08/09/2010

Cicatriz

Rasgo-te de dentro para fora. Esqueço o tempo e o espaço e volto a erguer-me dentro de ti. É despropositado o nosso encontro. É acompanhado de desassossego o nosso (des)amor. De certa forma perdi-me em ti há muito tempo atrás e, hoje, estou aqui, em ti, para me resgatar.
Em todo o tempo que foste apenas tu. Todos estes dias que vagueaste sozinho. Todos estes anos que encaraste só teus. Eu estive lá. No fundo de ti, onde me guardaste antes de partires, onde me deixei morrer devagar. Durante todo este tempo permaneci em silêncio. Assisti às tuas quedas, ri-me dos teus percalços. Em nenhum momento foste só tu. Nenhuma vitória foi só tua. Nem por um segundo me afastaste de ti. Limitaste-te a esquecer. A esquecer-me. E eu limitei-me a permanecer.
Hoje, rasgo-te de dentro para fora. Revolto os teus sentidos. Hoje anuncio guerra ao teu ser.

A marca que deixaste em mim desapareceu. O tempo, o espaço e, o vazio dentro de mim fez me sarar. Já quanto a ti, que te defendeste tão bem de mim, envolto em muralhas, cheio de artimanhas e enredos, esqueceste-te que o sítio onde eu morei nunca foi o lado de fora. Onde te amei foi bem mais perto do que realmente és, do que tu alguma vez conseguiste ver. Não creio que conheças o teu lado de dentro tão bem quanto eu. E por isso deixaste me ficar num canto, esquecida.

Hoje ergo-me. Continuo sem muralhas, mas construí armas ao longo dos anos. Não me defendo de ti, já não preciso, perdeste a capacidade de me magoar. Rasgo-te devagar, passo a passo, cada pedaço do teu ser. Deixo o meu canto e vagueio por ti. Hoje estamos em guerra. Hoje desprendo-me das teias onde me prendeste. Renasço, ergo-me e rasgo-te.

Hoje saio de ti. Sem cicatrizes. Sem mágoa. Hoje abandono-te e, o buraco que fica no meu lugar nada nem ninguém to vai preencher. Hoje és vazio e mutilado. Agora sim, estás finalmente sozinho. Cicatrizado.


Rasgo-te de dentro para fora. Jamais voltaras a ser quem eras.

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