13/02/2005

Gosto de ser livre,
de lançar os meus cabelos ao vento e, de me deixar preencher de novos prazeres.
Gosto de me carregar das minhas coisas,
de aprisiona-las numa mochila e, de me lançar às ruas.

Decidi partir sem aviso prévio e, sem música de introdução.
Para trás não deixei muito. Porque tudo que me interessa é o nada que tenho.

Tenho este prazer estranho de desaparecer…
desta vez não houve telemóvel que nos salvasse a comunicação.

Não houve olhos de mel para evitar, nem beijos para gastar.
Não houve camas vazias de corpos desconhecidos,
Nem estrelas inventadas por situações criadas.

Tenho esta maneira estranha de me refugiar de mim…
Finjo que me meto toda numa mochila,
finjo que sou assim e, parto como se não precisasse de ninguém.
Fujo exactamente para não ter de chorar no ombro de alguém, quando as lágrimas já não são controladas pelos meus olhos.

Vou nestas viagens, algumas vezes por ano, quando as horas aqui se atropelam com pressas estúpidas de inutilidades banais.
Vou nestas viagens quando me dói a alma.
Quando as lágrimas tropeçam nas pestanas e teimam em me mostrar frágil.
Quando o sol parece já não ser suficiente para me aquecer,
quando já não há aqui azul que me faça sorrir.

Foi só um fim de semana… Uma fuga, um escape
Foi só um esquecer-me de mim sendo apenas eu…

Vagueei perdida, meia morta e a chorar ate tropeçar em mim e me achar…

Voltei…

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O comboio abrandou no compasso certo d’uma banda sonora de um qualquer filme francês.
A paisagem abrandou, ate se imobilizar, num ponto certo com cara de Fim.

Fecharam-se as cortinas, o público esvaziou a sala [a carruagem]. Fiquei sozinha na sombra do que já foi, sem ninguém para bater palmas [tinha ideia que mesmo os dramas tinham direito a palmas no final] Mas só sobraram umas lágrimas.

Peguei na minha mochila, na minha alma, na minha vida, carreguei-me com o mundo, com as dores [as minhas e as tuas] e, voltei a pisar aquele chão.
O meu nariz apurou-se, os meus olhos tremeram, as lágrimas brotaram… Cheirou-me a casa!

Voltei…

Com os pés já no Porto e, com o coração de novo apertado, já com falta de oxigénio [ou de vontade de respirar], não tive tempo de voltar para trás. Um desafinado assobio ecoou na estação e o comboio apressou-se a voltar pelo mesmo caminho de onde tinha vindo, não sei bem se para o mesmo lugar…

Voltei…

Com o meu passo inseguro e o paraíso no meu olhar…

9 comentários:

  1. Palmas mais que merecidas! :')
    Os "retiros" de nós mesmos são necessários, para nós mesmos e para os outros. Leio e releio para tentar escrever mais alguma coisa.. Mas sem qualquer produtividade. Lindo post. Aliás, lindo blog, lindas palavras.**

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  2. Por vezes temos de nos distanciar dos outros e do mundo, e partir, para nos encontrarmos. E que bom é partir... e voltar.
    Por vezes temos de desaparecer, privarmo-nos da vida quotidiana e embrenharmo-nos por esse mundo fora, para aprendermos o que nos falta, verdadeiramente.
    A solidão a liberdade e sitio nenhum são por vezes o local da origem, onde é possível começar de novo, mesmo que tenhamos de continuar.
    Gostei muito do teu texto e entendo o que sentes. Não há palavras.
    BJ
    SK

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  3. Ah tu andas a rogar-me pragas!! Pois bem! Funcionou, por isso tem cuidado com o que pedes ;)
    Muito obrigada por não teres desistido e quanto ao post: quem escreve e sente assim é porque percebe que às vezes temos que deixar coisas para trás. Nem sempre tomamos é a opção certa. Mas para nos trazer de volta, estão sempre lá os amigos. E voltar é bom... beijo!

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  4. e mais uma vez me acho surpreendido, mas, enfim, vou tentar habituar-me (só espero que não consiga!) ;)
    às vezes não há nada melhor do que uma viagem, levando por companhia a nossa sombra, para aprender de novo a respirar...
    só fico triste quando no regresso encontro tudo exactamente na mesma!
    beijo

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  5. Os passos são seguros, caso contrário não existiria no olhar o destino mencionado e nada como voltar ao ponto de partida e recomeçar ...

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  6. bonito este texto. às vezes precisamos partir de nós mesmas para voltarmos a sorrir

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  7. Tenho tido incursões idênticas ainda que os percursos sejam diferentes e os motivos certamente também. Mas revejo-me nesta errância, nesta melancolia de procurar algo dentro de nós que nunca chega. Houve um dia que percebi que apesar da aparente sensação de alívio de cada vez que 'partia' na realidade não resolvia nada.Era apenas vaguear, como tão bem descreves. Foi quando comecei a permitir-me ficar e tentar perceber o que queria abandonar, o que queria descobrir...e que isso era uma luta dentro de mim, independente de tudo aquilo que podia palmilhar.
    E sabes uma coisa? Descobri-me.Espero que te descubras também.
    Beijinho grande

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  8. Porque o melhor de partir... é o voltar... deixa que as lágrimas que te teimam em escorrer, rolem pela tua face, elas são vida.

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