31/12/2008

Perfume

Pego no meu melhor perfume e espalho-o por toda a casa, directamente nas paredes. Não me esqueço de nenhum canto, porque em todos os cantos, mesmo os mais escuros, foram cantos onde te amei. Deixo o frasco de perfume, vazio, pousado em cima da nossa – perdão, da tua – cama. Desço as escadas com pouca pressa. Porque nunca tive pressa de cá chegar. Bato a porta com força moderada. É velha a porta dos nossos sonhos e, hoje, ainda não é dia de a deitar a baixo. Rodo a chave uma só vez. Deixo a casa trancada e as janelas todas fechadas. Esqueço a morada. Subo a rua ate deixar de saber onde estou. Qualquer caminho que me leve para longe de mim é um bom caminho e, só assim chegarei onde quero. E vou. Sem despedidas, porque as palavras já as gastamos todas. Sem beijos. Sem cor. Vou, vazia de nós, vazia de mim. Vou sozinha.

Quando chegas a casa abres a porta um pouco empenada, já há muito que não voltavas lá a nossa – tua – casa. Reparas que o pó se foi acumulando, algumas teias de aranha desenham sombras dançantes no tecto. Estranhas. Nunca viste a casa assim, meio abandonada, um pouco sombria ate. A medida que vais avançando ao longo do corredor sentes o meu perfume. Abres um sorriso.
Mal sabes tu que de mim, aí, resta uma sombra do que fui, um odor bolorento do meu amor por ti. Mal sabes tu que na tua prolongada ausência eu morri, aos poucos, devagar e, sem dor.

Enquanto caminho nas ruas frias da cidade que me acolheu, sinto no fundo do bolso uma chave.
Há sempre uma forma de voltar atrás. Há sempre uma maneira de regressar a casa. Vai haver um dia em que os nossos sonhos rebentam dentro de nós e eu volte a saber a morada do meu coração. Hoje é só a chave da porta que eu não sei abrir.

Se abraçasses a noite
Saberias de mim

18/12/2008

Coisas que se dizem...

----------------------------


- Queres que volte amanha?
- Não.
- Então?
- Quero que fiques para sempre


----------------------------


- Porque tens medo de ficar comigo?
- Porque seguras no meu coração só com uma mão e tenho medo que o deixes cair

(Olhando para as mãos vazias)

- Mas não está cá nada.
- Vês? Por isso não quero ficar contigo.


----------------------------

Coisas que se pensam...








Apanha os frutos que caiem ao chão.
É quase Verão dentro de nós.







[senti a necessidade voraz de escrever a palavra Verão em qualquer lado, pode ser que me aqueça os dedos]

Quarto Escuro [O lugar de dentro]

Ele despertou, meio atarantado e não pestanejou, abriu muito os olhos e procurou uma ponta de luz que se pudesse ter esgueirado por uma qualquer janela mal fechada, não encontrou nada senão escuridão.


Não há janela mal fechada que permita um pouco de luz nos sítios que ficam por
dentro de nós.



Levantou-se assim mesmo, deu quatro passos paralelos à cama e apalpou no ar ate encontrar o sofá. Conhecia o quarto mesmo às escuras e, apesar de se sentir um pouco atarantado não perdeu o equilíbrio, encontrou a sua roupa e vestiu-se. Fez pouco barulho para não a acordar, a ela, que descansava do outro lado da cama.
Apalpou a parede ate encontrar a porta, levou a mão ao puxador, estava trancada. Voltou a fazer o caminho de regresso ate a cama e procurou em cima da mesinha de cabeceira a chave. Nada. Afastou-se da cama e procurou na parede lateral por uma janela que pudesse abrir para deixar entrar um pouco de luz.

Mas não havia janela.

Despiu-se e meteu-se na cama de novo. Onde ela já não estava e, ele continuava a ignorar a sua ausência.
Amanha tentaria de novo.



Porque há um quarto escuro onde te guardo dentro de mim. Um dia ao olhar para lá vou ver uma pequena mancha escura apenas. Um dia vou deixar de te ver aos pulinhos de um lado para o outro a tentar sair de mim.
Talvez nesse dia haja uma janela mal fechada pela qual passe um pouco de luz. Talvez nesse dia abra a porta e tu prefiras ficar.

02/12/2008

Cala-me

Dizes que falo de mais, que me exprimo de mais. Dizes que digo parvoices e, eu explico-te que é parvo o que sinto. Dizes que há verdades que não se dizem, pedes que me cale, dizes que não me queres ouvir, dizes que não entendes do que te falo quando te falo a 200km/h, numa velocidade de pensamentos estonteante. E usas os teus truques para me manter calada. Falas de mais para me veres fascinada pelas tuas palavras enquanto as minhas ficam presas na garganta e não saiem. Fazes-me rir para abafar as coisas que poderia dizer, quando tu não me queres ouvir. Ocupas-me o tempo e o espaço, para eu perder as ideias que quero partilhar. Cala-me.
E eu não me calo, partilho o que sinto, o que não sinto e o que gostaria de sentir. Conto-te histórias minhas e dos outros. Falo-te do tempo, da falta de tempo, do mau tempo. Falo-te das coisas cor-de-rosa e das menos coloridas. Falo-te em princesas. Falo-te de fadas e de bruxas. Falo-te de coisas que nunca falei e, falo porque me apetece. Falo das coisas más e das coisas boas. Falo-te só por falar. Falo-te para manter os teus olhos presos aos meus. Falo-te para te poder ver rir de mim. Falo-te só para te mostrar a importância que tem ser ouvida por ti. Falo-te só para que as minhas palavras ao entrarem nos teus ouvidos levem partes de mim e, para que encontrem moradia dentro do teu coração. Falo-te para ficar do lado do avesso do que és.
Um dia, do lado de dentro, poderei falar-te ao coração e, aí sim vais me saber calar.



Cala-me, prende os meus lábios aos teus.
Cala-me.

24/11/2008

O amor em menos de 100 palavras

Na insistente negação de ti em mim, vais ganhando forças. Na minha teimosa solidão vais conquistando o teu lugar.
A tua existência em mim é talvez o traço mais forte da minha personalidade. O espaço que ocupas em mim é certamente o melhor espaço que tenho para oferecer.
Com medo que seja pouco, com medo que exijas mais, com medo de não te ser suficiente, nego-te. E, afirmo que ainda nada te dei ao mesmo tempo que arranco o coração do peito e to ofereço.

É teu.
Sou tua.




Make my heart a better place
Give me something I can believe
Don't tear me down
You've opened the door now, don't let it close

18/11/2008

Escondidinhas

Encostei os braços à parede e, a cabeça aos braços. Fechei os olhos e contei ate vinte. Quando me voltei de novo, abri os olhos e, quase ceguei. Não dei atenção aos pormenores, raramente dou, e na pressa de te encontrar desatei a correr. Corri durante quase uma hora e de ti nem sinal. Desisti. Sentei-me no chão encostada à parede, de braços cruzados, a soluçar.
E lá vieste tu, como sempre, quando eu já tinha desistido de te encontrar. Pegaste-me na mão puxaste me para ti, deste me um beijo

- Começamos de novo?
- Oh, eu nunca te vou encontrar...


Viraste-me costas e quando te ias afastando disseste

- Vá, conta lá e desta vez procura-me mesmo.


O jogo era sempre o mesmo.
Encostei os braços à parede e, a cabeça aos braços. Fechei os olhos e contei ate vinte. Quando me voltei de novo, abri os olhos e, segui as tuas pegadas. Desta vez sem correr e, de olhos bem abertos. É a calma que me leva a ti, é a importancia das coisas pequenas.
E lá estavas tu, sentado, de olhos arregalados a olhar para mim.

Sentei-me ao teu lado. Às vezes cansam-me os teus jogos - dás-me a mão -, mas nunca me cansarei de ti.



Please keep fighting
Keep fighting
Together we can build something beautiful
Please keep fighting
Together we'll build love

I can't live without you
Could I ever learn how to live with you?

29/10/2008

Luz

Fechava os olhos e concentrava-me. E, na escuridão do meu ser ouvia a música que dava ritmo aos meus passos. Havia pouca luz na sombra do meu destino. Mesmo assim, quando entrava pela porta de casa corria escadas a cima, mesmo sem acender a luz, mesmo de olhos fechados. Havia dias que tropeçava num degrau - sempre o mesmo -, havia dias que os saltava de dois em dois, havia dias que ia a cantar, e uns quantos a chorar. Abria a porta do quarto, que já fazia o mesmo barulho que hoje tanto te irrita, deitava-me na cama de olhos bem abertos e sabia que era a escuridão o meu destino sossegado.
Nunca procurei perceber onde se acendiam as luzes na minha casa. Porque há caminhos que sabemos de cor e outros que não queremos conhecer.

Quando naquele dia de Verão te abri a porta, tinha todas as janelas fechadas, senti-te franzir a testa e sorri. Eras daquelas pessoas que preferem ver o caminho e, por isso te deixei aproximar de mim. Foi a total falta de acordo dos teus sentidos com os meus. Foi a desigualdade do teu ser perante o meu. Eu gosto do escuro, do silencio, do vazio. Tu gostas da claridade, das palavras ditas na altura certa, do abraço apertado.
Não sei como se processou o resto da história, nem quando chegará o seu final. Sei que um dia cheguei a casa, tropecei no degrau de sempre, abri a porta do quarto. Tu esperavas-me no quarto que deixou de ter proprietário individual e passou a ser colectivo. Ao teu lado uma luz ténue, de um candeeiro que eu nunca tinha visto, estava acesa. Parei durante uns segundos, fechei os olhos. Agarraste-me nas mãos, conduziste-me ate a cama.

- Abre os olhos.

E eu olhei-te pela primeira vez sem sombras.
Deixaste de ser o desconhecido esquisito que questionava as minhas preferências.
Não poderia mais negar a tua existência em mim.


- Queres que apague a luz?
- Quero

Tudo o resto foram movimentos indefinidos do que somos quando estamos juntos. No
silencio da escuridão, os teus lábios acharam os meus.
Quando todas as luzes se apagam, há uma luz dentro de nós.

Somos feitos de luz

02/10/2008

No plano que traçaste para atravessar a minha vida, esqueceste-te do principal, do pedido de autorização. E quando já moravas no meu espaço, tiveste vergonha de voltar ao ponto de partida. Eu fui coabitando com a tua existência em mim, dia apos dia, ate que deixei de nos distinguir, e deixei de saber quem tinha feito os planos para nós. Os desenhos que ias fazendo para o nosso futuro eram coloridos por mim, era um trabalho a duas mãos. Quando chegaste e me mostraste os teus sonhos, julguei que era dos meus que falavas.
Sou quem sou porque me quiseste assim.
Havia uma folha de papel no móvel junto a porta de entrada, onde tinhas escrito o teu plano, nunca lhe prestei atenção e, com o passar do tempo foram-se acumulando outros quantos papeis com outras coisas sem importância. Construí a minha vida em cima de um plano que desconhecia por completo. Tu ignoravas o facto de eu ignorar os teus propósitos. E na ignorância da nossa relação vimo-nos sem relação nenhuma.

Fui por breves segundos na minha vida aquilo que fizeste de mim. Fiz dos teus planos a minha estrada. Construí toda a minha personalidade a volta disso. Foi uma fracção de segundos, no total de dias de que é feito a minha existência. Foste uma historia sem ponto final durante tempo de mais.

Quando saíste, exactamente com a mesma pressa com que entraste, tive a certeza que não voltavas mais, porque nunca cá estiveste realmente.

E a casa que construímos nos nossos sonhos é um sonho que nunca existiu.

"I'm not to end in shame
to fight an endless lie
I'm not to play a game
I won't be on your side"

05/09/2008

Quando decidires cair, cai sozinho.

E, se achares que precisas da minha mão na tua
Só mais uma vez, só com um pouco mais de força
Lembra-te que me deixaste sem mãos
Sou vazia sem ti

Quando decidires partir, parte sozinho.

Se precisares dos meus passos a ritmar os teus
Percebe que me deixaste sem ritmo
Sem chão
Sou coisa nenhuma sem ti

Vai e não voltes
Cai e não te levantes

Hoje sei existir sem ti, mesmo que isso me obrigue a não existir.

Breath in Breath out

15/07/2008

Foi a tua voz


Foi a tua voz. Hoje sei. Demorei tanto tempo a perceber, fascinei-me com tantas coisas do teu mundo, tantas coisas de ti, que perdi a essência do que nos ligou. Hoje sei, foi a tua voz.
Mesmo antes de a dirigires à minha pessoa. Quando te ouvia a falar para os outros, lá longe no teu cantinho. A tua voz doce, terna, forte, meio rouca. A certeza que investias em cada palavra. Foi a tua voz. Quando dizias piadas e, fazias me rir em segredo. Quando falavas para os teus amigos, para as tuas amigas, nunca para mim. Mesmo sem saberes, mesmo sem eu saber, foi a tua voz que me prendeu a ti, logo desde o primeiro minuto.

E depois foi uma dança, de truques e malabarismo para chegar ate ti. Inventei historias, enredos e todo o tipo de coisas para te fixar a atenção em mim. Hoje sei, meu amor, foi a tua voz.

Agora dançamos juntos e as nossas vozes cantam ao mesmo ritmo. Hoje é a tua voz que me embala à noite e me acorda logo pela manha.

Hoje sei, foi a tua voz, meu amor.


"Ride me off into the sunset
Baby, I’m forever yours
It’s the way you love me
It’s a feeling like this
It’s centrifugal motion
It’s perpetual bliss
It’s that pivotal moment
It’s unthinkable
This kiss, this kiss
This kiss, this kiss"

05/07/2008

Seca-me a alma quando me bebes as palavras

E, porque me sinto fragil, sem abrigo

Quando os teus pés caminham ao lado dos meus

Devias ser chão

Mas

És baloiço


Perco o controlo do impulso

Balanças um pouco mais, troçando das minhas certezas

Quando perdermos o chão, caimos os dois




Devias ser queda

Mas

És começo

"I gotta tell you what I'm feelin' inside,
I could lie to myself, but it's true
There's no denying when I look in your eyes,
baby, I'm out of my head over you"

01/07/2008

Estoicismo

Estavas sentado em cima das tuas razões, daquelas que te dão segurança. Teimas em ser certo mesmo quando estás perdido. Ris-te das confusões. És sábio em cada decisão, em cada palavra. Racionalizas os sentimentos, as paixões.
És um banco de pedra, um porto seguro, uma estaca, uma ancora.
Tomaste a liberdade de ser pouco livre e de viver condicionado ao que te é conhecido. Não procuras grandes aventuras, desfrutas o que a natureza te dá. Não corres depressa de mais, não esperas tempo de mais, não segues caminho sem certeza do sentido. Não te apaixonas por aquilo que ainda não cativaste.

Estavas sentado em cima das tuas razões. Rodeado daquilo que conheces. No conforto das coisas que te fazem sentir seguro. Perdeste-te um pouco nas tuas certezas, sentaste-te lá naquele banco de razoes, à espera que o caminho ganhasse contornos definidos, para poderes avançar. És assim.
Estóico.

Mantinhas a tua habitual calma e o teu rosto marcado de saberes. As mãos firmes sobre as pernas rectas. Uma aparência daquilo que te tornaste aos poucos, quando tomaste a liberdade de deixar de ser livre.

Quando passei por lá e, me sentei ao teu lado, vi o teu mundo tremer.
Abalei as tuas certezas.

Um dia vais abandonar as tuas razões. Vais esquecer o que te define
E vais correr... Depressa de mais,
hás-de cair e, aprender a apreciar o acto de reerguer. Vais seguir um caminho qualquer pouco certo, em busca de algo que te devolva a vida.
Um dia vou desamarrar-te de ti e levar-te comigo

Há um mundo, pouco racional, cheio de tantas outras coisas, que te quero mostrar

Vais abandonar as tuas razões, as tuas certezas, vais voltar-te indefinido.
Eu mostro-te o caminho.

30/06/2008

Lembras-te de todos os momentos? De todos os beijos? De todas as noites? Lembras-te das tristezas? E das alegrias? Lembras-te das despedidas? Lembras-te dos pesadelos e dos sonhos? Lembras-te das esperas? E dos atrasos? Lembras-te dos abraços?
Lembras-te de todos os dias, de todas as horas, de todos os minutos? Lembras-te de mim? Como eu era? Como nós eramos? Lembras-te de nós quando ainda não existíamos?

Eu lembro-me de ti, de te ver antes de tu me veres. De ouvir conversas de longe para perceber o teu nome. Lembro-me do primeiro beijo. Lembro-me da primeira mensagem. Lembro-me do dia e da hora que me disseste que querias ficar perto de mim. Lembro-me de cada hora que chorei por ti, e de todas as horas que me fizeste rir.
Lembro-me de te virar as costas. Lembro-me de me afastar de ti. Lembro-me de ficar paralisada, à espera que chegasse a hora. A tua hora. A hora de me vires buscar.

E vieste. E o tempo deixou de ser decrescente. Agora conto cada minuto e junto-os aos minutos felizes que fazem parte da minha história. Acertamos as horas e os passos, deixamos de ser desconexos.
Não sei como conseguimos. Não sei se fizemos tudo certo. Não sei se fomos sempre justos. Não sei ao certo se era certo ser assim.

Sei que houve uma hora, num sitio qualquer, que nos cruzamos. E sei que ficamos por lá a inventar histórias. Agora perdemo-nos, como fazíamos antes. Mas já não estamos sozinhos.

Tens me para sempre do teu lado. Em todas as horas, minutos e segundo que me quiseres.
Para sempre...
Pois para sempre é sempre que quisermos.


[Porque eu ainda escrevo cartas de amor]

20/06/2008

Não sabemos muito bem o que fazer com o peso do que carregamos, temos o habito, incorrigível, de amarrar o passado às costas, carrega-lo para o presente e, de preferencia, perpetua-lo no futuro. É natural em nós a falta de força para abrir a mão, para largar o que nos pertence (correcção: o que nos pertenceu).
Mas a vida tem destas partidas, um dia, inevitavelmente, vai nos ser pedido espaço no coração para coisas novas. Saberemos nós arrumar tudo o que já vivemos e, mesmo assim, ter espaço para continuar a viver? Ou será preciso abrir a mão de uma vez por todas e largar definitivamente as coisas que agarramos ao longo dos anos, ou ate as coisas que nos agarraram a nós?
Quando transbordamos, há sempre alguma coisa para deitar borda fora. Aprendemos desde muito novos a distinguir o que nos é essencial e o que não o é assim tanto. Por outro lado aprendemos a não desperdiçar nada, a guardar as coisas velhas no sótão.
Irá haver um dia para arrumações, e nesse dia teremos de abrir mão daquelas coisas velhas.

27/05/2008

, ; .

Faz-te uma certa confusão a minha excessiva preocupação com a normalidade Parecer normal Alias ser de facto normal Assusta-te um pouco os convenientes As virgulas bem colocadas Os pontos finais colocados com primor no final de cada pensamento Assusta-te o silencio do bom senso E as palavras escolhidas a dedo Detestas as frases que me recuso a proferir e os risos que guardo nos lábios Detestas as revistas de moda em que me prendo de manhã Detestas que me levante no autocarro para dar lugar a alguem Detestas quando digo que sim só para não ir contra a maioria normal Não gostas que me prenda neste perfeccionismo inato Não gostas da anormalidade que me concede a minha normalidade Normalmente ficaria zangada por não me aceitares como sou Por não me achares correcta Ficaria chateada irritada exigiria provas do teu amor e da tua lealdade Aquelas coisas que os normais fazem quando estão ofendidos Eu não me ofendo Porque há dias que posso ser anormal e aceitar só porque me apetece que me aches banal Já nem me importo Já não me fere a alma nem me inunda os olhos Quando dizes coisas que não fazem sentido És tu o anormalmente normal que me acha errada só por querer ser as vezes só mais alguem igual aos outros


Hoje não há ponto final paragrafo nem virgula para retomar o folego
Hoje não há pausas na loucura

És fogo perdido

Deixo espaço entre as linhas para guardar lugar para o que sobrar de nós. Quando explodirmos. Quando se der o rebentamento do que somos.
Não sabes, ninguém te explicou, ninguém te contou as histórias de encantar que eu vivi. Não percebes a linguagem e, ficas sempre distante demais para me apreciares a melodia.

És fogo perdido de uma fogueira extinta.

Queimas por dentro aquilo que os outros teimam em banalizar por palavras que alguem decidiu inventar. Ardes. E pegas-me fogo, de dentro para fora. Enlaças-me nos teus braços e não me largas. Manténs a distancia mental que te faz pertencer sempre primeiro a ti e, talvez num dia distante, um pouco a mim. Ofereces-me calor, com um sorriso sincero, só para me fazeres arder. Para me tornares cinza. . Não te chegas nunca a afastar, porque nunca estiveste verdadeiramente perto. És calor exagerado para fogo apagado.

És combustão espontânea.

E não sabes não ser assim. Passivo-agressivo. Ausente-presente. Sincero-maniaco. Meio-menino-meio-crescido.
Ardes por dentro, devagar, lentamente. Sem sofrer. E queimas todos aqueles que ousas tocar.
Deixas um pouco de ti para trás, quando sais de onde nunca estiveste.

És menino-perdido-sincero-agressivo-ausente que perdeu o caminho para casa.

E arde dentro de ti aquilo que ninguém te ensinou a dizer. Há palavras, embora raras, que existem para serem ditas, usadas, abusadas, gastas. Há coisas que se inventaram para serem vividas. E histórias de encantar que acontecem. Tu não sabes menino-fogueira, ninguém te ensinou.
Quando soltares as palavras difíceis, talvez te sossegue o coração.
Um dia, quem sabe, não vens tu enlaçar-me nos teus braços, de uma maneira mais doce e, talvez, murmures ao meu ouvido aquilo que te arde por dentro.
Nesse dia, tenho este espaço entre as linhas para nos guardar por cá. Não precisas de apagar o fogo que há em ti. Mas há espaço cá fora para o que temos dentro de nós.

Um dia vais aprender a dizer


Amo-te

15/05/2008

Sabemos nós o tempo que temos? Sabemos os dias que passaram? Os que foram nossos, e os que foram dos outros? Sabemos das vezes todas que erramos? Que nos enganamos? Das mentiras que contamos? Das mentiras que ouvimos? Sabemos nós quem somos e onde estamos?

Sabemos de que cor pintar os dias, quando os dias são todos iguais?

Houve um sonho, num dia antigo, onde as esperas eram certas, e as pessoas vinham mesmo, quando as chamava. Houve um sonho, num dia passado, onde te vi pela primeira vez. Trazias o coração na mão, apertado com força, como só tu sabes agarrar. Trazias nos olhos um mar de perguntas, de inquietantes duvidas. E os teus passos... Os teus passos certos, sem medo de quedas despropositadas. Era o chão a tua casa.
Houve um sonho, num dia que já não me lembro, onde apareceste e me prendeste, numa teia bem montada. E por lá fiquei, sem perguntas. Os meus pés deixaram de encontrar o chão. E os meus olhos encontraram morada na tua boca. Houve um sonho, num dia cinzento, que tornou o meu mundo melhor, com mais cor.

Sabemos nós o tempo que já vivemos? Sabemos o que nos resta? Sabemos distinguir a realidade dos sonhos?

Sabemos acordar?

Quando chegaste, num sonho meu, num dia passado, jurei que não mais te ia largar. E, hoje, que estou acordada sem saber de que cor pintar os meus dias e se são sonhos as horas que passam, hoje, que não sei quem fui.
Sei que sou tua.
Seja a nossa cor qual for.

Sabemos nós de nós?

Despropositadamente agarrei o teu coração de uma forma menos forte mas mais doce, e pintei te os sonhos da cor do amor. Quando acordamos, lado a lado, não sabíamos onde estávamos, nem para onde íamos.
Sou tua e tu és meu.

Tornaste-me o mundo um pouco melhor.

Sabemos nós estar quando não estamos juntos?
Anjos caídos de asas fechadas.

Fecho os olhos com força e volto a sonhar.


Porque és tu quem me pinta os dias,
quem me torna a vida mais doce,
és tu que vens quando as lagrimas não me largam
é a tua boca que me apazigua a alma.
És tu em mim

22/03/2008

Fala-se de uma tal magia por aí...


Julguei, erradamente, que as palavras eram bengalas. Só uteis para quem não conhece os seus passos, para quem tropeça em mentiras, para quem não sabe onde está nem para onde vai. Julguei que eramos certos, que tinhamos passos firmes, que usavamos bengalas só com os outros. Julguei que eramos desprovidos de artifícios. Que era nua a tua alma perante a minha. Que era nua a minha alma em frente a tua. Julguei que nos aguentavamos, sem bengalas. Que eram fortes as tuas pernas e certos os meus passos. Não me seguiste, não te vi à minha frente nunca. De mãos dadas, lado a lado. Sem bengalas. Sem palavras.
Não sei distinguir o momento exacto em que fraquejamos. Senti-te balançar ao meu lado. Ouve um barulho ensurdecedor, num daqueles momentos em que as coisas acontecem em camara lenta, como nos filmes, vi-te cair, despropositadamente, ao meu lado.
Não sei onde nos perdermos, sei que não foi ali, nem naquele momento. A tua mão já não pedia a minha, a minha já não se estendia para a tua. Não havia acção espontânea que nos ligasse. Acabou-se a sintonia, a melodia ritmada por uma coisa qualquer que não precisamos nunca de cantar. E na tua queda, que se prolongou por demasiado tempo, num sitio que não me recordo agora, perderam-se os passos certos. Os caminhos a direito, sem indicações.
Deixei-te lá, a cair continuamente, sem pedir ajuda, porque não usamos palavras,
não temos bengalas a segurar o nosso amor.

Disseram-me que há grandes amores que acabam assim, quando deixa de haver magia. Que se afastam sem saberem, que quando caiem já nada mais há para reerguer.

Quando voltei, com os passos pouco certos, muito apressados, trazia uma bengala na mão para me amparar.
Já não era eu, despida de artifícios, já não era pura a minha alma. E não me importei de te estender a mão quando me pediste, não me importei de não ser espontâneo o meu acto, nem me importei de ser em desespero o teu pedido. Quando me sentei ao teu lado para discutir os próximos passos, não fiquei triste por já não ser indiscutível o nosso caminho, por não ser certo e sem mapa. Quando nos reerguemos, de bengalas em punho, não me importei de precisar de ajuda, não me importei de te falar disso. Quando todos os passos que se seguiram foram dados de mapa na mão, não fiquei triste por não saber o caminho de cor.

Eu sei que não foi bonito, que não é digno
de uma historia de embalar, sei que não vão falar de nós no futuro, e que as meninas não vão sonhar em ser eu.
Quando te vi cair, não cai contigo. E sempre achei que não saberia seguir este caminho sem ti, mas sei.
Há qualquer coisa em mim, pouco magica, que me faz conter as lagrimas e continuar.
E quando decido voltar é porque quero e não porque estava programado.

___________________________________________________


Eu escolhi voltar e tu escolheste dar-me a mão.

Juntos escolhemos o nosso caminho, que agora,

apesar de não ser magico, é nosso.

E a magia, meu amor, somos nós.

___________________________________________________

19/03/2008

Manual de utilização:

[Frágil]









Cuidados de utilização: Manusear com cuidado, forte por fora, frágil por dentro. Não virar do avesso. Não deixar cair. Mimar e acarinhar o máximo possível.



Nota do conteúdo: Quando não sei o que fazer, faço rolinhos de cabelo com os dedos. E penso muito quando fecho os olhos. Esfrego os olhos com força quando começo a ficar com sono. Calco sempre um pé com o outro quando estou pouco confiante a frente de alguem. Quando estou quase a adormecer começo a falar muito para combater o sono. Quando ando pela rua sozinha vou sempre a cantar baixinho. As vezes gosto de andar a chuva, mas só quando é muito fraquinha. Adormeço virada de lado e com as mãos no meio das pernas para não arrefecer. Acordo toda torta e com o cabelo todo despenteado (sempre!). Pergunto muitas vezes 'porque?', sempre que estou pouco esclarecida. Quando fico muito tempo calada é porque estou triste. Gosto de me sentar no chão de pernas cruzadas. Ouço musica aos berros e canto quando estou feliz. À noite acendo as luzes todas da casa quando estou sozinha. Caso não agrade peço que me devolva rapidamente.




___________________________________________________


Nas tuas mãos sou boneca de cristal
Amparada em cada queda pelas linhas
Suaves
do teu corpo
_______________________________________________________

20/01/2008

Não somos cor de rosa.
Não temos estrelinhas nos olhos, nem os pés assentes nas nuvens.
Dizem mal de nós por aí, ouvi dizer que ouviram dizer mal de nós. Importas-te?
Não temos asinhas para voar, nem ouvimos sinos quando damos beijinhos.
Não és o príncipe encantado, nem eu sou princesa ou fada.
Riem-se de nós por aí, ouvi dizer que ouviram rirem-se de nós. Importas-te?


Temos os pés assentes na Terra dura, no chão frio, onde nos deitamos a noite a ver estrelas que caiem do céu, não para nós, mas, para toda a gente.
Temos a pele castanha escura, reflexo de um sol que brilha todos os dias, nos dias que não são nossos, são do mundo.
Viajamos de balão. Ouvimos musica aos berros quando estamos eufóricos, ou muito baixinha quando nos viramos para dentro e procuramos coisas dentro de nós.


Quando me pegas pela mão e me levas para o teu mundo, não há nada la de diferente.
Eu. Tu. O chão frio.
Estrelinhas.
Musica.
Sol
Nuvens.




Ouvi dizer que ha príncipes encantados no mundo das outras meninas.
E que tu não andas por lá...
que sentido terá um mundo sem ti?

15/01/2008

Ficas por cá, ate quando cá já não estás

Se o mundo fosse um pouco mais pequeno, talvez se eu fosse um pouco mais crescida, ou se tu fosses um pouco mais corajoso, tudo fosse um pouco diferente.


Paro de sonhar


Há uma luz, avermelhada pelas cortinas, que me faz manter os olhos fechados e não me deixa dormir.
Acordo com um sabor doce na boca. Estico os braços e não te toco.
Cheira a ti. Cheira a sonho. E é inevitável não te amar.
Sempre com a pressa que me foi destinada, lavo-me de todos os dias do passado. Volto-me nova e vazia para mais um dia.

“Será que o vou reconhecer?”

Todos os dias me pergunto. E nunca duvido.

Quando me cruzo contigo, sinto-te o cheiro, ouço-te ao longe a chamar por uma dessas meninas que te enche o passado. Gostava de te ensinar a lavar a alma e a vida, gostava que percebesses que não se deve viver com o passado. Mas tu não queres aprender. Gostas de trazer o peso do Mundo as costas. E eu já não me importo.

Sei que sou eu que te faço tremer. É a pronunciar o meu nome que a tua voz falha. É quando estas ao meu lado que te foge o chão. Sei que é de mim que ris. Que é por mim que choras.
Sei que a dança da tua vida é ritmada pelo bater do meu coração, nesse compasso aleatório que nos faz chorar de vez em quando.

Sei que tens um segredo e, esse segredo sou eu.

Sei que a noite chegou. Que te vou abraçar como se fosses um presente. Sei que amanha acordo com o teu cheiro. Sem ti.
E sei que não me importo. Porque aprendi a guardar-te dentro de mim.

Ficas por cá, mesmo quando acordo sem ti.



Podes voltar amanha, ou depois, tanto faz.

[Eu voltei hoje, para resgatar o que deixei de mim aqui. Ou para me lembrar de quem era quando por aqui estive. Ou para voltar a encontrar-me, naquilo que fui e, certamente, ainda sou.

A quem por ai ainda estiver. Um beijinho cheio de saudade]

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails