[uma d]a[s] minha[s] nao é excepção
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Não percebo, e temo nunca a vir a perceber, as tuas motivações.
Podias ter sido poética. Podias ter imitado uma história de fadas. Podias ter feito disto uma peça dramática. Onde no final há sorrisos salgados e o barulho ensurdecedor das palmas. Mas não…
Há pouca poesia, ou nenhuma mesmo, num caixote de lixo.
Podia ter sido a porta de uma igreja. De um hospital. De um convento. De uma casa qualquer… Podia ter sido no metro, no autocarro. Podia ter sido em qualquer lado. Mas não… Não foi num lado qualquer.
Um caixote do lixo.
Podias ter deixado uma carta para eu ler quando conseguisse perceber. Podias ter deixado uma fotografia. Podias ter deixado um papel com o meu nome. Podias deixar-me uma marca para me achares no dia que me procurasses. Mas não…
Caixote do lixo.
Se soubesses… Se ao menos pudesses imaginar como custa, como dói. Se sentisses a agonia de não ser de ninguém. De não ter ninguém…
Mas não sabes… Porque para ti sou…
Lixo
Hoje estou crescida. Não fiquei traumatizada. Sou amada e sei amar.
Passei tanto tempo a sonhar com o dia em que chegarias para me conhecer. Mas tu não vieste. E sabes? Fico feliz por isso. Sou melhor sem ti.
E não, não te odeio. Nem tenho raiva.
Tenho pena de ti.
És uma pessoa avulso.
Perdeste o coração num tempo qualquer, por um motivo qualquer que não é desculpa para nada. Tenho pena de ti por não saberes amar. És vazia.
E se um dia precisares… Sim, mãe… Eu estou aqui! Podes voltar. Porque eu sei AMAR.
“Cheira a doce aqui. Ouve-se pouco. Não se ve nada. Mas cheira a doce aqui.
Sei de ti, quase tanto como sei de mim. Pouco, quase nada. Se me importo? Nem um pouco.
Cheira a doce, e eu cheiro a ti.
Houve um dia, num momento indefinido, que deixei de nos distinguir. Que me perdi. Que te perdi. De uma forma tão pura [e doce] que nunca mais nos achamos. E não nos importamos.
Cheira a doce e eu não sei de ti.”