29/09/2005

Que se lixem as poesias. Os textos bonitos. As histórias encantadas. Que se lixem as princesas e as fadas. Que se lixem os finais felizes.

O mundo não é bonito, nem feliz na sua generalidade.
A vida não é fácil, nunca ninguém disse que era. Mas também ninguém me disse que era tão difícil. A vida também não é bonita. Nem tão pouco feliz. A vida é dia. É noite. É qualquer altura onde existe ser. Onde pode ser. Onde tem de ser. A vida é morte lenta. É sorrisos. É flores. E é um montão de coisas bonitas que sem as coisas feias não seriam bonitas. E a vida é isso. É morte lenta. É o outro lado do dia sem ser noite. É a tristeza. As lágrimas. E um montão de coisas feias. A vida é tudo. E quase nada. Tão pouco que não chega a nada.



A vida é morte lenta…
Quero-me esquecer de acordar. E fingir que a noite é eterna. Que a luz se apagou infinitamente num sopro estranho que me gelou a alma.
E morrer devagar, como uma vela que chega ao fim. Sem o sol para me envergonhar. Sem medo de não acordar. Por saber que é eterna a noite, ou a cegueira, ou a falta de luz e de calor.
Vazia.
Casca vazia ou coisa nenhuma.
Fim
Fim ou nada
Tudo ou nada
Tudo e nada
Coisa vazia
Quase ninguém.

24/09/2005

confusões

na simplicidade da tua consciência e frontalidade de pensamento encontrei a paz..........
admiro-te pela fragilidade do pensamento, por seres volátil e indecisa, pela força a intensidade da opinião, pela resposta rápida e justa, pela personalidade incerta mas certa, rapida mas inconstante, pos saberes como dizer e fazer e nao o saberes assim tanto, por sim e não..
pelo doce e amargo, por tudo e nada, por não te perceber e saber como pensas, por dizeres tudo quando não dizes e por falares tanto que me fazes não perceber nada...
Admiro-te por não seres igual a ti e por seres tão transparente, por migrares para longe e me exigires tão perto, por me fazeres sofrer e por me sentir amado, por ser e não ser, por ter a certeza que contigo ficarei mas a cada momento ter medo de te perder, por estar bem mas saber que fica algo por dizer, por seres sincera e ocultares , por arriscar mas sempre com todas as cautelas, SUAVE CONSTANCIA INCONSTANTE QUE ME TOLHE A ALMA...
AMO-TE

KIKO...

22/09/2005

Pouco importa

Cruzo os braços e arrasto os passos. Não desisto. Eventualmente, nem há nada para se desistir.
Não se criou nada.
Nada.

Vendo bem pouco importa agora. Os traços apagaram-se com o tempo. Sobram uns rabiscos, uns esboços de tudo o que tínhamos para construir. As coisas que nunca realizamos. Aquelas que pouco importam agora.
Pouco importa o tempo. As horas. Os dias. E ate os anos. Agora… Agora que já nada há, nada importa.

Que se lixem os passados, as histórias (encantadas ou não), que se lixem os sonhos, as mentiras.
Que se lixe o amor…
Cruzo os braços e arrasto os passos. Pouco importa.
Que se lixe o amor… O amor que não sinto só porque alguém o inventou para mim.
Que se lixe o que eu inventei… O que eu disse… O que eu não tive coragem de construir…

E ter a alma nos olhos que não querem olhar mas que não deixam nunca de ver. E ter os sonhos nas pontas dos dedos prontos a contarem uma história.
E ter vida. Muita vida. E ter esperança…
E coragem.



Cruzo os braços e arrasto os passos. Pouco importa.
Não é este o caminho que escolhi.

E ter vida
E coragem



Mafalda Veiga - Fragilidade

Talvez pudesse o tempo parar
Quando tudo em nós de precipita
Quando a vida nos desgarra os sentidos
E não espera, ai quem dera

Houvesse um canto pra se ficar
Longe da guerra feroz que nos domina
Se o amor fosse um lugar a salvo
Sem medos, sem fragilidade

Tão bom pudesse o tempo parar
E voltar-se a preencher o vazio
É tão duro aprender que na vida
Nada se repete, nada se promete
E é tudo tão fugaz e tão breve

Tão bom pudesse o tempo parar
E encharcar-me de azul e de longe
Acalmar a raiva aflita da vertigem
Sentir o teu braço e poder ficar

É tudo tão fugaz e tão breve
Como os reflexos da lua no rio
Tudo aquilo que se agarra já fugiu
É tudo tão fugaz e tão breve.

12/09/2005

Assim...

Assim

Hoje, e só hoje
Olha-me
Como se fossemos duas crianças
Abre muito os olhos
Como só tu sabes fazer

Assim


E diz que me amas

Assim



[Hoje as gaivotas voaram meias perdidas num ceu azul novo, quase branco, e cantaram, cantaram muito, tanto que já não se ouviam]

11/09/2005

(Re)Começa...

Há um dia em que se deixa o mundo morrer.
Assim como quando o sol cai desamparado no mar.
Ninguém sabe muito bem como as coisas se passam e ninguém consegue controlar. Há um dia em que o mundo desaba e ninguém repara. E nesse dia perdemos as horas, ou perdemos o motivo da espera. Perdemos o rumo, ou perdemos o motivo para caminhar.

Sem chão. Há dias que ficamos sem chão. Sem horas. Sem caminhos. No dia que o mundo morre.



Recomeça…

Como se fosse o primeiro dia. Escreve a primeira letra do poema e reinventa a tua vida. Numa melodia. E canta. Canta muito.
Faz uma peça. Ensaia. Pinta muito a cara e faz-te outra personagem. Transforma. Sobe ao palco e dança. Dança muito ou faz que danças.
Há dias para recomeçar mesmo quando acabam os dias.
Inventa uma nova história e faz-te personagem. Vive. Num palco encantado. E de vez em quando chora um bocado e torna-te mais real.

Termina…

Escolhe o teu final. E espera pelas palmas. As merecidas e as compradas.
Faz de conta que o mundo morreu ali e…

Recomeça…

Inventa uma nova peça…


E um dia o mundo começa. As horas voltam a correr. Carrossel de horas para viver. Voltamos a pisar um chão qualquer. As melodias voltam a ser abraços.
Descemos do palco.


E tudo

Recomeça...

02/09/2005

Faz segredo (II) - A explosão

Houve uma grande explosão da qual ninguém falou.
Uma explosão universal, das coisas banais. Uma explosão sem nome, sem definição.
Um rebentamento natural de nós no mundo. Tão natural que fomos acusados de atentado contra o pudor.
Houve uma explosão. Uma explosão do nosso tamanho. E podes crer que somos grandes, tão grandes como aquilo que temos dentro de nós.
Ninguém se assustou com tamanha explosão. Não houve barulho, nem brilho, nem coisa nenhuma fora do normal.
Foi uma explosão normal de coisas banais. Foi uma explosão natural.
Foi um rebentamento universal do que nos enche a vida, do que nos molda a alma.

Ninguém se apercebeu. E ninguém sabe ainda que explodimos naturalmente. Não contamos a ninguém.
Ninguém saberia entender o que se passa quando explodimos de dentro para dentro. Numa explosão interna de alma. De mim para mim. De ti para ti. De mim para ti. De ti para mim. Ate quando já não sabemos quem sou eu e quem és tu.
Numa explosão sem cor. Sem dor.

Houve uma explosão. Uma explosão universal. Do tamanho do que temos dentro de nós. Ninguém viu. Fizemos segredo. Eu e tu, confusos num nós misturado pela força da explosão. Os únicos feridos somos nós. Sem arranhões. Sem sangue. Sem dor.

Fica só a marca de uma grande explosão da qual ninguém falou.

…Não fales ainda. Faz segredo

[Nunca tem sentido dar destino as palavras eternas, porque os destinos são mortais. Mesmo assim não posso deixar passar ao lado o ser que se imortaliza em mim por me ensinar o significado das grandes explosões, e das coisas todas sem sentido. Sem nome. Que me ensina sem querer a ver as coisas de um outro prisma.
Continuas sem nome, porque o teu nome é mortal.]

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