25/02/2005

Um pouco de céu

Acordei hoje com aquele aperto no coração, aquele aperto que faz o coração bater com mais força e que nos lembra que estamos vivos. Acordei hoje com uma vontade de mudar. E, quando vi o Sol a brilhar percebi...
Hoje quando a brisa que vinha do mar me penteou os cabelos e me trouxe aquele ar salgado que marca a distancia percebi...
Quando já não tenho forças para continuar aqui, quando o chão já queima os meus pes cansados, quando os meus olhos não cegam mas não conseguem ver... Tenho de perceber...


Só hoje senti
Que o rumo a seguir
Levava pra longe
Senti que este chão
Já não tinha espaço
Pra tudo o que foge
Não sei o motivo pra ir
Só sei que não posso ficar
Não sei o que vem a seguir
Mas quero procurar

E hoje deixei
De tentar erguer
Os planos de sempre
Aqueles que são
Pra outro amanhã
Que há-de ser diferente
Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu

Só hoje esperei
Já sem desespero
Que a noite caísse
Nenhuma palavra
Foi hoje diferente
Do que já se disse
E há qualquer coisa a nascer
Bem dentro no fundo de mim
E há uma força a vencer
Qualquer outro fim

Não quero levar o que dei
Talvez nem sequer o que é meu
É que hoje parece bastar
Um pouco de céu
Um pouco de céu



Mafalda Veiga

24/02/2005

És tudo o que eu vejo


O sol ainda ilumina o dia. E a noite ainda trás [normalmente] a lua. O céu ainda se enche de nuvens empurradas pelo vento que me gela os pés. [Ou será a água do mar que já chegou aqui?] Tenho os sentidos trocados agora que já não sinto o teu corpo. Agora que me deito na noite vazia sem saber ao certo se é noite. Porque eras tu que marcavas as horas do meu dia. Agora, os minutos ecoam sem significado e, sem futuro. Agora os passos fazem-se de caminhadas sem sentido. E o sol vem e vai como quem não sabe ao certo o que quer. Como o mar, que ninguém sabe ao certo onde vai.
O mar embala todas as noites o sol. É essa a hora que eles marcam, a hora certa. Tu marcavas também o meu tempo quando chegavas. Agora já não chegas mais. E eu perdi a noção das horas, dos dias, dos anos. A chuva bate na janela com a força que pode para me mostrar que é Inverno [eu sei que é], mas o que é o Inverno sem o calor do teu corpo para me temperar a alma? O que é o Inverno sem as tuas mãos a servirem-me de cobertor? O que é o Inverno sem os teus olhos a substituírem as estrelas? O que é o Inverno quando bate numa casca vazia? É assim o Inverno em mim. Igual ao verão ou a outra qualquer estação. Como o meio dia é igual a meia noite. Porque tu já não vens a meia noite. E eu já não te espero ao meio dia.

A verdade é que o sol ainda ilumina o dia. Eu sei. Mas não consigo ver.
“És tudo o que eu vejo.
Sempre que eu insisto, eu esqueço que eu existo”
E agora resta-me a certeza que um daqueles Fins com sabor a começo vai chegar ate mim.
Ate lá vou me guiando pelas horas dos outros…

És tudo o que eu vejo.

22/02/2005

"A manhã é ainda lunar.

Nunca mais poderei deixar o meu corpo esquecido junto ao teu. O mundo que não existia longe da tua pele. Os meus dedos a deslizarem pela superfície da tua pele. E o desejo enganava-nos. Os meus dedos entre os teus cabelos e a inocência. A claridade dos dias que nasciam na tua pele branca, na forma suave da tua pele feita de silêncio. A inocência repetida em cada palavra da tua voz, como água de uma fonte, como a minha mão a atravessar o ar e a dirigir-se para o teu rosto. O teu olhar era a inocência. O meu olhar. E o silêncio de cada vez que queríamos falar de assuntos mais impossíveis do que a memória. Nunca mais poderei sonhar porque tu não estarás ao meu lado e, descobri hoje, só posso sonhar contigo ao meu lado. Espetada infinitamente em mim, uma faca infinita. Deixei de imaginar o futuro. Sobre esse tempo que não sei se chegará existe um manto muito mais negro do que aquele que cobre o passado. Não consigo olhar através desse tempo negro. O futuro estará depois de muitas noites, mas eu deixei de imaginar as noites. Sei que, da mesma maneira que esta noite se cobriu de manhã, esta manhã poderá anoitecer. Consigo imaginar cada tom das suas cores a tornarem-se negras. Não consigo imaginar este tempo a transformar-se noutro tempo. Contigo, perdi tudo o que fui para não ser mais nada. Deixei-me ficar nos sonhos que tivémos. Abandonei-me. Nunca mais entenderemos a lua como quando acreditávamos que aquela luz que atravessava a noite nos aquecia.
Nunca mais. Nunca mais poderemos sonhar. Nunca mais.
O brilho nas pedras do passeio. Dentro do nevoeiro, há pontos de luz mais grossos a brilharem. Moedas lançadas para um lago cheio de desejos.
Caminho entre o brilho. Os meus passos afastam-me de nada. Existem veios de medo na brisa que atravesso. Linhas de medo que me tocam a pele. Atravesso a brisa e sou atravessado por uma voz que me diz: não podemos ser felizes. O medo. Sobre mim, o céu é o tempo do mundo. Todo o tempo de todas as pessoas do mundo. O céu é nunca mais. A lua somos nós, aquilo que fomos. Como a memória, a lua existe nesta manhã para nos lembrar que existiram noites, que existiu esta noite em que nos separámos. Caminho sobre a organização das pedras do passeio, a organização do nevoeiro.
Rodeada pelo tempo do mundo, por nunca mais, a lua somos nós."



José Luís Peixoto
(Influenciada pela Mónica)


As palavras como murros [como nós gostamos] e, a morte como um Fim traçado, infinito.

Gosto mais dos Finais, são sempre o inesquecivel da história.

[Como já devem ter reparado mudei o sistema de comentarios (graças a ajuda da CPC), só o mudei porque assim se torna mais facil para voces comentarem e, também porque me explicaram que os antigos comentarios continuam cá (basta clicar no link que marca as horas em que o texto foi publicado)... Pois é,porque este blogue é feito dos vossos comentarios]

Um beijo*

20/02/2005

Estou de volta e Bem...

[obrigada pelo titulo Miguel, ou pela força para escrever este post]
Para ser mais correcta estou Quase de volta e Quase bem...
Já estou em casa, na minha caminha, infelizmente ainda não posso andar, mas com o tempo fico 100%.




Os anjos também têm momentos menos bons, em que as asas não servem mesmo para voar...

Quero agradecer a força que todos voces me deram, mesmo sem vos conhecer foi importante, é sempre bom sentir o apoio dos outros

Um beijo*



Li um texto num outro blog "Nunca é de repente" sobre a exclusão social. Racismo...

Só tenho uma coisa a dizer...

Também há anjos Negros, Amarelos, Vermelhos e as pintinhas...


Que todas as nossas diferenças fossem as nossas cores...

18/02/2005

Esperem por mim...

Vou dar uma escapadela ao hospital este fim de semana. Prometo que volto, os médicos não prometem, mas eu prometo.

Sei que ainda tenho muito para fazer por cá.
E, apesar deste medo que não me deixa dormir, tenho uma certeza aqui no fundo que me diz "vai ficar tudo bem".

Lá em cima os anjos olham por mim...

[Cá em baixo espero que voces vão pensando em mim]


Pode ser que também ganhe as minhas asas.


Um Beijo*

16/02/2005

Toca-te...

Sem medos...

previne-te...



Toca-me...

Ajuda-me...


Antes que seja tarde...

Antes que me mate por dentro...


Deixa tocar...

Porque há qualquer coisa
que não podemos controlar
Uma força que nasce, sem avisar
Alimenta-se de ti
vive dentro de ti
destrui-te... A ti...

E não há mais quem te possa salvar
...Save yourself...

15/02/2005

Bruno. Chamavas-te Bruno

Bruno. Chamavas-te Bruno.
Tinhas um sorriso do tamanho do mundo e, uns olhos tristes de agua.
O teu abraço era calma e, o teu passo era viagem.

Sei que nunca to disse. Não me deste tempo.

Sabias que não se pode roubar as horas dos outros? Sabias que não adianta apressar o relógio? as horas vêm todas com 60 minutos.
Compassadas por badaladas certas.

Chamavas-te Bruno. Tinhas dezanove anos.
Como eu tenho agora, mais três que eu na altura.
Tinhas carro, telemóvel, uma família maravilhosa. Agora,
existe isso tudo menos tu.

Já li imensos textos sobre o assunto, mas nenhum fala de ti, nenhum me explica o porque de o teu carro se ter atirado contra uma curva a 180k/hora. Nenhum me explica o porque da mensagem que recebi umas horas antes

“Sabes que gosto de ti, não sabes? Independentemente de tudo… Independentemente de estar longe…”

A resposta que te dei ficou, ate hoje, pendente.
Mas agora já chega deste silêncio estúpido que a distância, da terra ao céu, impõe. Elevo as minhas palavras as nuvens, aos anjos, a ti…


“Sabes que isso sempre me chegou, não sabes? Esse teu olhar triste e, esse teu sorriso enorme. Esse teu abraço que me dava paz. Sem palavras. Sem promessas. Sem futuro. Sem beijos vazios e noites perdidas. Também sabes que sempre gostei de ti, não sabes? Também sabes que os meus olhos procuravam os teus. E meu sorriso era roubado do teu. Sei que sabes… não sei se saberias, mas agora sabes.
Sabes das lágrimas, das noites acordada, dos pesadelos, do medo do escuro… Dos fantasmas… Agora que escolheste a morte sabes tudo.”


Não tenho saudades. Tenho dúvidas.
Que te faltava Bruno? Um abraço mais apertado? Um beijo mais ao lado? Nunca me pediste… tenho pena que tenhas tido pressa e, que tenhas acelerado a tua vida ate aos 180k/hora, tenho pena que não te tenhas querido desviar. Nunca te vou perceber…


Nunca te vou perdoar…

13/02/2005

Gosto de ser livre,
de lançar os meus cabelos ao vento e, de me deixar preencher de novos prazeres.
Gosto de me carregar das minhas coisas,
de aprisiona-las numa mochila e, de me lançar às ruas.

Decidi partir sem aviso prévio e, sem música de introdução.
Para trás não deixei muito. Porque tudo que me interessa é o nada que tenho.

Tenho este prazer estranho de desaparecer…
desta vez não houve telemóvel que nos salvasse a comunicação.

Não houve olhos de mel para evitar, nem beijos para gastar.
Não houve camas vazias de corpos desconhecidos,
Nem estrelas inventadas por situações criadas.

Tenho esta maneira estranha de me refugiar de mim…
Finjo que me meto toda numa mochila,
finjo que sou assim e, parto como se não precisasse de ninguém.
Fujo exactamente para não ter de chorar no ombro de alguém, quando as lágrimas já não são controladas pelos meus olhos.

Vou nestas viagens, algumas vezes por ano, quando as horas aqui se atropelam com pressas estúpidas de inutilidades banais.
Vou nestas viagens quando me dói a alma.
Quando as lágrimas tropeçam nas pestanas e teimam em me mostrar frágil.
Quando o sol parece já não ser suficiente para me aquecer,
quando já não há aqui azul que me faça sorrir.

Foi só um fim de semana… Uma fuga, um escape
Foi só um esquecer-me de mim sendo apenas eu…

Vagueei perdida, meia morta e a chorar ate tropeçar em mim e me achar…

Voltei…

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O comboio abrandou no compasso certo d’uma banda sonora de um qualquer filme francês.
A paisagem abrandou, ate se imobilizar, num ponto certo com cara de Fim.

Fecharam-se as cortinas, o público esvaziou a sala [a carruagem]. Fiquei sozinha na sombra do que já foi, sem ninguém para bater palmas [tinha ideia que mesmo os dramas tinham direito a palmas no final] Mas só sobraram umas lágrimas.

Peguei na minha mochila, na minha alma, na minha vida, carreguei-me com o mundo, com as dores [as minhas e as tuas] e, voltei a pisar aquele chão.
O meu nariz apurou-se, os meus olhos tremeram, as lágrimas brotaram… Cheirou-me a casa!

Voltei…

Com os pés já no Porto e, com o coração de novo apertado, já com falta de oxigénio [ou de vontade de respirar], não tive tempo de voltar para trás. Um desafinado assobio ecoou na estação e o comboio apressou-se a voltar pelo mesmo caminho de onde tinha vindo, não sei bem se para o mesmo lugar…

Voltei…

Com o meu passo inseguro e o paraíso no meu olhar…

09/02/2005

Pensei que hoje o sol me cegaria, pela manhã à hora certa
Pensei que me iria poupar a esses teus olhos mel de quem não sabe bem onde os pousar

Tranquei os óculos de sol em casa, amarrei o cabelo bem seguro
Lavei a cara com agua bem fria, para os meus olhos se abrirem ao sol

Fiz todo o caminho a olhar para o céu
Como quem procura estrelas na claridade do dia

O azul invadia-me tanto a visão, que eu cheguei a achar que havia luz na escuridão.

Mas a cegueira não veio,
A força de vontade de te virar a cara também não,
A minha mão não se ergueu com toda a força contra a tua cara,
Não houve berros nem discussão,
Não houve senão mais do que dois minutos eternos
Em que o mel se misturou com o escuro da terra
E um ser se afastou como se nunca se tivesse aproximado.

E lá vais tu, feito menino perdido, com as mãos nos bolsos e a testa franzida,
Fazes de conta que te afastas
Faço de conta que não te sigo



E quando, se um dia tiveres coragem, olhares para tras e não me vires
É porque o sol teve a bondade de me cegar...

Não sei olhar sem ser para ti,
Não sei ver senão essa marca escura que limita, e distingue, o teu corpo de todo o resto.

04/02/2005

O principezinho (Capitulo XI)

"(...)O segundo planeta, um vaidoso o habitava.

- Ah! Ah! Um admirador vem visitar-me! - exclamou de longe o vaidoso, mal vira o príncipe.

Porque, para os vaidosos, os outros homens são sempre admiradores.

- Bom dia, - disse o principezinho. - Você tem um chapéu engraçado.

- É para agradecer, - exclamou o vaidoso. - Para agradecer quando me aclamam. Infelizmente não passa ninguém por aqui.

- Sim? - disse o principezinho sem compreender.

- Bate as mãos uma na outra, - aconselhou o vaidoso.

O principezinho bateu as mãos uma na outra. O vaidoso agradeceu modestamente, erguendo o chapéu.



- Ah, isso é mais divertido que a visita ao rei, - disse consigo mesmo o principezinho. E recomeçou a bater as mãos uma na outra. O vaidoso recomeçou a agradecer, tirando o chapéu.

Após cinco minutos de exercício, o principezinho cansou-se com a monotonia do brinquedo:

- E para o chapéu cair, - perguntou ele, - que é preciso fazer?

Mas o vaidoso não ouviu. Os vaidosos só ouvem os elogios.

- Não é verdade que tu me admiras muito? - perguntou ele ao principezinho.

- Que quer dizer admirar?

- Admirar significa reconhecer que eu sou o homem mais belo, mais rico, mais inteligente e mais bem vestido de todo o planeta.

- Mas só há você no seu planeta!

- Dá-me esse gosto. Admira-me mesmo assim!

- Eu te admiro, - disse o principezinho, dando de ombros. - Mas como pode isso interessar-te?

E o principezinho foi-se embora.

As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, ia pensando ele durante o resto da viagem. (...)"


[Pois é... Deu-me para ler livros de criança e, estou a aprender tanto das pessoas grandes que nem me apetece crescer. Apesar de achar que já todos leram este livro quando eram mais novos, aconselho a uma nova leitura agora. Tem outro valor, outro sentido. É engraçado como nas coisas mais simples encontramos as respostas as perguntas mais complicadas.]

03/02/2005

Boneca de trapos

Vivia numa terra onde as casas eram todas brancas, assim como as nuvens do ceu que passavam devagar, no alto para nos verem melhor. As pessoas tinham todas os cabelos brancos e, as mãos também. Os olhos eram, na sua maioria, claros. Só as pedras da rua eram pretas, gastas e, cansadas.
As pessoas que lá viviam [como eu] costumavam passar horas de um lado para o outro da rua. Passavam horas naquele ritual que eu não conseguia perceber.

Ao contrário de todos, eu tinha os cabelos escuros, a pele morena, e uns olhos profundos [como me dizia o meu avo]. Não tinha o habito de passar horas na calçada. E ate tinha os dentes todos, o que já não era muito normal naquela zona. Passava a maioria dos dias a subir as arvores, só tinha uma boneca de trapos [feita pela minha avo uns dias antes de se juntar as nuvens] mas nunca brincava com ela, estava sempre em cima da minha cama a minha espera no silencio da noite. Passei várias noites acordada a espera que a boneca me contasse as histórias que a minha avo já não me podia contar. Nunca aconteceu [mas isso voces já deviam saber].

Eu estranhava porque é que as pessoas passavam os dias caladas, a andar nas ruas, perdidas umas das outras. Na altura não cheguei a perceber...

Mas as pessoas iam desaparecendo, eram cada vez menos. O meu avo [no leito da sua morte] entregou me um relogio de ouro

-É a tua vez de contar o tempo... Quando todas as horas se esgotarem vais-te juntar a mim. É sempre assim querida e, nada faz esse relogio parar... Espera pelas ruas ate esse dia.

...E eu fiquei sozinha...
...A espera...
E prometi fazer dessa espera o melhor tempo da minha vida.
E prometi que não ia andar perdida do mundo, presa por um cordão de ouros as horas que me restavam.
E prometi que ia ser diferente.


As casas já não existem, o relogio já funciona mal. Sobra o silencio do escuro e, uma boneca que não sabe falar.

02/02/2005

Eu só queria um abraço

Um beijo fácil, um regaço

Qualquer coisa que me arrancasse deste escuro quarto onde me mato.

Eu só queria um sorriso

Alguém que me fizesse perder o juízo

Qualquer coisa que me desse asas e me mandasse voar.

Após tantos anos de solidão
Deu-me para voltar a ter medo do escuro


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