27/03/2005

Hoje conto-vos uma história de Pascoa, ou pelo menos uma história do meu almoço deste dia.

Por esta altura do ano a minha familia tem por habito almoçar em casa da minha tia. E hoje, claro, à hora marcada la estavamos nós.
As conveniencias de sempre, os sorrisos de sempre, os abraços e os beijos mais sinceros daqueles que nos são proximos e aos quais estamos ligados com qualquer coisa que não sabemos rasgar.
A meio do almoço, numa daquelas conversas da vida, entre politica, futebol, filmes, musicas e propria familia... nesse emaranhado de palavras a minha mãe solta um:

-Tenho de perguntar a "fulana" como esta a "sicrana"...

O qual tem como resposta da minha prima

-Mas o que tem "sicrana"?

E de um momento para o outro todos se calam, os olhos fixos nos pratos e as lagrimas a dançarem nos olhos. A minha mãe toma coragem, fala de voz baixa, como se não quisesse que a ouvissemos.

-Tem cancro, meu amor.



É este o pão nosso de cada dia, meu deus. As más noticias atropelam-se. Correm para nós. Fé? Justiça divina? Perco a força para acreditar e agarro-me ao mais forte tronco para o vento não me quebrar as asas.

Uma boa pascoa para todos.

22/03/2005

[É uma história de crianças. Uma daquelas histórias que todos vivemos. Tem o céu como horizonte, e o coração como banda sonora.]

Éramos tão pequeninos, assim como dois grãos de areia no meio de um deserto inteiro. O que eu lutei para chegar ate ti. Passei por cima de todos, passei por cima de mim. O meu horizonte eras tu.

Cheguei…

Abriste a porta com um sorriso nos lábios, deixaste me entrar no teu coração. Obrigaste me a entrar… nunca te ensinaram que não se pode aprisionar o amor? O teu coração mantinha me sufocada em ti… o bater do teu coração obrigava o meu a bater ao mesmo ritmo. Eu não queria assim.

Eu não quero assim…

Sempre gostei de ouvir a minha música e dançar ao som da minha voz, sempre gostei de controlar a minha vida desnorteada. Mas tu eras uma âncora pesada. Um peso forte demais para mim.
Eu mexia-me demais, corria demais, era alegre demais, amava-te demais…
Mas e o céu? Tu tapavas me o céu, a lua, as estrelas. Eras tu em cada esquina, em cada sonho, em todos os pensamentos. Acreditas-te agora em mim? Com a dor do pontapé no cu que eu te dei? Foi um pontapé em mim, naquilo que eu era, naquilo que eu não queria ser.
Sei agora, com a certeza certa do fim, que sempre foste tu.

Conheci-te cedo demais… amei-te cedo demais…

Acredites ou não… Sei que seria feliz contigo, hoje e sempre.
Mas não quero, és demais para mim, deixo de ser eu para ser tua… E nunca, meu amor, nunca me vou perder em ti, nunca vou deixar que o meu coração bata pelo teu…
Não quero!

Conheci-te cedo demais… amei-te cedo demais…



Mas eu vou estar sempre aqui... Onde a dor é mais leve e o ar não cheira a ti. Aqui onde a minha banda sonora é o bater do meu coraçao, aqui onde as minhas mãos desenham corações para ninguem ver.
Vou estar sempre aqui a espera de aprender a te amar sem me matar.

16/03/2005

Sinfonia dos sonhos

Inventaste agora uma nova sinfonia
Uma maneira diferente de perceber o que eu já te dizia
Mas ouve me agora
No presente do dia
A nossa melodia acabou
No tempo passado descompassado
De outra nota trocada, desafinada
Que já não há
Que já não ouves
E que eu já não canto

Chegamos tarde ao final da canção
E quando demos por nós
Já não havia palmas para bater
Nem vénias para fazer
Julgo que
Uma nota a menos
Um tempo mais rápido
Uma composição mais forte
…e o vento seria brisa

E quando dou por mim
Entre murros e paixão
Tu não estas
Meu amor, és fruto do meu coração
Numa canção inventada
Entre sonhos e realidade
Eu e, mais eu, o mundo na minha mão

14/03/2005

Hoje queria escrever-vos, assim como quem conta uma historia, assim como quem escreve a um amigo de longa data. Queria-vos contar a verdade pintada por mim, a verdade nas cores que eu invento. Queria transmitir alma. Queria ser alma. Mas percebi que sou eu que invento o azul do céu que me afaga a cabeça. E que a minha alma deixa de ser minha quando a escrevo por palavras inventadas por outras almas. E que a verdade deixa de o ser quando a passo para outro que não a tem.



Mesmo assim quero vos contar a única história de amor que conheço.

Tinha três anos… E não cresci desde então. Parei naquela altura, ou pelo menos durante muito tempo assim desejei. Não me lembro de muita coisa daquela tempo. Lembro-me que morávamos numa pequena casa. Lembro-me que tinha de subir uma enorme escadaria para chegar ao teu quarto. Não tenho ideia de te ver de pé. Sempre que me lembro de ti, vejo te deitado naquela cama, branco e magro.
Sabes Pai nunca gostei de nenhum homem como gostei de ti. E eu tinha apenas três anos. Era uma criança e já sabia amar… E como amor só há um, nunca voltei a amar. Não assim. Não com aquele poder.
Teria dado a minha vida pela tua, se me tivesse apercebido a tempo que o tempo estava a acabar. Bastava um sorriso teu para me dar energia para uma semana. Eras tu que me enchias o olhar.
Lembro-me de dias que não paravas de me chamar. E lá subia eu as escadas, com a pressa de te encontrar e de te poder satisfazer um desejo.

Tudo, pai. Tudo por ti.

Sempre que chegava ao teu quarto estava ofegante, as escadas eram bem maiores do que eu, quando me vias entrar sorrias e dizias-me

Sorri para mim princezinha

Lembro-me. Não sei porque é que a minha memória guardou tanta coisa tua.
Sei que tudo o que queria era correr contigo na praia, queria que me pagasses ao colo e que andasses comigo a roda.
Nunca o fizeste.
Eu não me importo.
Deito-me ainda hoje muitas noites a ouvir-te cantar para mim,
Sabes pai, foste o homem que mais amei na minha vida e nem me deixaste saber o que era amar.
Se pudesse voltar atrás no tempo daria mais um abraço, mais um beijo, mais uma lágrima, mais um sorriso, mais um olhar…
Tudo que dei por ti parece pouco.

É sempre pouco amarmos, meu amor.

[Esta pequena história de este enorme amor é da minha mãe. A ela, por ser a mais bela das rosas, a maior das mães. Por ela... Sempre. Amo-te]

06/03/2005

Sabias que me podias fazer feliz?


Sempre precisei de tão pouco...
Dá-me a mão
Um beijo
Um abraço

04/03/2005

Troca o passo

A vida trocou-me o passo.
Arrancou-me as transas do cabelo. Tirou-me as sapatilhas e as calças de ganga rasgadas. Fez-me perder as canetas e os papéis.
A vida brinca comigo as escondidas e esconde de mim tudo aquilo que amo.

Tinha poucos anos (tão poucos como agora, ou pouco menos) tinha o cabelo comprido sempre preso numa transa mal feita. Tinha as calças rasgadas de subidas e descidas ao cimo do mundo. Tinha as estrelas nos olhos. A alma na lua. Andava com os olhos presos no céu e com a boca a sussurrar poemas inventados

Troca o passo
Vem o vento
Um abraço
Um abraço

Escondia as mãos nos bolsos. Nos lábios trazia amarrado um sorriso do tamanho do mundo. Uma felicidade de quem não conhece outra coisa. O meu passo sempre demasiado apressado para quem nem sabia ao certo para onde ia. Não sei qual o meu cheiro. Não sei qual a minha marca. Ia murmurando poemas inventados

Vira a esquina
Esquece a vida
Vai em frente
Põe te a deriva

E num daqueles acidentes da vida, trocamos a volta aos deuses, fizemos das nuvens testemunhas e pedimos abrigo a lua. Numa dessas esquinas que cruza os nossos caminhos. Tropeçamos. Encalhamos.
Murmurei-te ao ouvido

Esse cheiro que não é meu
Esse olhar tão teu
É da lua meu amor
É da lua

A transa desfeche. A noite virou dia. O vento levou as nuvens. Comecei a andar mais devagar [ate que deixei de andar]. Tinha os olhos virados para ti. Os meus olhos ficaram fundos sem te ver. Comecei a olhar-me no espelho. Larguei as calças de ganga rotas. Nunca mais subi o mundo. Deixei de escrever. E pouco depois deixei de murmurar.
Perdi-me em ti e, já não me sei achar. Não quero.

Perdi a graça amor
A graça de quem sabe dançar
Sou agora o que a vida me deixou
Troco o passo
Troca o passo

Não fui eu que escolhi o caminho que percorria, não fui eu que te mandei aparecer. A vida escolheu-me para sofrer por ti. Meu amor.

03/03/2005

Eu como os outros

Vivo o drama de ser anónima

Não há flash que me ilumine a cara, nem revista que me sirva de espelho. Não há pessoas anónimas atrás de mim… Sei o nome de todos aqueles a quem digo olá e a quem dispenso um sorriso. Não escrevo o meu nome nos cadernos dos meus amigos e, quando o faço dizem-me com ar de zangados “apaga lá isso”. Ninguém da valor ao meu nome escrito num pedaço de papel e, ninguém tem um poster meu lá em casa.

Vivo o drama de ser anónima

Ninguém me aborda na rua como se me conhecesse há anos e, ninguém sabe tudo sobre a minha vida. Ninguém compra um bilhete só para estar no mesmo sitio que eu [embora quando ando de autocarro essa coincidência suceda varias vezes]. Ninguém fala de mim nas esquinas da vida e, não apareço em nenhum programa de televisão.

Vivo o drama de ser anónima

…E nem vocês, que me encontram todos os dias, sabem de mim…


Em todo o caso chamo-me Patrícia.
Muito prazer.



Procurem por mim...

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