24/09/2011

Esgota(ste)-me

Esgotei as esperas. Esgotei as lembranças. Esgotei as lágrimas. Esgotei as noites acordadas. Esgotei os pesadelos. Esgotei as horas gastas na tua presença. Esgotei o meu tempo, o teu e, o de todos os relógios do mundo. Esgotei a raiva, o rancor, o ódio e, o amor. Esgotei-me de ti. Esgotei-te em mim. Esgotei-me.

Sei que de certo já te esqueceste de mim, do que fomos, do que fui por ti. Sei que de certo já não perdes dias, nem horas, nem um segundo apenas a pensar em mim, em nós, no que fomos, no que quisemos ser. Sei que não fomos quem queríamos, não chegamos onde íamos. Sei que nos perdemos, que te perdi, que me perdeste, que me perdi, que te perdeste. Sei que já não somos nada, e que o futuro já não é nosso. Ainda assim, sei que te amei, que me amaste. Sei que me amei mais enquanto fui tua, sei que chegaste mais perto de ti enquanto foste meu. Sei que procuramos a perfeição, sei onde erramos. Sei porque falhamos. Sei também agora que não tivemos culpa. Somos partes diferentes da mesma moeda. Sempre próximos. Sempre unidos. Mas nunca do mesmo lado. 

Se ainda me consegues ouvir. Se ainda há em ti um pouco do que conheci. Quero que saibas que estou bem.
Esgotei todos os caminhos. Esgotei todas as possibilidades.
Não sou possível em ti. E, isso, hoje basta-me. 

Fecho os olhos e adormeço em silencio, de mente vazia. Sei que o sono, uma vez por outra, ainda me vai fazer rasteiras. Ainda vou cair num sonho contigo. Esgotei-me. Esgotei-te. Mas nunca hei-de esgotar os sonhos.

18/09/2011

Vai ou Fica (Tanto me faz)


Pegas-me pela mão

- Vem comigo.

Arrastas-me por vielas escuras, a noite fez-se cedo hoje, o Verão já partiu e, sinto o frio percorrer-me o corpo devagar num arrepio lento, debaixo para cima, ao mesmo tempo que a minha respiração se prende por um segundo na esperança de te reconhecer o passo. Não te reconheço nem o passo, nem a voz, nem o cheiro. Nessa tua forma desconhecida segues ligeiro a minha frente, firme e veloz. Não me debato, não hesito e, sigo-te já sem mesmo precisares de puxar por mim. A tua figura ganha vida nas poucas esquinas em que a lua se deixa ver. Não te reconheço nessa tua pose altiva e segura. Sei que seguir-te faz parte do plano, sei que a tua mão na minha é coisa acertada.
Quando paras, largas-me a mão, viraste para mim e colocas as tuas mãos nos meus ombros.

- Pará.

Não te reconheço a voz. A tua cara agora desprotegida do escuro deixa me adivinhar quem és. Noutro dia, num outro tempo, numa situação diferente, desabaria a tua frente. Sou pó na tua presença, dissolvo-me nas tuas palavras e derreto-me nos teus braços. Mas hoje, nesta noite escura de princípio de Outono, sou mais forte e tu nessa tua forma desconhecida és só mais um fantasma com pouca pressa de partir. Podes ficar o tempo que quiseres, poder perseguir-me por ruas sombrias, podes me caçar nas vielas da cidade. Hoje, amanha e, sempre. Já não sou tua. Já não te quero. Já não te preciso. Parte quando quiseres.

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