22/01/2009

Duas gotas




E estas aqui, onde sempre estiveste desde que começamos a falar. Não me lembro do motivo que nos juntou, nem quais foram exactamente as primeiras palavras, sei que desde então estas aqui. Nunca fomos de falar demais, nunca contamos segredos no escuro da noite, nunca partilhamos histórias daquelas que nos fazem chorar. No entanto continuas aqui. E és, talvez, a pessoa que melhor me entende. Sabes do que falo mesmo quando eu pouco falo. Sentes o que eu escrevo e, eu embalo-me nas tuas palavras antes de dormir. Somos feitos da mesma matéria.
Somos pequenos demais para o turbilhão de coisas que o mundo engloba. Choramos muito. E, acordamos todos os dias a pensar que vai ser um dia diferente, mesmo que vamos ao mesmo cafe, mesmo que leiamos os mesmos livros, que nunca acabamos, mesmo que sorriamos para as mesmas pessoas, mesmo que cheguemos a casa de mãos a abanar, como sempre. Voltamos a dormir e a pedir um dia diferente amanha. E, acordamos sempre num dia diferente que acaba por ser igual.
E somos diferentes do resto do mundo que nos parece todo igual e, somos diferentes por nos acharmos diferentes, quando toda a gente nos acha igual. Sofremos muito, porque no fundo gostamos de sofrer. Vivemos a tropeçar nas nossas asneiras e dizemos que o fazemos de proposito. Seguimos sempre o caminho mais difícil porque não sabemos ser fáceis. Vivemos a espera do príncipe encantado, num cavalo branco que sabemos que não vem. E sonhamos muito, sonhamos demais. E choramos mais ainda por sabermos que somos pequenos demais para realizar os nossos sonhos.
Estás na parte de dentro do que escrevo, estas do lado de cá do que sinto e, é por dentro, onde nos tocamos, que somos iguais. E, as coisas todas que não te digo, as palavras todas que poupo em não falar contigo é só por saber que vives do lado de dentro de mim, onde sei que me conheces de cor e, onde o silencio é a minha dor. Tu que sentes o mesmo que eu, tu que estas no avesso do que sou, és a parte de mim que não quero partilhar.

Somos duas gotas num mar rabugento.






[Tu sabes quem és]

20/01/2009

Eu fiquei imóvel, no canto onde me deixaste. Não me lembro de pestanejar. Não me lembro de chorar. Sei que fez Sol e, depois chuva. Sei que o dia se fez noite e a noite teve fim. E eu fiquei lá quieta, meio amarrotada, com a cabeça encostada aos joelhos. Não levantei a cabeça a tempo de te ver partir, por isso permaneci na esperança que ainda lá estivesses, para sempre, como sempre dissemos que seria.
Eu estava lá, no canto onde me deixaste, quieta em silêncio. E foi a tua mão a amansar-me os cabelos que me fez tremer. Era o teu cheiro de novo a invadir-me os sentidos. Permaneci, ainda assim, quieta, imóvel, sem pestanejar, com a cabeça encostada aos joelhos sem te conseguir ver.
Sentaste-te encostado a mim. Encostaste a cabeça aos joelhos e, esperamos. Voltou a fazer-se noite e, frio e, voltou o Sol e, depois a chuva. Não pestanejamos.
Quando te olhei finalmente e, tu fixaste os teus olhos em mim, lembrei-me das vezes todas em que te pedia para ficares acordado só para te poder olhar nos olhos, em silencio. Lembrei-me das vezes todas que me abraçavas contra o teu peito e quase me sufocavas por não saberes fazer melhor. Lembrei-me das noites que chorei no teu colo. E daquelas noites em que abriste a tua alma a mim, mesmo de olhos fechados. Lembrei-me das vezes todas em que os teus lábios quentes me calavam as dores. Lembrei-me das vezes todas em que as tuas mãos me impediram de cair.
Voltaste-te a levantar, passaste a tua mão no meu cabelo e, voltaste a partir. Desta vez tinha a cabeça levantada e, os olhos aguados conseguiram ver a tua silhueta a desaparecer no fundo da rua. Tinhas de partir e, eu só queria saber partir contigo. Mas eu... Eu fique imóvel, no canto onde me deixaste.

19/01/2009

Restos

Há restos de mim espalhados pelo chão. Em pedaços pequenos de mais para serem considerados partes de mim. São restos. Espalhados na habitual desorganização desta casa, já mais velha que os restos que os outros por cá deixaram. São restos que ficam para trás, das histórias que vivi, desde que me permiti viver. São restos meus. Restos teus. Restos do resto do mundo que passou por cá.
São pedaços de histórias, fragmentos de amores. São poemas escritos em cima do joelho. São flores secas. São cartas por enviar. São fotografias rasgadas.
São pedaços do que fui, restos do que sou.
Há restos de mim espalhados pelo chão. E, na minha tentativa quase demente de me manter solida, colo cada pedaço do que restou de mim. É desfigurado o que sobrou de mim. São restos que não se voltam a colar.

Levantas os teus olhos para me olhar assim
Procuras cá dentro onde me escondi
E eu tenho medo, confesso, de dar
O mundo onde guardo tudo o que mais quis salvar
Tu dizes que não há outra forma de ficarmos perto
Não há como saber se o caminho é o certo
Só pode voar quem arriscar cair
Só se pode dar quem arriscar sentir



A colar cada pedaço do mundo que se partiu dentro de mim


Mafalda Veiga - Abraça-me bem

17/01/2009

Xaile - Onde for o amor






Naveguei por sete mares
Naveguei, naveguei
Naufraguei nesta saudade
Renasci e voltei

Sempre foi a minha sina
Voar só em liberdade
Brilha o sol na tempestade
Naveguei, naufraguei


Não sei se fui eu
Ou o meu sonhar
Mas sei que só fui
Onde foi o amor
Talvez ainda vá
Atrás de um luar





Mas sei que só vou
Onde for o amor
...



13/01/2009

Coisas que ficam por dizer...




Não me lembro do ultimo beijo, nem do sabor das lagrimas que não choraste. Não me lembro das ultimas palavras, do ultimo suspiro dado perto do meu pescoço. Não me lembro de te ver partir, nem sei quando chegaste, para que te tenha sido permitido partir. Sei que me esqueci de te colocar no bolso do casado o papel amarrotado que trago comigo desde que te vi. Talvez se o tivesses lido saberias o caminho de volta.



"És o dia depois de amanha que me fará querer viver para sempre"


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