de mim. A quase total anulação de mim. Pouco importo. Desaprendi de sofrer e por isso hoje sou inútil e não sofro por tal.
Sou folha, seca, quase morta, em queda permanente. Eventualmente nem sou nada disto, porque as folhas não são assim tão inúteis como eu.

E eu sonho. E não vejo as folhas a sonhar. Não que alguma vez alguém me veja a sonhar. Mas eu sonho. Juro que sonho. E sonho muito
Mas sou inútil. Os sonhos são inúteis… E as noites em branco também.

Tipo folha que voa ate cair ao chão.
E morro devagar numa queda permanente a que os optimistas chamam de voar. Ate ao dia em que bato duro no chão e perco de vez os sentidos e deixo de sentir que sou inútil.
No dia em que os sonhos acabam.
E deixo de ser tipo folha e passo a ser tipo nada…

29/09/2005

Que se lixem as poesias. Os textos bonitos. As histórias encantadas. Que se lixem as princesas e as fadas. Que se lixem os finais felizes.

O mundo não é bonito, nem feliz na sua generalidade.
A vida não é fácil, nunca ninguém disse que era. Mas também ninguém me disse que era tão difícil. A vida também não é bonita. Nem tão pouco feliz. A vida é dia. É noite. É qualquer altura onde existe ser. Onde pode ser. Onde tem de ser. A vida é morte lenta. É sorrisos. É flores. E é um montão de coisas bonitas que sem as coisas feias não seriam bonitas. E a vida é isso. É morte lenta. É o outro lado do dia sem ser noite. É a tristeza. As lágrimas. E um montão de coisas feias. A vida é tudo. E quase nada. Tão pouco que não chega a nada.



A vida é morte lenta…
Quero-me esquecer de acordar. E fingir que a noite é eterna. Que a luz se apagou infinitamente num sopro estranho que me gelou a alma.
E morrer devagar, como uma vela que chega ao fim. Sem o sol para me envergonhar. Sem medo de não acordar. Por saber que é eterna a noite, ou a cegueira, ou a falta de luz e de calor.
Vazia.
Casca vazia ou coisa nenhuma.
Fim
Fim ou nada
Tudo ou nada
Tudo e nada
Coisa vazia
Quase ninguém.

24/09/2005

confusões

na simplicidade da tua consciência e frontalidade de pensamento encontrei a paz..........
admiro-te pela fragilidade do pensamento, por seres volátil e indecisa, pela força a intensidade da opinião, pela resposta rápida e justa, pela personalidade incerta mas certa, rapida mas inconstante, pos saberes como dizer e fazer e nao o saberes assim tanto, por sim e não..
pelo doce e amargo, por tudo e nada, por não te perceber e saber como pensas, por dizeres tudo quando não dizes e por falares tanto que me fazes não perceber nada...
Admiro-te por não seres igual a ti e por seres tão transparente, por migrares para longe e me exigires tão perto, por me fazeres sofrer e por me sentir amado, por ser e não ser, por ter a certeza que contigo ficarei mas a cada momento ter medo de te perder, por estar bem mas saber que fica algo por dizer, por seres sincera e ocultares , por arriscar mas sempre com todas as cautelas, SUAVE CONSTANCIA INCONSTANTE QUE ME TOLHE A ALMA...
AMO-TE

KIKO...

22/09/2005

Pouco importa

Cruzo os braços e arrasto os passos. Não desisto. Eventualmente, nem há nada para se desistir.
Não se criou nada.
Nada.

Vendo bem pouco importa agora. Os traços apagaram-se com o tempo. Sobram uns rabiscos, uns esboços de tudo o que tínhamos para construir. As coisas que nunca realizamos. Aquelas que pouco importam agora.
Pouco importa o tempo. As horas. Os dias. E ate os anos. Agora… Agora que já nada há, nada importa.

Que se lixem os passados, as histórias (encantadas ou não), que se lixem os sonhos, as mentiras.
Que se lixe o amor…
Cruzo os braços e arrasto os passos. Pouco importa.
Que se lixe o amor… O amor que não sinto só porque alguém o inventou para mim.
Que se lixe o que eu inventei… O que eu disse… O que eu não tive coragem de construir…

E ter a alma nos olhos que não querem olhar mas que não deixam nunca de ver. E ter os sonhos nas pontas dos dedos prontos a contarem uma história.
E ter vida. Muita vida. E ter esperança…
E coragem.



Cruzo os braços e arrasto os passos. Pouco importa.
Não é este o caminho que escolhi.

E ter vida
E coragem



Mafalda Veiga - Fragilidade

Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós de precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto pra se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade

Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

É tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve.

12/09/2005

Assim...

Assim

Hoje, e só hoje
Olha-me
Como se fossemos duas crianças
Abre muito os olhos
Como só tu sabes fazer

Assim


E diz que me amas

Assim



[Hoje as gaivotas voaram meias perdidas num ceu azul novo, quase branco, e cantaram, cantaram muito, tanto que já não se ouviam]

11/09/2005

(Re)Começa...

Há um dia em que se deixa o mundo morrer.
Assim como quando o sol cai desamparado no mar.
Ninguém sabe muito bem como as coisas se passam e ninguém consegue controlar. Há um dia em que o mundo desaba e ninguém repara. E nesse dia perdemos as horas, ou perdemos o motivo da espera. Perdemos o rumo, ou perdemos o motivo para caminhar.

Sem chão. Há dias que ficamos sem chão. Sem horas. Sem caminhos. No dia que o mundo morre.



Recomeça…

Como se fosse o primeiro dia. Escreve a primeira letra do poema e reinventa a tua vida. Numa melodia. E canta. Canta muito.
Faz uma peça. Ensaia. Pinta muito a cara e faz-te outra personagem. Transforma. Sobe ao palco e dança. Dança muito ou faz que danças.
Há dias para recomeçar mesmo quando acabam os dias.
Inventa uma nova história e faz-te personagem. Vive. Num palco encantado. E de vez em quando chora um bocado e torna-te mais real.

Termina…

Escolhe o teu final. E espera pelas palmas. As merecidas e as compradas.
Faz de conta que o mundo morreu ali e…

Recomeça…

Inventa uma nova peça…


E um dia o mundo começa. As horas voltam a correr. Carrossel de horas para viver. Voltamos a pisar um chão qualquer. As melodias voltam a ser abraços.
Descemos do palco.


E tudo

Recomeça...

02/09/2005

Faz segredo (II) - A explosão

Houve uma grande explosão da qual ninguém falou.
Uma explosão universal, das coisas banais. Uma explosão sem nome, sem definição.
Um rebentamento natural de nós no mundo. Tão natural que fomos acusados de atentado contra o pudor.
Houve uma explosão. Uma explosão do nosso tamanho. E podes crer que somos grandes, tão grandes como aquilo que temos dentro de nós.
Ninguém se assustou com tamanha explosão. Não houve barulho, nem brilho, nem coisa nenhuma fora do normal.
Foi uma explosão normal de coisas banais. Foi uma explosão natural.
Foi um rebentamento universal do que nos enche a vida, do que nos molda a alma.

Ninguém se apercebeu. E ninguém sabe ainda que explodimos naturalmente. Não contamos a ninguém.
Ninguém saberia entender o que se passa quando explodimos de dentro para dentro. Numa explosão interna de alma. De mim para mim. De ti para ti. De mim para ti. De ti para mim. Ate quando já não sabemos quem sou eu e quem és tu.
Numa explosão sem cor. Sem dor.

Houve uma explosão. Uma explosão universal. Do tamanho do que temos dentro de nós. Ninguém viu. Fizemos segredo. Eu e tu, confusos num nós misturado pela força da explosão. Os únicos feridos somos nós. Sem arranhões. Sem sangue. Sem dor.

Fica só a marca de uma grande explosão da qual ninguém falou.

…Não fales ainda. Faz segredo

[Nunca tem sentido dar destino as palavras eternas, porque os destinos são mortais. Mesmo assim não posso deixar passar ao lado o ser que se imortaliza em mim por me ensinar o significado das grandes explosões, e das coisas todas sem sentido. Sem nome. Que me ensina sem querer a ver as coisas de um outro prisma.
Continuas sem nome, porque o teu nome é mortal.]

30/08/2005

(Re)definir

Falei-te do vento? Já te falei do vento e do vendaval que há em mim? Falei-te das tempestades? Falei-te dos dias cinzentos? Falei-te da chuva? Já te falei da chuva e das lágrimas que me escorrem pelo rosto? Falei-te do céu? Já te falei da grandeza do céu? Da natureza? Das coisas naturais? Falei-te das noites? Da lua? Das estrelas? Já te falei das estrelas que trago amarradas aos olhos? Falei-te do sol? Falei-te do vento? E do vendaval que há em mim? E da chuva? Das lágrimas? Das estrelas que trago nos olhos?
Já te falei de mim? Já te falei da natureza que há em mim? Já te falei da minha grandeza? E da minha pequenez? Falei-te de mim? Dos meus dias cinzentos? Dos meus dias de sol? Das minhas noites com as estrelas nos olhos? Dos dias com as lágrimas na cara?

Falei-te do vendaval que há em mim?
Da confusão. Do turbilhão de cores. De sentidos. Falei-te de sentidos? De cheiros. De sabores. De prazeres. Falei-te de prazeres? De desejos.

Falei-te de mim? Já te falei de mim e do que há em mim? Falei-te de amor? Falei-te de sonhos?

Fala-me de ti… Em tom de brincadeira. Como se uma criança ainda existisse por ai. Como se te acreditasses que falas para uma criança. Fala-me de ti, na pureza das palavras sem significados. Fala-me de ti a rir. Como se fosses uma piada. Como se tivesse piada falares de ti. Como se não fosse uma coisa seria. Fala-me de ti…
E fala-me do mundo. E de sentidos. E de coisas naturais. Fala-me de sonhos. Fala-me em sonhos. E fala-me dos outros e das coisas dos outros. Das anti-naturais. Fala-me devagar. Em tom de brincadeira.
Fala-me de ti, do mundo, dos sentidos, dos sonhos, dos outros. Fala-me de tudo.
Tenho a eternidade para te ouvir…
E tiro desde já os conceitos e as definições. Volto me vazia. Criança pequena. Com desconhecimento total do conhecimento das coisas. E peço-te, estupidamente, que me fales de tudo. Como se fosse a primeira vez que, realmente, falas para alguém. E eu lavo os ouvidos das palavras todas sem significado e encho-me das tuas definições.

Já te falei de mim? Dos sonhos? Da vontade toda de te ouvir? De aprender? De me recriar nas tuas definições? No teu mundo?

Já te falei na vontade de ser tua?

De ser tua… desde sempre e sem conceito.

29/08/2005

O cheiro das cores

Disseram-lhe um dia que as nuvens eram as almofadas dos anjos.

E ela dormia sobre as nuvens…



Dizem que sou menos capaz que os outros. Não sou. A prova disso é que estou aqui. Tenho 19 anos. Tenho os sonhos todos presos nas pontas dos dedos. Sim sou mortal. Sou limitada e um pouco diferente do conceito “normal”.
Bem sei que tenho menos hipóteses na vida, mas não é por falta de capacidade é por falta de meios e de apoio.

Nasci cega. Não é segredo. Vou morrer cega. Não é vergonha.

Tenho 19 anos e tenho consciência de um mundo que não conheço.

Falaram-me de um planeta azul e de uma estrela muito brilhante.
Falaram-me de cores…
Eu falei-lhes de cheiros, de sons, de texturas. Ninguém me percebeu muito bem.
Falaram-me de imagens… de cores…
Perguntei-lhes o cheiro das cores, dissera-me que as flores é que têm cheiro não as cores.
Perguntei-lhes o cheiro do dia, da noite, da lua, da terra…
Só me sabiam dizer cores.

Um dia sentei-me num banco de jardim, atenta a ver o mundo. A ver as suas cores, aquelas que conseguia cheirar.

Percebi o cheiro da terra aquecida pelo Sol, percebi o cheiro frio da lua e da chuva, percebi o cheiro a sal do mar e o cheiro de cada pessoa.

E percebi…


Recomeça

Disseram-lhe um dia que as nuvens eram as almofadas dos anjos.

Cheiravam a sonho…

E ela pintou as nuvens com as cores que aprendeu…

26/08/2005

Faz segredo

Ela queria ser pássaro, ter a alma no vento. Inventar histórias e fazer bonecas. Ela queria voar, descompassada do tempo. Sem tempo. Queria mentir sempre, moldar sempre a realidade e viver no mundo encantado das princesas dos contos de fadas.

Ele queria ser marinheiro, ter a alma no mar. Inventar amores e fazer momentos. Ele queria navegar, perdido da terra. Sem terra. Queria sorrir sempre, moldar sempre a realidade e viver no mundo encantado dos que não têm medo de naufragar.

Eles não marcaram encontro, nem acertaram as horas dos relógios de todo o mundo.
Eles não se procuraram. Não se preocuparam.
Tinham as horas certas pelo coração, pelo compasso da vida.

E houve um dia… Um dia igual. Um dia que não se repete.

Tinha as asas sempre abertas, os olhos no mar.

Tinha as mãos no leme, os olhos no céu.

Tinham tempos diferentes, angústias diferentes. Um sorriso igual de quem é feliz por se inventar.
E houve uma explosão… Uma explosão natural. Uma explosão que não se repete.

Sem enredos de contos de fadas, sem horizontes. Encontraram-se por acaso na hora certa, quando os seus relógios batiam ao mesmo ritmo.
Não trocaram promessas para se quebrarem com o tempo. Não fizeram planos para se iludirem com o futuro.

Ele sonhava poemas de encantar
Ela cantava baixinho poemas de sonhos de encantar para não o acordar.

Houve um dia… Um dia de uma grande explosão.

Os sonhos escaparam-se pelos dedos. Fizeram segredos



Shiuu... Não fales ainda. Faz segredo.

24/08/2005

Se te vejo....

Se te vejo hoje caio, morro, vibro e adoro...
Sim meu amor, chegas hoje e ansiosamente espero o teu beijo, o teu toque, tudo o que sei ser meu mas que me faz tremer as pernas no medo de te perder...
Sim meu amor, hoje é o dia...
Sim meu amor, sei ser para sempre teu mas preciso de te vee para te sentir minha, para te ouvir dizer que me amas....
Sim meu amor, ansiosamente aguardo este infinito fim de dia que nos alcançou( eternos toranja))..
Sim meu amor, esse fim é nosso, um fim onde nos levaremos para sempre juntos...
Sim meu amor, espero ouvir-te dizer que só me queres a mim...
Sim meu amor, sou teu, para sempre, fazendo contigo esse sempre..
Sim meu amor, sou quem ninguém sabe que sou, amante completo e viciado em ti, sabendo que por muito que digam que o joel vai voltar não o vão conseguir porque o joel está aí. CONTIGO...
Sim meu amor........



kiko

10/08/2005

Qualquer parvoíce que escreva aqui é só para dizer que me vou ausentar mais uma vez.

Seja saudade cada passo dado para longe. E seja regresso sincero cada sonho.
Seja medo de te perder cada calafrio. E seja desejo de te ter cada arrepio.
Seja tristeza cada lágrima salgada. E seja alegria cada palavra trocada.

Que seja importante a distancia. Que seja importante o regresso.



Que seja importante a importância de nós nas coisas menos importantes.


Madredeus - Haja o que houver
Haja o que houver
Eu estou aqui
Haja o que houver
espero por ti

Volta no vento ò meu amor
Volta depressa por favor
Há quanto tempo, já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor...

Eu sei quem és
pra mim
Haja, o que houver
espero por ti...

Há quanto tempo, já esqueci
Porque fiquei, longe de ti
Cada momento é pior
Volta no vento por favor

Eu sei quem és
pra mim
Haja, o que houver
espero por ti...

09/08/2005

Qualquer coisa indefinida

As luzes dos candeeiros apagaram-se todas e do céu surgiram as estrelas. As casas desapareceram perdidas no horizonte e deram lugar a uma coisa indefinida de cor verde e castanha de uma natureza tal que não o posso definir por palavras inventadas.
Fica então indefinida a situação que me levou a escrever o texto. Assim seja.

Tudo começa na indefinição.
Perdi dias para me perder, perdi-me nos meus objectivos e não me cheguei a perder.
Indefinida a minha situação.
A lua não existiu esta semana. O que não me ajudou a distinguir a noite do dia.
Não existiu lua. Nem vento. Nem coisa nenhuma para me distrair na minha indefinição.
Perdi-me a correr no meio de campos secos, de campos verdes, de campos azuis e de nuvens de algodão doce. Não me perdi, já tinha dito que não me perdi. Mas queria perder-me, só um bocadinho. Só que a limitação da perda torna-a inexistente. Logo não me perdi quando só me perdi um bocadinho.

Baralhei tudo e a indefinição passou a ser confusão.
Fica então confusa a situação que me levou a escrever o texto. Assim seja.

Tudo começa na confusão.
Sei que não havia casas, nem candeeiros, nem rostos desconhecidos.
Sei que me perdi um bocadinho de mim. Sei que me queria perder mais. Sei que não consigo me perder quando sei que me perco. Não sei por onde andei, nem sei bem porque. Sei que gostava de ter gostado mais.
Não percebo porque não gostei se queria gostar.
Não percebo porque queria gostar se não gostei.
Mas a razão de tudo isto é mais simples do que tudo isto afinal.

E então a confusão passa a ser uma coisa simples
Fica então simples a situação que me levou a escrever o texto. Assim seja.

Tudo começa nas coisas simples.
É simples perceber que...
Só não consigo definir as coisas porque a natureza é algo indefinido.
Só são confusas porque faltavas lá tu.
Só se tornam simples quando percebo que por mais que me queira perder no meio de tudo, não me consigo nunca perder de ti.

“Eu trago te comigo
e sinto tanto, tanto a tua falta”

E, afinal, és só qualquer coisa indefinida, de tão natural que és em mim.

05/08/2005

As esperas não se prometem, não s esperam ou repetem. acontecem apenas...
Mas muitos esperam sem nunca alcançar sabendo que essa espera os mantem vivos. O raiar do sol mostra-lhes isso assim como mostra toda a angústia de uma existência tolhida pela não saber se essa espera traz com ela(misturada com um pouco de magia) o alcanse pretendido...
Para quê esperar se te tenho aqui e agora? Para quê esperar se sei seres minha e eu teu?
Pq entendi este texto não ser só pa os que te lêm mas também para mim?
Sabes que me tremem as mãos neste teclado ao escrever em espaço de prosa tao requintada e sensual? sinto-me estranho, sei que não vou corresponder a enorme dose de poesia que engrandece a tua escrita, sei que não vou por letras, frases e texto conseguir faze-los ver um por do sol, uma mãe com sua filha pela mão, um velho d jardim vendo o final dos dias.
Sei que não vou conseguir, que vão correr á procura de um novo comentário d uma gaivota terna e meiga e que se deparam com este. dirão assim meu amor.
engraçado! diferente! audaz qui ça!
pensarão assim..
volta gaivotinha, traz-me o meu por do sol....
respondendo a tua pergunta..
sim. eu espero meu amor


KIKO

29/07/2005

Deveria haver uma forma certa para se dizer adeus. Sem magoar. Sem puxar lágrimas.
Deveria haver uma formula qualquer anti-sofrimento.

Mas não há…
E por isso sei que mais uma vez o meu caminho são lágrimas deixadas para trás. São passos não pensados, que trazem a dor agarrada.
É sempre assim quando escolho partir.
E hoje escolho partir, para poder um dia voltar.
Ainda tenho muito para dizer, muitas palavras para escrever, muitas lágrimas para chorar, aqui. Ainda tenho promessas para cumprir. Abraços para dar. Sorrisos para distribuir. Ainda tenho muito de mim para dar, aqui.
Por isso hoje decidi partir com a vontade toda de voltar.




Esperas por mim?

24/07/2005

Dizer-te não

quero deixar de ver estrelinhas onde só há nevoeiro
quero deixar de desenhar corações com os dedos no teu corpo
quero deixar de sonhar com os pesadelos do amanhã

quero dizer-te que não

deixou de haver espaço para mim debaixo dos teus pés
larguei as asas para te acompanhar, num passo incerto que não me levou a lado nenhum
abandonei o tempo para deixar de não ter tempo para ti, ou para esperar por ti

sei agora que tudo foi em vão. sei que afinal eu nem te queria tanto assim, porque não se pode querer o que já se tem, eras meu por imposição da vida, dos caminhos, por imposição divina, de quem não vê por dentro de nós
larguei as asas para te acompanhar, num caminho sem fim que eu afinal nem queria percorrer
fui tua. Sim fui tua. quis ser tua por saber que não seria para sempre. quis acreditar que seria para sempre. Apesar de não ser sempre.

Não conseguimos cantar juntos. Nem dançar juntos

quero dizer-te que não

já não há inevitabilidade que nos junte, já não há horas certas, nem caminhos de encontros, já não há futuro, nem coisa nenhuma que se pinte de sol. De nós aqui restamos nós. Eu e tu. Sem planos. Nem desejos. Nem coisas bonitas para se dizer. Sem olhares. Sem compassos certos. Sem banda sonora. Eu e tu.

Separa-nos agora o tempo que se esgotou. Separa-nos as lágrimas que nunca foste capaz de chorar. Aquelas que eu chorei por ti. Separa-nos os sorrisos todos que queremos guardar. Separa-nos um oceano de prazeres, que já não desejamos. Separa-nos um compasso trocado e um passo errado.

Não sei qual de nós escolheu o fim. Nem porque nos apeteceu tanto não sofrer.

Sei, como sei o Sol, que nos separa qualquer coisa que nunca mais nos pode juntar. Separa-nos o fim de nós no esgotamento natural dos sentimentos. No esvaziar das palavras sem sentido.

chega de coisas bonitas
chega de promessas perdidas
chega de ouvidos vazios
chega de nos inventarmos quando afinal nem nos queríamos
chega de beijos em troca de fingirmos desejos

o meu caminho não é por aqui e sei que o teu passa por uma lagoa azul lá na terra do sol.
o meu é mais céu.


Voltou a colocar as asas.
Percebeu que nunca é tarde para se tentar mais uma vez.
Subiu a uma rocha pendente sobre o mar.
Respirou fundo.
Abriu as asas…


…E voou


é assim que me quero amanha. De asas abertas. De olhos no mar. de sonhos vazios para poder voltar a acreditar no amor. Só longe de ti, querido. Só longe de ti posso voltar a amar.

… E voar

E dizer-te não só mais uma vez… A última vez…


Da Weasel - Força

Tás a sentir
Uma página de história
Um pedaço da tua glória
Que vai passar breve memória
Tamos no pico do verão mas chove
Por todo o lado
Levo uma de cada
Já tou bem aviado
Cuspo directo no caderno
Rimas saídas do inferno
Que passei à tua pala
Num tempo que pareceu eterno
Tou de cara lavada
Tenho a casa arrumada
Lembrança apagada
Duma vida quase lixada


Passeio na praia
Atacado pelos clones
São tantos iguais
Sem contar com os silicones
Olho para o céu
Mas toda a gente foi de férias
Apetece-me gritar
Até rebentar as artérias


(Respiro fundo)
E lembro-me da força
(Guardo dentro do meu corpo)
Espero que ela ouça

Todo o amor deste mundo
Perdido num segundo
Todo o riso transformado
Num olhar apagado
Toda a fúria de viver
Afastada do meu ser
(Cansado de viver)
Até que um dia acordei
(E logo desesperei)
Vi que estava a perder
Toda a força que cresceu
Na vida que deus me deu
A vontade de gritar bem alto:
"O MEU AMOR MORREU"

Todo o mundo há-de ouvir
Todo o mundo há-de sentir
Tenho a força de mil homens
Para o que há de vir


Flashback instantâneo
Prazer momentâneo
Penso e digo até
Que bate duro
No meu crânio
Toda a dor
Toda a raiva
Todo o ciúme
Toda a luta
Toda a mágoa e pesar
Toda a lágrima enxuta
Odiando como posso
Não posso encher a cabeça
Não há dinheiro
Nem vontade
Ou amor que o mereça
Não vou pensar de novo,
Vou-me pôr novo
Neste dia novo
Estreio um coração novo

Visto-me de branco
Bem alegre no meu luto
Saio para a rua
Mais contente que um puto
Acredita que custou
Mas finalmente passou

No final do dia
Foi só isto que restou


Todo o amor deste mundo
Perdido num segundo
Todo o riso transformado
Num olhar apagado
Toda a fúria de viver
Afastada do meu ser
Até que um dia acordei
E vi que estava a perder
Toda a força que cresceu
Na vida que deus me deu
A vontade de gritar bem alto:
"O MEU AMOR MORREU"
Todo o mundo há-de ouvir
Todo o mundo há-de sentir
Tenho a força de mil homens
Para o que há de vir
Vai haver um outro alguém
Que me ame e trate bem

Vai haver um outro alguém
Que me ouça também
Vai haver um outro alguém
Que faça valer a pena
Vai haver um outro alguém
Que me cante este poema
"

19/07/2005

Eternas poesias... Eternas melodias

Há momentos que se querem eternos.
Há momentos que se querem eternos por serem eternas poesias. Eternas melodias.

Sei que nada se repete, que nada se promete. Mas há momentos que se querem eternos, como se as pessoas fossem eternas, ou como se os dias o fossem por si só… eternos.

Eternas são as teias que arquitectamos para nos prendermos [ou para nos perdermos]

E se não te sei guardar para sempre naquele sítio, naquela hora, naquele momento, que te guarde para sempre no lugar dos segredos, no lugar de todos os enredos.

Que faça da tua memoria uma nova melodia, com todos os compassos adiantados.
Que faça do teu corpo um desenho meu, com todos os traços errados.
Que faça da tua alma uma nova poesia, com todos os versos trocados.

Que se faça silencio quando a minha banda sonora é o bater do teu coração… A mais bela de todas as melodias.

A eterna melodia da vida que há em ti…

A mais doce…

A mais justa…
A mais sincera…


Poupa as palavras e deixa o teu coração me embalar…
Em momentos que se querem eternos por serem eternas poesias. Eternas melodias.

E deixa-me sonhar…

18/07/2005

Um dia eu cresço

É deste vazio sombrio onde me fecho que me abro. É daqui, onde não me vejo, que me consigo escrever.
É desta noite sem luar. Deste ar de verão. Deste céu nu de preconceitos. É deste cheiro a mar. Ou então não é de nada disto e sou só eu a delirar.
É de qualquer coisa de dentro de mim que já não me cabe. Ou já não me serve. É do rebentamento de uma onda, de dentro para fora, como no mar. Uma onda de mim.
É daqui que vos escrevo. De dentro de mim, onde não me consigo ver, mas me sinto demais. Tanto que já não me chego.

Não há papel que me cale agora que tenho as mãos vazias.

Sei que qualquer que seja o meu caminho dificilmente será o caminho certo. Isto porque sei que nasci para errar. Não por ser humana, mas por ser erradamente sentimental.
Sei que o meu caminho não tem fim. Que é uma busca constante.
Sei que não sei parar.
Sei que qualquer perfeição é facilmente substituída por outra perfeição maior.
Sei que os sonhos se tornam pesadelos depois de realizados.
Sei que tenho asas nos pés, e que não sei voar.
Sei que sempre que estiver bem vou procurar estar melhor.
Sei que normalmente esta busca me corre mal, sei que tropeço, sei que me arrependo, sei que vou deixando sempre para trás parte de mim, mas nunca sei o caminho para voltar.

… Sei que um dia me arrependo…
Mas hoje é só mais um último dia.

Sei que não consigo evitar. E que vou sempre partir quando quiser ficar.
Sei que um dia me canso. Sei que um dia me aborreço e cresço.

Meu desejo é morrer na paz do teu beijo, sem futuro é lutar por um beijo mais puro

15/07/2005

Se me perdi tantas vezes
Era porque ainda me precisava de achar
Se ainda não me achei
Não me precisas de procurar
Se me perdi tantas vezes
É porque andei tantas vezes a tua procura
Se não te achei
É porque ainda te vou encontrar
Se me vires desesperar, desanimar
Se me vires perdida e a chorar
Podes fazer de conta que não me viste
Enquanto estiver perdida
Não serei tua
Nem minha
Nem de ninguém que me saiba amar
Enquanto estiver perdida
Serei uma casca
Vazia
Quando me achar
Quando te achar
Quando nos achar
Juntos
Num nós bem nosso
Podes largar as amarras dos barcos todos
Podes fazer tocar os sinos todos
Podes subir aos montes todos
Podes libertar os sonhos todos
Quando me achar
Quando te achar
Quando nos achar
Juntos
Num nós bem nosso
Juro não me perder mais
E quebro a promessa no minuto seguinte
E perco-me…
Para sempre
…Nos teus braços


Meus sonhos os teus serão
Teus sonhos os meus serão

11/07/2005

Quem és tu de novo?

Não sei o teu cheiro, nem perguntei o teu nome no dia que chegaste com pressa. Sem pressa de sair.
Não voltaste, porque no fundo nunca chegaste a partir.
E se nunca partiste… Se nunca voltaste… Não sei porque me parece sempre ser a primeira vez que te vejo quando chegas entre as sombras e a luz do sol.
É como se fosses novo todos os dias. Como se o Sol fosse teu. Como se o Mundo girasse no compasso do teu passo. Tu não entendes…
Não te amo para sempre. Porque amanhã sei que te vou trocar por ti.
Vou me voltar a apaixonar. Vou voltar a sonhar. Vais me ensinar a voar. Fazes isso todos os dias e todos os dias começamos de um zero mais à frente.
É como se a descontinuidade de nós nos fizesse mais certos. Mais nossos. É como se nos entregássemos de novo todos os dias, como se ainda nada tivéssemos trocado. É como se fossemos sempre iguais na nossa desigualdade. Como se tudo fosse nosso sempre pela primeira vez.
Conhecemo-nos em cada encontro. E nunca te perguntei o nome. Nunca te decorei o cheiro, porque sei que amanhã vens diferente e eu tenho de estar de portas abertas para me apaixonar por ti.
Podes voltar amanhã.
Tu não voltas. Renovas-te. E apareces. E eu apaixono-me e peço sempre para não partires. E tu não partes mas nunca ficas.
Não me vou apaixonar por ti para sempre.
Mas vou sempre apaixonar-me por ti.



Jorge Palma – Quem és tu de novo?
Quando a janela se fecha e se transforma num ovo
Ou se desfaz em estilhaços de céu azul e magenta
E o meu olhar tem razões que o coração não frequenta
Por favor diz-me quem és tu, de novo?

Quando o teu cheiro me leva às esquinas do vislumbre
E toda a verdade em ti é coisa incerta e tão vasta
Quem sou eu para negar que a tua presença me arrasta?
Quem és tu, na imensidão do deslumbre?

As redes são passageiras, as arquitecturas da fuga
De toda a água que corre, de todo o vento que passa
Quando uma teia se rasga ergo à lua a minha taça
E vejo nascer no espelho mais uma ruga

Quando o tecto se escancara e se confunde com a lua
A apontar-me o caminho melhor do que qualquer estrela
Ninguém me faz duvidar que foste sempre a mais bela
Por favor, diz-me que és alguém, de novo?

07/07/2005

E morrer por ser preciso, nunca por chegar ao fim

A vida é uma corrida contra o tempo. Quando percebemos que ganhamos alguma coisa já a gastamos, ou já a perdemos. Quando percebemos que ganhamos uma batalha, já se deu inicio a outra.
Há pouco tempo para perder tempo. Ou nenhum. Há pouco tempo para pensar no tempo que temos. E não temos tempo para nada, porque perdemos sempre tempo em tudo.
E de um momento para o outro, em escassos segundos, uma mão e uma lâmina, uns olhos vorazes e um coração frio, de quem já não sabe mais amar.

Parei os relógios todos do mundo. Como se o mundo não fosse acabar amanha. Ninguém me disse a hora certa do holocausto, mas sei que é próxima.
Por isso parei os relógios todos do mundo. Para ter tempo de me imortalizar.
Vou espalhar-me no mundo, em lágrimas escorridas de verdade.
Eu morro.
E morro aqui, numa hora qualquer. Num desejo desconexo de alguém me ver morrer pelo prazer do meu sangue. Imortalizo-me na hora da minha morte. Entro nas vísceras do meu assassino e por lá morro devagar. Numa imortalidade lenta de mim.
A minha morte será a minha salvação. E vem da mão de quem não me sabe odiar.
Vejo a lâmina afiada. Vejo o tempo parado e nem assim vejo tempo para mim.
Sei que não me arrependo. Sei que vou morrer da maneira certa. A mais amada de todas. E nas mãos de quem já não me sabe amar nem odiar. Deveria ter raiva? Não tenho. É assim que o meu maior inimigo me oferece a purificação da alma e vou ser eterna nas veias dele, quando ele satisfizer o seu desejo mórbido de me sugar o sangue. Terá assim a minha alma liberdade para voar…

E não, não é preciso ter corpo para ter asas, nem asas para voar. É preciso ter a liberdade de todos os sonhos e de todas as mortes apontadas pela hora em que o sol se junta ao mar.
Morremos todos os dias pela mão de quem amamos, numa entrega incondicional que nos imortaliza e nos faz voar.

Que me perceba quem já morreu em noites sem horas… Quem morre todos os dias…

“E morrer por ser preciso, nunca por chegar ao fim”

29/06/2005

Dei voltas. De braços esticados, abertos. De olhos fechados, ensanguentados.
O relógio não deu horas. O sol não nasceu. As estrelas partiram e o céu ficou vermelho. Fora isso. Fora eu. Uma arvore. Um canto, sem edifício. Uma paragem. Uma bolinha de sabão.
O autocarro não passou. Eu não esperei. Fui a pé. Não havia caminho e a arvore era agora um baloiço pendurado numa nuvem cor de laranja que estava imóvel no céu vermelho.
A mim só me apetecia parar. Tinha os pés cansados dos caminhos todos sem fim. Das escolhas desacertadas. Mas o chão fugia-me a cada passo e todo o terreno era inseguro.
Agarrei-me à bolinha de sabão e subi até à nuvem cor de laranja que segurava o baloiço que só agora notara ser em forma de sol. Sentei-me na nuvem. Puxei o baloiço para cima. Agarrei no sol e atirei-o ao céu. Ele prendeu-se no manto vermelho, clareou. Comi a nuvem. Cai.


Não podemos desejar o chão quando fomos feitos para voar...



[Adormeci no sofá… Fora isso, acordei desorientada e com um sabor a laranja na boca]

26/06/2005

24 de Junho de 2005

Nunca sei muito bem distinguir os sonhos da realidade, alias a maior parte das vezes faço por não os distinguir.

Sei que hoje amanheceu cedo. Ou eu deitei-me tarde.
Nunca sei ao certo como estas coisas acontecem. Talvez porque nunca aconteçam.
Sei que eram os teus olhos, sei que era o teu cheiro, sei que era a tua boca. Sei que eras tu.
Se eras sonho ou realidade? Não sei bem.
Sei que nos perdemos, que nos encontramos, que voamos.
Sei que fechei os olhos ainda a ver-te e acordei no teu abraço.
Se é pouco? Tão nada… tão tudo…

Sei que hoje me preparo para dormir sem ti…
Se me importo? Nem tanto… Nem um pouco…

Porque sei que donde nos perdemos ontem não voltamos mais…
Vamos ficar para sempre lá perdidos. Onde aprendemos a voar. Juntos.
Porque para sempre é sempre que quisermos…



Jorge Palma - Valsa de um homem carente
Se alguma vez te parecer
ouvir coisas sem sentido
não ligues, sou eu a dizer
que quero ficar contigo

e apenas obedeço
com as artes que conheço
ao princípio activo
que rege desde o começo
e mantém o mundo vivo

se alguma vez me vires fazer
figuras teatrais
dignas dum palhaço pobre
sou eu a dançar a mais nobre
das danças nupciais
vê minhas plumas cardeais
em todo o seu esplendor
sou eu, sou eu, nem mais
a suplicar o teu amor


é a dança mais pungente
mão atrás e outra à frente
valsa de um homem carente

24/06/2005

Aquelas palavras pesadas

(3 de Julho de 2004)
Onde se guarda o Adoro-te?
Onde se esconde o Amo-te?
Para que servem afinal?
É alimento o amor que damos? Ou é fome?


Dou comigo muitas vezes a pensar no que fazer com o peso do que sinto. Quando não temos alvo para atirar, nem corpo para carregar de nós. Onde metemos o adoro-te quando já ninguém o quer ouvir? Ou quando já ninguém o merece? As palavras não morrem com os seus destinos. Mudam de morada, de corpo, não morrem. Mas quando as enviamos para parte incerta, sem nome no destinatário, será que elas acertam na porta? Será que não se perdem pelo caminho. Eu perco-me todos os dias e trago um Amo-te agarrado a garganta que não sai, não mata e não morre.

(excerto de uma carta)

20/06/2005

Faz de conta...

Às vezes tenho vontade de mandar tudo ao ar. De deitar tudo a perder. De esvaziar os bolsos todos de todas as coisas que conquistei. Às vezes acho que a vida que levo é a vida que criei.

E depois, volta e meia, apareces tu.
Sais dos meus sonhos. Sem pedir. Entras e sais. Achas que a minha alma é tua?
Fazes do meu corpo teu palco. E cantas…

Fazes de conta que sempre estiveste aqui. Fazes de conta que ainda vens a tempo de cumprir todas as promessas que eu já esqueci. Fazes de conta que és meu.

e eu tantas vezes, estúpida, acredito


Fazes de conta que não vais embora. Mesmo quando já me viraste as costas.
Fazes de conta que a culpa é minha. Sempre minha. Que fui eu que não te soube amar.

só não sabe amar quem pelo menos ama


Fazes de conta que a razão é tua. Sempre tua. Só tua. Quando sais a fingir que ficas deixas sempre para trás qualquer coisa para voltares. E voltas sempre.
Fazes de conta que voltas.

Às vezes, quando em noites frias sinto o calor da tua mão, por baixo de uma mesa de café qualquer, sinto vontade de fazer de conta que sou tua. De fazer de conta que não tenho vida. Que não inventei uma outra história para mim onde tu não entras. Tenho vontade de fazer de conta que deito tudo a perder para fazer de conta que fico contigo para sempre.
Às vezes… Às vezes canso-me do faz de conta que é a minha vida e apetece-me acreditar em tudo aquilo que tu fazes de conta que é real.
Como podemos andar tão trocados?
Como nos podemos enganar tanto?
Como nos perdemos, meu amor?



E fazemos de conta que não nos queremos. Fazemos de conta que temos uma vida normal, que somos felizes.
Fazemos de conta que… Fazemos de conta que vivemos.

No dia que fizeres de conta que vais partir para sempre, eu vou fazer de conta que não me vou importar…

E todas as lágrimas que vires, faz de conta que são de quem não as sabe mais guardar.

Já não sei mais fazer de conta que sou aquilo que não quero ser.
Morri no dia em que fiz de conta que não te queria mais.

Toranja - Contos
Não posso ser só eu a dar sentido à razão
Vais ter que vir tu e arrancar-me a escuridão
É que ás vezes quem vence fica sempre a perder
Vamos deixar de usar armas no que queremos ser.

Mas tens que escrever quem vês em mim
Vais ter que contar quanto dás por nós
Sem mais Contos de embalar.

Não podes ser só tu a dar sentido ao buraco
Se não te queres lembrar do que sentiste no fundo
Agora tens que vir tu saciar-me os segredos
Porque é fácil de mais o que me queres vender.

Mas tens que escrever quem vês em mim
Vais ter que contar quanto dás por nós
Sem mais Contos de embalar.

Mas tens que escrever quem vês em mim
Vais ter que contar quanto dás por nós
Vais ter que despir o que tenho a mais
Por ver sempre tudo a desconstruir
Por cima da raiz que nunca sai
Que volta a crescer por não parar

Que volta a crescer por ser maior
Voltou a crescer sem avisar!
Sem mais Contos de embalar.

19/06/2005

Meia perdida... Meia achada

Um passo ao lado, ou um susto mal pregado.
Um salto sem fundo e sem impulso. Sem chão. Sem céu.
Meia desencontrada do caminho. Meia perdida e meia achada.
Um não saber estar parada.
Uma busca de uma ilusão. Dos sonhos todos que estão na mão.
Uns olhos fechados. Uns braços esticados.
Meia embaraçada. Meia perdida e meia achada

Mal eu sabia que a vida nos rouba os sonhos...

11/06/2005

Nunca sabes ao certo se te magoas

Sais e voltas a entrar. Arranjas-te e voltas a sair. Sempre com pressa. Tropeças, cais. Rasgas-te toda. E nunca sabes ao certo se te magoas, porque no fundo voltas sempre a cair. É normal em ti. És tu assim. Em cada passo trocado encontras-te, inventas-te e dizes sempre a sorrir que és assim.
Não te importas com as nódoas negras que a vida te vai deixando nos joelhos. Nem te incomoda as mãos arranhadas. Tens as calças todas rasgadas e nem dás conta. Sempre com pressa de tropeçar noutra esquina. Sempre sem medo de te magoares, porque no fundo, nem sabes ao certo se te magoas.
Já conheces o chão de cor. Já lhe sabes o cheiro. E gostas. Ou então gostas de fazer de conta que gostas, para não terem pena de ti quando te virem estendida no chão depois de mais um passo enganado.
Cais e levantas-te, só para mais tarde teres o prazer de cair outra vez. Vives a tropeçar nas pedras, nos degraus, nas pernas dos outros, nas tuas. Vives a vida a lamber o chão. E finges que gostas. E nunca sabes ao certo se te magoas.
Já conheces o caminho de cor e salteado para todos os sítios que podes ir, mesmo assim não consegues não tropeçar. Deve ser essa tua mania de ir a dançar. Essa tua mania de estar sempre a olhar as gaivotas. Deve ser essa tua mania de te atirares para o chão, para fingir que não sofres, para fingir que és forte. Só para tu acreditares.

Feita bailarina de papel, que dança trocada, desacompanhada. Feita boneca de cristal, que se parte em cada queda só para se poder montar toda outra vez. Feita princesa. Feita mulher.

Feita eu…

09/06/2005

O último acto - Acto contínuo

Acordei.
O céu estava frio, ferido de tanto azul. O sol envergonhado. E as nuvens, calmas, passavam devagar, como pinturas com asas.

As gaivotas invadiram me os ouvidos com cânticos de final de dia, manchando o céu de reflexos dourados. O sol desaparecia e dava lugar aquela hora de sonhos cor-de-rosa.
Acabará de acordar.

Sai a rua.
Com os sonhos todos amarrados nos olhos.
Pousei as asas em casa e sai mais leve. Mais minha.
Não desejei levantar voo. Não pedi para me ensinarem a voar. Não inventei palavras para criar momentos elevados. Nem pintei horas para nos escondermos do mundo.
Foi o que sou.
[aqueles raros momentos de sinceridade eterna]
Não me menti, não me inventei, não me fingi.




O último acto acabou com as suas merecidas palmas. As cortinas fecharam. A sala esvaziou. Já passará tempo demais atrás das cortinas a espera de uma nova actuação. Acabou o teatro. Desceu do palco. Largou lá o seu fato de gaivota.
Deu-se ao mundo.
Afinal agora era só ela com os seus pés no chão.



Agora sou só eu com os meus pés no chão.
No acto contínuo da vida.

Viver.

E é tão bom…

03/06/2005

Fui eu que bati a porta?

Lembro-me só do barulho ensurdecedor da madeira velha. Do vaso velho que não quebra.
Não sei se fui eu que sai, se entrei, se voltei.
Lembro-me só que não me deste um beijo. Que não te beijei. Não te beijo mais.

Que quero o teu beijo. Mais.

Eu não ouvi. Tu disseste. Mas eu não ouvi. Chamaste-me de volta. Não voltei.
Sabes desde sempre que eu nunca sei o caminho de volta.
Desenho nos teus sonhos um mapa para me achares.
Tu não me achas. Não me procuras. Só me chamas. Mas eu não me sei achar. E já disse que não sei voltar.

Eu tento. Mas perco-me sempre.

Se quiseres, vais ter de desamarrar os pés do chão. Vais ter de te mexer. Agitar. Viver. Voar.
Se quiseres

Não precisas de procurar, eu estou aqui

Encontramo-nos num desses céus azuis, infinitos de prazer. Onde as nuvens fazem cócegas nos pés dos que sabem a altura do amor.


27/05/2005

Não me arrependo, meu amor, não me arrependo, mas que eu aprendo podes crer que eu aprendo.



Os dias todos iguais, com cheiros sempre diferentes, os olhares todos trocados de quem bebe palavras trazidas pelo vento. As mãos sempre vazias, cansadas de procurar um apoio, sujas de lamber tanto chão, queimadas pelo sol dos dias todos que não foram vividos. As esperas inúteis e apressadas. Tu não voltas…
O chão sempre igual, sem segurança. Frio, húmido e sombrio. E a terra abre-se em fendas despropositadas, em quedas desequilibradas até ao fundo das fendas sem fundo. Em noites sem lua e dias sem sol, em horas apontadas, marcadas, desenhadas para serem vividas da forma que não as vivemos.
O Sol explode no meu olhar, a terra rebenta dentro de mim, a lua arde no alto do céu.
É fogo a agua que há em mim.
É queda cada passo incerto inventado para te encontrar. Tu não voltas…
E se não voltas porque é espera cada segundo que vivo? Porque será que vejo as horas correrem ao contrário? A demência das horas ausentes.

[...]

E ela ficou lá numa rocha qualquer ali encalhada. Olhou o mar e partiu…
A voar…

[...]

Tu não voltas... e eu já não te espero, meu amor.

23/05/2005

Se decidires partir

Se tiveres de partir escolhe um dia de nevoeiro,
ou esconde-te atrás do fumo da fogueira onde queimaremos as cartas que não escrevemos,
as fotografias que não tiramos e os abraços que prometemos (Sim, queimam-se abraços, todos os dias, junto das promessas).
Se tiveres de partir, parte.
Não precisas de desculpa nem motivo, parte só, num silêncio estúpido que eu não perceba.
Parte sem jeito, e com a mesma pressa que chegaste.
Se tiveres de partir, escolhe partir por ti.
E se não souberes escolher o dia deixa que eu escolha por ti.
Parte com a determinação de quem não volta, nem que seja para voltar.
E se ao caminhares para longe te der aquele aperto no coração lembra-te que já partiste e que todos os passos contrários seriam voltar, e tu nunca voltas quando sabes que partiste.
Mesmo que saibas que eu espero e mesmo por saberes que eu espero que voltes.
Não voltes.
E se voltares que não seja para mim, nem por mim, nem por ti porque tu não és egoísta.
Que voltes pelo sol daqui, pelas estrelas que baptizamos, pela lua que pousou nua sobre o mar só para nós.
Que voltes… Mas não fiques.

…Se decidires partir…

06/05/2005

Encontros como sempre

Já não te via há alguns anos. Estas igual, igual a sempre. Gostei de te ver, como sempre. Já não sei bem de que falamos, mas aposto que tivemos as conversas de sempre, os risos sempre iguais aos de sempre. Aposto que me empurraste uma ou duas vezes com as mãos, como sempre fazias quando querias que me chegasse a ti. Lembro-me do abraço que demos, daqueles que damos sempre, apertados, fundos, nossos, sempre só nossos. Sei que me pegaste na mão como se afinal sempre a tivesses segurado. Sei que senti o que sinto sempre, aquilo que sempre vou sentir, para sempre.
É bom ter-te de volta, as vezes, como se fosse para sempre.
Só nós sabemos o sempre que temos…

Dá me a tua mão e vamos ser alguém, a vida é feita para nós

E voltas a sair e eu volto a ficar sozinha... como sempre afinal fico sempre no final...

23/04/2005

Nunca amei ninguém como a ti, e como a ti também, e como aquele outro que foi ao café fazer-nos companhia no outro dia. Nunca amei ninguém como a amo a ela, e a amiga dela também e aquela outra que apareceu do nada e agora é tão nossa também. Nunca pensei amar tanta gente assim. Nem nunca vos procurei. As vezes acho que vos magoa o facto de vos amar por igual, sendo vocês tão diferentes. Mas não consigo… Não consigo gostar mais de ti do que dele, ou do que da outra, ou do que todos eles. Alias amo vos por serem todos. As partes são me indiferentes.
Amo o que somos juntos e o que construímos, amo aquilo que partilhamos, amo as mentiras que contamos, as brigas que tivemos, amo os nossos segredos e as coisas que inventamos, amo os sítios onde nos escondemos e onde montamos quartel, amo as bebedeiras e as aulas que passamos juntos, amo os risos e as lágrimas de cada um de vos como se fossem de todos, amo os vossos ombros onde me deixo chorar, amo os vossos ouvidos onde sei guardar parte de mim, amo as vossas bocas donde vem as vossas criticas e os tão doces elogios, amo os dias que mal me falam e mais ainda os dias em que me procuram para falar, amo o sol que apanhamos na esplanada do bar e a chuva que nos molha a caminho de casa.


E perdoem-me por não vos amar como pessoas mas sim como um grupo.
São sem duvida os melhores amigos do mundo!!!
Tantos medos. Tantos sonhos. Tantas realidades. Tanto espaço para voar. Tanto chão frio para lamber. Temos sempre coisas a mais para pensar. É esse o nosso mal, não é?
Se só sentisse… Com os olhos, com o nariz, com a boca, com as mãos… Se tudo em mim fosse sentido e não pensado. Era mais fácil. Talvez mais difícil, mas tão mais justo que se tornaria mais fácil.

Se ao ouvir as tuas palavras, ao ler as tuas mensagens, ao provar da tua boca, ao me encostar ao teu corpo só te sentisse… Se não houvesse parte de mim a pensar em cada virgula que usas, em cada pedaço de corpo que beijas, em cada local que aqueces com as mãos. Se não houvesse uma parte de mim, que não sou eu, que me mente, que me finge, que me inventa. Tu sabes que me minto. Minto-me porque de tanto me pensar já não me sei. Tu sabes…

E quando dizes que me queres, que os fantasmas o vento os leva, que és meu, só meu, que me esperas. Quando me dizes a verdade, eu minto-me. Minto-me sempre. E minto que não acredito. E passo a não acreditar mesmo. Ate que me dizes outra vez e eu volto a acreditar e volto a ter de mentir para te dizer que não acredito. E não acredito.

Tanto mundo contra nós. Tem piada.


Percebi agora que a Gaivota afinal sempre soube voar, só que ganhou medo as alturas. Medo de se cruzar com os fantasmas que se arrastam ao sabor do vento. Assusta. Assusta ouvir os murmúrios dos fantasmas que passam quando estamos abraços. Vazios. Só nossos…

15/04/2005

"Parem!"

E se pudesse gritar “parem!” e tudo a minha volta parasse. Assim como numa fotografia onde só eu me podia mexer. Movia me entre os carros, entre as motos, no meio das pessoas que estavam no passeio, das crianças que corriam e ficava tudo parado. Só eu me mexia. Se pudesse entrar no autocarro chegar ao ouvido dela e dizer-lhe “Anda comigo”. E se ela viesse mesmo? E se o resto continuasse parado?
“Entra em minha casa!”, “Andem!”, “Sai!” “Parem!” e tudo voltava a parar e eu entrava dentro de um café ou de outra coisa qualquer e escolhia outra rapariga, chegava perto do ouvido dela e dizia “Anda!” e ela vinha. Era tão fácil assim. Era só chegar bem perto e dizer “Vem!”. Andei assim durante uns longos anos. Fodia até não poder mais. E quando me cansava bastava dizer “sai!”.
Elas vinham sempre comigo, sempre que queria, e eu queria sempre. Fodia modelos, artistas da novela das oito, gajas boas, o que me apetecesse. “Fode comigo” e elas fodiam. Sabia me bem ter qualquer mulher na mão. “Parem!” o mundo parava e eu só tinha de escolher.
Um dia uma grande amiga minha cansada de me ver sair sempre com gajas diferentes atirou-me a cara que eu era um gajo solitário e frustrado.

Tu não sabes o que é estar com alguém, o que é ter uma relação, estar ligado a alguém.

Gritei “Pára!” e ela ficou lá, no sítio onde me espetou com a verdade dela na cara. Confesso que não lhe liguei nenhuma na altura, mas aquela história da relação começou-me a estragar o tesão. Percebi que as gajas com quem fodia nem sequer sabiam o meu nome. Comecei a mudar os meus hábitos. Quando chegava a minha casa antes de a mandar foder-me falava com ela. “Diz me o teu nome!”, “fode-me”. Depois o sexo começou a ser frio. Reparei que elas nem fingiam ter prazer e então mandava-as gritar, e elas gritavam, mas eu tinha de lhes dizer o que queria que elas gritassem. E nem assim. O mais próximo que tive de uma relação, de uma verdadeira ligação com alguém foi quando percebi que se as mandasse ter prazer elas realmente teriam prazer e então passei a dizer “Goza!” e elas realmente gozavam…

Outro dia passei por perto do sítio onde esqueci a minha amiga e ela estava lá, parada. Cheguei perto do ouvido dela e disse-lhe “Desculpa!”. Agarrei a mão dela e jurei que nunca mais a largaria. Os olhos dela estremeceram e as lágrimas brotaram.

Não me vais ordenar para que fique? Para que te foda?

Não… Só quero que me ames pelo que sou!

11/04/2005

Não me aches frágil

Se as minhas mãos tremem e a minha voz me falha, não me aches frágil. Sou só muito má a mentir. Se os meus olhos me denunciam as mentiras, não me aches frágil. Sou só muito má a mentir. Se as minhas frases não fazem sentido, não me aches frágil. Sou só muito má a mentir.


E se um dia me pedires a verdade, levas a mentira onde te agarras, onde me agarro, a única mentira que sei manter. A mentira mais verdadeira que conheço. Chama-se amor, tem asas de ouro e o seu travo é mel.
Se um dia a noite me exigir amor, amor darei, sem receios, sem ter as mãos a tremer, e sem a voz me falhar, sem os olhos me denunciarem. Darei amor quando a lua me o exigir

Talvez porque não seja mentira.
Talvez porque seja a melhor mentira que tenho.
Por ti

07/04/2005

gaivotas que não sabem voar

Duas da manha. A lua alta. O cheiro a terra molhada. As lágrimas a dançarem-nos nossos olhos.
As estrelas dos outros, as nossas, as que roubamos.

Os pés presos à terra por raízes milenares.
As asas abertas.
Os olhos no horizonte.

Os nossos corpos separados por um fino papel que finjo ser muralha. O teu calor. O meu cheiro.
A tua alma.
A minha alma.

[Julgo que as nossas almas brincam as escondidas em noites que julgava para sempre perdidas. Julgo que a minha alma sorri sempre quando encontra a tua. Julgo alias que as nossas almas sempre estiveram juntas, lá no sitio das almas, onde não há papeis para desenharmos muralhas, onde não há brinquedos para fazermos de armas.]

Três da manha. Lua tapada. O som da chuva a cair no chão. As lágrimas a lavarem-nos a cara, espelhos de alma.

Um sopro, um vendaval em mim
O papel desfaz-se, a muralha cai
Agora sou só eu
E eu quero ser em ti.

Os nossos corpos juntos, presos, ancorados. O teu gesto. O meu medo. Toda a nossa vida e um céu pela frente.

“Está na hora…”

Sete da manha. Tenho um autocarro para apanhar e um exame para fazer. Tenho histórias para inventar. Tenho mentiras para confessar. Tenho um sonho para me encher a alma de esperanças que um dia o fim não seja o nascer do sol.

Lá fora as gaivotas.
Gaivotas que não sabem voar e se estilhaçam em lágrimas pelo mundo.


27/03/2005

Hoje conto-vos uma história de Pascoa, ou pelo menos uma história do meu almoço deste dia.

Por esta altura do ano a minha familia tem por habito almoçar em casa da minha tia. E hoje, claro, à hora marcada la estavamos nós.
As conveniencias de sempre, os sorrisos de sempre, os abraços e os beijos mais sinceros daqueles que nos são proximos e aos quais estamos ligados com qualquer coisa que não sabemos rasgar.
A meio do almoço, numa daquelas conversas da vida, entre politica, futebol, filmes, musicas e propria familia... nesse emaranhado de palavras a minha mãe solta um:

-Tenho de perguntar a "fulana" como esta a "sicrana"...

O qual tem como resposta da minha prima

-Mas o que tem "sicrana"?

E de um momento para o outro todos se calam, os olhos fixos nos pratos e as lagrimas a dançarem nos olhos. A minha mãe toma coragem, fala de voz baixa, como se não quisesse que a ouvissemos.

-Tem cancro, meu amor.



É este o pão nosso de cada dia, meu deus. As más noticias atropelam-se. Correm para nós. Fé? Justiça divina? Perco a força para acreditar e agarro-me ao mais forte tronco para o vento não me quebrar as asas.

Uma boa pascoa para todos.

22/03/2005

[É uma história de crianças. Uma daquelas histórias que todos vivemos. Tem o céu como horizonte, e o coração como banda sonora.]

Éramos tão pequeninos, assim como dois grãos de areia no meio de um deserto inteiro. O que eu lutei para chegar ate ti. Passei por cima de todos, passei por cima de mim. O meu horizonte eras tu.

Cheguei…

Abriste a porta com um sorriso nos lábios, deixaste me entrar no teu coração. Obrigaste me a entrar… nunca te ensinaram que não se pode aprisionar o amor? O teu coração mantinha me sufocada em ti… o bater do teu coração obrigava o meu a bater ao mesmo ritmo. Eu não queria assim.

Eu não quero assim…

Sempre gostei de ouvir a minha música e dançar ao som da minha voz, sempre gostei de controlar a minha vida desnorteada. Mas tu eras uma âncora pesada. Um peso forte demais para mim.
Eu mexia-me demais, corria demais, era alegre demais, amava-te demais…
Mas e o céu? Tu tapavas me o céu, a lua, as estrelas. Eras tu em cada esquina, em cada sonho, em todos os pensamentos. Acreditas-te agora em mim? Com a dor do pontapé no cu que eu te dei? Foi um pontapé em mim, naquilo que eu era, naquilo que eu não queria ser.
Sei agora, com a certeza certa do fim, que sempre foste tu.

Conheci-te cedo demais… amei-te cedo demais…

Acredites ou não… Sei que seria feliz contigo, hoje e sempre.
Mas não quero, és demais para mim, deixo de ser eu para ser tua… E nunca, meu amor, nunca me vou perder em ti, nunca vou deixar que o meu coração bata pelo teu…
Não quero!

Conheci-te cedo demais… amei-te cedo demais…



Mas eu vou estar sempre aqui... Onde a dor é mais leve e o ar não cheira a ti. Aqui onde a minha banda sonora é o bater do meu coraçao, aqui onde as minhas mãos desenham corações para ninguem ver.
Vou estar sempre aqui a espera de aprender a te amar sem me matar.

16/03/2005

Sinfonia dos sonhos

Inventaste agora uma nova sinfonia
Uma maneira diferente de perceber o que eu já te dizia
Mas ouve me agora
No presente do dia
A nossa melodia acabou
No tempo passado descompassado
De outra nota trocada, desafinada
Que já não há
Que já não ouves
E que eu já não canto

Chegamos tarde ao final da canção
E quando demos por nós
Já não havia palmas para bater
Nem vénias para fazer
Julgo que
Uma nota a menos
Um tempo mais rápido
Uma composição mais forte
…e o vento seria brisa

E quando dou por mim
Entre murros e paixão
Tu não estas
Meu amor, és fruto do meu coração
Numa canção inventada
Entre sonhos e realidade
Eu e, mais eu, o mundo na minha mão

14/03/2005

Hoje queria escrever-vos, assim como quem conta uma historia, assim como quem escreve a um amigo de longa data. Queria-vos contar a verdade pintada por mim, a verdade nas cores que eu invento. Queria transmitir alma. Queria ser alma. Mas percebi que sou eu que invento o azul do céu que me afaga a cabeça. E que a minha alma deixa de ser minha quando a escrevo por palavras inventadas por outras almas. E que a verdade deixa de o ser quando a passo para outro que não a tem.



Mesmo assim quero vos contar a única história de amor que conheço.

Tinha três anos… E não cresci desde então. Parei naquela altura, ou pelo menos durante muito tempo assim desejei. Não me lembro de muita coisa daquela tempo. Lembro-me que morávamos numa pequena casa. Lembro-me que tinha de subir uma enorme escadaria para chegar ao teu quarto. Não tenho ideia de te ver de pé. Sempre que me lembro de ti, vejo te deitado naquela cama, branco e magro.
Sabes Pai nunca gostei de nenhum homem como gostei de ti. E eu tinha apenas três anos. Era uma criança e já sabia amar… E como amor só há um, nunca voltei a amar. Não assim. Não com aquele poder.
Teria dado a minha vida pela tua, se me tivesse apercebido a tempo que o tempo estava a acabar. Bastava um sorriso teu para me dar energia para uma semana. Eras tu que me enchias o olhar.
Lembro-me de dias que não paravas de me chamar. E lá subia eu as escadas, com a pressa de te encontrar e de te poder satisfazer um desejo.

Tudo, pai. Tudo por ti.

Sempre que chegava ao teu quarto estava ofegante, as escadas eram bem maiores do que eu, quando me vias entrar sorrias e dizias-me

Sorri para mim princezinha

Lembro-me. Não sei porque é que a minha memória guardou tanta coisa tua.
Sei que tudo o que queria era correr contigo na praia, queria que me pagasses ao colo e que andasses comigo a roda.
Nunca o fizeste.
Eu não me importo.
Deito-me ainda hoje muitas noites a ouvir-te cantar para mim,
Sabes pai, foste o homem que mais amei na minha vida e nem me deixaste saber o que era amar.
Se pudesse voltar atrás no tempo daria mais um abraço, mais um beijo, mais uma lágrima, mais um sorriso, mais um olhar…
Tudo que dei por ti parece pouco.

É sempre pouco amarmos, meu amor.

[Esta pequena história de este enorme amor é da minha mãe. A ela, por ser a mais bela das rosas, a maior das mães. Por ela... Sempre. Amo-te]

06/03/2005

Sabias que me podias fazer feliz?


Sempre precisei de tão pouco...
Dá-me a mão
Um beijo
Um abraço

04/03/2005

Troca o passo

A vida trocou-me o passo.
Arrancou-me as transas do cabelo. Tirou-me as sapatilhas e as calças de ganga rasgadas. Fez-me perder as canetas e os papéis.
A vida brinca comigo as escondidas e esconde de mim tudo aquilo que amo.

Tinha poucos anos (tão poucos como agora, ou pouco menos) tinha o cabelo comprido sempre preso numa transa mal feita. Tinha as calças rasgadas de subidas e descidas ao cimo do mundo. Tinha as estrelas nos olhos. A alma na lua. Andava com os olhos presos no céu e com a boca a sussurrar poemas inventados

Troca o passo
Vem o vento
Um abraço
Um abraço

Escondia as mãos nos bolsos. Nos lábios trazia amarrado um sorriso do tamanho do mundo. Uma felicidade de quem não conhece outra coisa. O meu passo sempre demasiado apressado para quem nem sabia ao certo para onde ia. Não sei qual o meu cheiro. Não sei qual a minha marca. Ia murmurando poemas inventados

Vira a esquina
Esquece a vida
Vai em frente
Põe te a deriva

E num daqueles acidentes da vida, trocamos a volta aos deuses, fizemos das nuvens testemunhas e pedimos abrigo a lua. Numa dessas esquinas que cruza os nossos caminhos. Tropeçamos. Encalhamos.
Murmurei-te ao ouvido

Esse cheiro que não é meu
Esse olhar tão teu
É da lua meu amor
É da lua

A transa desfeche. A noite virou dia. O vento levou as nuvens. Comecei a andar mais devagar [ate que deixei de andar]. Tinha os olhos virados para ti. Os meus olhos ficaram fundos sem te ver. Comecei a olhar-me no espelho. Larguei as calças de ganga rotas. Nunca mais subi o mundo. Deixei de escrever. E pouco depois deixei de murmurar.
Perdi-me em ti e, já não me sei achar. Não quero.

Perdi a graça amor
A graça de quem sabe dançar
Sou agora o que a vida me deixou
Troco o passo
Troca o passo

Não fui eu que escolhi o caminho que percorria, não fui eu que te mandei aparecer. A vida escolheu-me para sofrer por ti. Meu amor.

03/03/2005

Eu como os outros

Vivo o drama de ser anónima

Não há flash que me ilumine a cara, nem revista que me sirva de espelho. Não há pessoas anónimas atrás de mim… Sei o nome de todos aqueles a quem digo olá e a quem dispenso um sorriso. Não escrevo o meu nome nos cadernos dos meus amigos e, quando o faço dizem-me com ar de zangados “apaga lá isso”. Ninguém da valor ao meu nome escrito num pedaço de papel e, ninguém tem um poster meu lá em casa.

Vivo o drama de ser anónima

Ninguém me aborda na rua como se me conhecesse há anos e, ninguém sabe tudo sobre a minha vida. Ninguém compra um bilhete só para estar no mesmo sitio que eu [embora quando ando de autocarro essa coincidência suceda varias vezes]. Ninguém fala de mim nas esquinas da vida e, não apareço em nenhum programa de televisão.

Vivo o drama de ser anónima

…E nem vocês, que me encontram todos os dias, sabem de mim…


Em todo o caso chamo-me Patrícia.
Muito prazer.



Procurem por mim...

25/02/2005

Um pouco de céu

Acordei hoje com aquele aperto no coração, aquele aperto que faz o coração bater com mais força e que nos lembra que estamos vivos. Acordei hoje com uma vontade de mudar. E, quando vi o Sol a brilhar percebi...
Hoje quando a brisa que vinha do mar me penteou os cabelos e me trouxe aquele ar salgado que marca a distancia percebi...
Quando já não tenho forças para continuar aqui, quando o chão já queima os meus pes cansados, quando os meus olhos não cegam mas não conseguem ver... Tenho de perceber...


Só hoje senti
Que o rumo a seguir
Levava pra longe
Senti que este chão
Já não tinha espaço
Pra tudo o que foge
Não sei o motivo pra ir
Só sei que não posso ficar
Não sei o que vem a seguir
Mas quero procurar

E hoje deixei
De tentar erguer
Os planos de sempre
Aqueles que são
Pra outro amanhã
Que há-de ser diferente
Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu

Só hoje esperei
Já sem desespero
Que a noite caísse
Nenhuma palavra
Foi hoje diferente
Do que já se disse
E há qualquer coisa a nascer
Bem dentro no fundo de mim
E há uma força a vencer
Qualquer outro fim

Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu



Mafalda Veiga

24/02/2005

És tudo o que eu vejo


O sol ainda ilumina o dia. E a noite ainda trás [normalmente] a lua. O céu ainda se enche de nuvens empurradas pelo vento que me gela os pés. [Ou será a água do mar que já chegou aqui?] Tenho os sentidos trocados agora que já não sinto o teu corpo. Agora que me deito na noite vazia sem saber ao certo se é noite. Porque eras tu que marcavas as horas do meu dia. Agora, os minutos ecoam sem significado e, sem futuro. Agora os passos fazem-se de caminhadas sem sentido. E o sol vem e vai como quem não sabe ao certo o que quer. Como o mar, que ninguém sabe ao certo onde vai.
O mar embala todas as noites o sol. É essa a hora que eles marcam, a hora certa. Tu marcavas também o meu tempo quando chegavas. Agora já não chegas mais. E eu perdi a noção das horas, dos dias, dos anos. A chuva bate na janela com a força que pode para me mostrar que é Inverno [eu sei que é], mas o que é o Inverno sem o calor do teu corpo para me temperar a alma? O que é o Inverno sem as tuas mãos a servirem-me de cobertor? O que é o Inverno sem os teus olhos a substituírem as estrelas? O que é o Inverno quando bate numa casca vazia? É assim o Inverno em mim. Igual ao verão ou a outra qualquer estação. Como o meio dia é igual a meia noite. Porque tu já não vens a meia noite. E eu já não te espero ao meio dia.

A verdade é que o sol ainda ilumina o dia. Eu sei. Mas não consigo ver.
“És tudo o que eu vejo.
Sempre que eu insisto, eu esqueço que eu existo”
E agora resta-me a certeza que um daqueles Fins com sabor a começo vai chegar ate mim.
Ate lá vou me guiando pelas horas dos outros…

És tudo o que eu vejo.

22/02/2005

"A manhã é ainda lunar.

Nunca mais poderei deixar o meu corpo esquecido junto ao teu. O mundo que não existia longe da tua pele. Os meus dedos a deslizarem pela superfície da tua pele. E o desejo enganava-nos. Os meus dedos entre os teus cabelos e a inocência. A claridade dos dias que nasciam na tua pele branca, na forma suave da tua pele feita de silêncio. A inocência repetida em cada palavra da tua voz, como água de uma fonte, como a minha mão a atravessar o ar e a dirigir-se para o teu rosto. O teu olhar era a inocência. O meu olhar. E o silêncio de cada vez que queríamos falar de assuntos mais impossíveis do que a memória. Nunca mais poderei sonhar porque tu não estarás ao meu lado e, descobri hoje, só posso sonhar contigo ao meu lado. Espetada infinitamente em mim, uma faca infinita. Deixei de imaginar o futuro. Sobre esse tempo que não sei se chegará existe um manto muito mais negro do que aquele que cobre o passado. Não consigo olhar através desse tempo negro. O futuro estará depois de muitas noites, mas eu deixei de imaginar as noites. Sei que, da mesma maneira que esta noite se cobriu de manhã, esta manhã poderá anoitecer. Consigo imaginar cada tom das suas cores a tornarem-se negras. Não consigo imaginar este tempo a transformar-se noutro tempo. Contigo, perdi tudo o que fui para não ser mais nada. Deixei-me ficar nos sonhos que tivémos. Abandonei-me. Nunca mais entenderemos a lua como quando acreditávamos que aquela luz que atravessava a noite nos aquecia.
Nunca mais. Nunca mais poderemos sonhar. Nunca mais.
O brilho nas pedras do passeio. Dentro do nevoeiro, há pontos de luz mais grossos a brilharem. Moedas lançadas para um lago cheio de desejos.
Caminho entre o brilho. Os meus passos afastam-me de nada. Existem veios de medo na brisa que atravesso. Linhas de medo que me tocam a pele. Atravesso a brisa e sou atravessado por uma voz que me diz: não podemos ser felizes. O medo. Sobre mim, o céu é o tempo do mundo. Todo o tempo de todas as pessoas do mundo. O céu é nunca mais. A lua somos nós, aquilo que fomos. Como a memória, a lua existe nesta manhã para nos lembrar que existiram noites, que existiu esta noite em que nos separámos. Caminho sobre a organização das pedras do passeio, a organização do nevoeiro.
Rodeada pelo tempo do mundo, por nunca mais, a lua somos nós."



José Luís Peixoto
(Influenciada pela Mónica)


As palavras como murros [como nós gostamos] e, a morte como um Fim traçado, infinito.

Gosto mais dos Finais, são sempre o inesquecivel da história.

[Como já devem ter reparado mudei o sistema de comentarios (graças a ajuda da CPC), só o mudei porque assim se torna mais facil para voces comentarem e, também porque me explicaram que os antigos comentarios continuam cá (basta clicar no link que marca as horas em que o texto foi publicado)... Pois é,porque este blogue é feito dos vossos comentarios]

Um beijo*

20/02/2005

Estou de volta e Bem...

[obrigada pelo titulo Miguel, ou pela força para escrever este post]
Para ser mais correcta estou Quase de volta e Quase bem...
Já estou em casa, na minha caminha, infelizmente ainda não posso andar, mas com o tempo fico 100%.




Os anjos também têm momentos menos bons, em que as asas não servem mesmo para voar...

Quero agradecer a força que todos voces me deram, mesmo sem vos conhecer foi importante, é sempre bom sentir o apoio dos outros

Um beijo*



Li um texto num outro blog "Nunca é de repente" sobre a exclusão social. Racismo...

Só tenho uma coisa a dizer...

Também há anjos Negros, Amarelos, Vermelhos e as pintinhas...


Que todas as nossas diferenças fossem as nossas cores...

18/02/2005

Esperem por mim...

Vou dar uma escapadela ao hospital este fim de semana. Prometo que volto, os médicos não prometem, mas eu prometo.

Sei que ainda tenho muito para fazer por cá.
E, apesar deste medo que não me deixa dormir, tenho uma certeza aqui no fundo que me diz "vai ficar tudo bem".

Lá em cima os anjos olham por mim...

[Cá em baixo espero que voces vão pensando em mim]


Pode ser que também ganhe as minhas asas.


Um Beijo*

16/02/2005

Toca-te...

Sem medos...

previne-te...



Toca-me...

Ajuda-me...


Antes que seja tarde...

Antes que me mate por dentro...


Deixa tocar...

Porque há qualquer coisa
que não podemos controlar
Uma força que nasce, sem avisar
Alimenta-se de ti
vive dentro de ti
destrui-te... A ti...

E não há mais quem te possa salvar
...Save yourself...

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