26/12/2005

Esta é sobre ti
tem amor e ódio
é para ires ouvindo nestas horas d'ócio
ínfima parte de um sonho perdido
libertei-o, já o tinha esquecido
é um sinal...


Sei que me escapa qualquer coisa quando faço da minha noite dia. Mas não me salvo. É eterna a falta de sono, ou a vontade louca de não sonhar.
Não baixo os braços. Não desisto. Eventualmente um dia o sono vem e eu não mais acordo.
Há um grito no fundo, alto demais para se perceber.
Há uma cegueira qualquer que me ilude a visão.


Espero o momento
na sombra da rua
ouço uma voz que me lembra a tua
passei pelo risco de sofrer
por não ler os teus sinais
é um sinal...para recomeçar...


Um dia, ao acaso, vem o destino roubar-me as escolhas. E vem a sorte controlar-me os passos. Um dia é dia de recomeçar e alguém lança os dados por mim. Um dia acaba o jogo e eu ganho o que ninguém chegou nunca a perder. Um dia acabam-se as esperas e os contratempos. Um dia o despertador toca e eu vejo que foi sonho esta vontade de não sonhar.
E que tu não entras, em nenhum caso, neste jogo infinito de morrer e nascer de novo.

Quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera


Farto-me dos convenientes. Das promessas esquecidas. Farto-me das esperanças. Deixo que seja escolha minha a falta de escolha. E grito muito por saber que ninguém me ouve. Grito mais ainda. Tudo o que quero…

Quero ver gente, quero ver a terra
chegar a casa e ter alguém à espera
quero um presente, quero ser bera
quero ser submissa, quero ser a fera


Eventualmente é uma escolha minha, eventualmente alguém escolheu por mim… Começar a jogar de novo e ter a necessidade estúpida de tirar sempre um nos dados, ter a necessidade estúpida de preencher todos os espaços, de dar todos os passos. Porque é mais gratificante o caminho do que a vitoria. E ver tudo. Ser tudo. Ter tudo.

Leva-me as areias quentes
que me instigam os sentimentos
que me deixam nua perante os elementos
ensina-me a escavar objectos sem estragar
para que sorrir seja sempre vulgar


E sei que vou cair de novo… Fazes parte do jogo. Mesmo sem sonho. Mesmo sem esperança. Mesmo sem futuro nenhum. Porque é o destino que me leva a ti, sem eu escolher. Ao menos que a repetição seja doce. Que seja completa. E única. Que o jogo não pare. Que os dados não se percam e que eu saiba desta vez partir. E que te saiba levar comigo… Porque o destino te escolheu para mim, ou porque eu escolhi que o meu destino te escolhesse. Volto atrás. Apanho-te de novo. Lanço os dados. Agora contigo, para sempre.

Dá-me de beber, finas gotas desse mel para que o meu saber não
esteja só no papel
incita-me a lembrar
o teu gosto pelo mar
para que um dia fique pronta a zarpar
esperar que amanha tudo seja diferente...
e tu possas estar presente...



Mesa - Esquecimento



13/12/2005

Vi no espelho o reflexo
do retrato
de uma coisa qualquer chamado
efeito.
Dei nome ao acaso...
defeito.

Virei costas ao destino, quando o achei perfeito.

Voltei a página e li de novo.
Caí no erro fonético
de achar poético
o sonho do outro.
Não me engano
quando o erro é sagrado.
Quando é pecado santo.
Santo erro que cometo.
Não me meto entre o reflexo.
Entre o fonema do poema
que é contrario ao verso.
Sai disperso.
E já não o vejo.
O reflexo.
Solta a brisa a melodia
Do quase profano
Quase divino
Erro sagrado
Que cometo a cada dia

Virei costas ao destino, quando o achei perfeito.

O defeito
do efeito
do reflexo
do retrato
do espelho…
Eras tu

04/12/2005

Hoje que posso ser quem quiser... Sou tua

A chuva parou e fiz deste silencio nocturno o ponto de partida que precisava.
Nada. Não se ouve nada. E é deste nada absurdo que tudo começa.
Já não sei de mim. Perdi-me numa rua qualquer na vida de alguém. Mania minha de me entregar toda de uma vez e de me abandonar em vez de fugir. Hoje sei que fiquei por lá, não sei é bem onde.

Nada. Coisa nenhuma. Vazia.
Nada. Silencio. Vazio.

Não sei de mim. O que me dá uma certa mobilidade. Hoje posso ser quem quiser. E é neste nada despropositado que me invento. Hoje tudo começa no nada. E o nada que sou é tudo o que tenho.


(Re)Invento-me.
Hoje posso ser quem quiser.
Escolher o caminho que quiser.

Abandonei-me no caminho de alguém e, por lá ficarei eternamente – pelo menos por lá ficara o que eu fui um dia. – Hoje já não sou quem era. E já nem sei de mim.

Não se ouve nada. Escolho o vazio para me encher.
Alinho as fotografias todas. Vejo-lhes a cara. E escolho um. Ao acaso. Ao som do coração (porque não deixo de ser romântica, mesmo quando deixo de ser quem sou).
Ainda não lhe sei o nome. Não lhe conheço o cheiro.

Guardo a fotografia dele no bolso. Encho-me agora de esperança. E torno-me caçadora neste meu novo papel. Ele não me conhece a cara.
Hoje posso ser quem quiser
E eu quero ser dele… Sem limites e sem autorização. É assim que me crio de novo, para voltar a me abandonar um dia mais tarde. Quando a esperança desabitar o meu corpo.

Hoje sou dele… E serei dele para sempre. Porque no final eu fico sempre por lá.

Porque somos sempre dadivas na vida dos outros. Porque temos de nos saber dar, para um dia podermos receber.

Eu – soma de todos os eus que já perdi – continuo a espera de alguém que caia despropositadamente na minha vida. Como um (feliz) acaso. Uma dadiva. Que venha para ficar sem me pedir nada. Que me tire o sossego. O fôlego. E que me faça viver. Sonhar. Que me faça sua sem pedir.

Obrigada por teres vindo, obrigada por te deixares caçar. Hoje sou tua. E és sem duvida a dadiva que reservaram para mim.
Hoje posso ser quem quiser… Só não me posso perder mais.
Hoje sou eu completa. Em ti. Em mim. Como nunca.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails