Gosto de ser livre,
de lançar os meus cabelos ao vento e, de me deixar preencher de novos prazeres.
Gosto de me carregar das minhas coisas,
de aprisiona-las numa mochila e, de me lançar às ruas.
Decidi partir sem aviso prévio e, sem música de introdução.
Para trás não deixei muito. Porque tudo que me interessa é o nada que tenho.
Tenho este prazer estranho de desaparecer…
desta vez não houve telemóvel que nos salvasse a comunicação.
Não houve olhos de mel para evitar, nem beijos para gastar.
Não houve camas vazias de corpos desconhecidos,
Nem estrelas inventadas por situações criadas.
Tenho esta maneira estranha de me refugiar de mim…
Finjo que me meto toda numa mochila,
finjo que sou assim e, parto como se não precisasse de ninguém.
Fujo exactamente para não ter de chorar no ombro de alguém, quando as lágrimas já não são controladas pelos meus olhos.
Vou nestas viagens, algumas vezes por ano, quando as horas aqui se atropelam com pressas estúpidas de inutilidades banais.
Vou nestas viagens quando me dói a alma.
Quando as lágrimas tropeçam nas pestanas e teimam em me mostrar frágil.
Quando o sol parece já não ser suficiente para me aquecer,
quando já não há aqui azul que me faça sorrir.
Foi só um fim de semana… Uma fuga, um escape
Foi só um esquecer-me de mim sendo apenas eu…
Vagueei perdida, meia morta e a chorar ate tropeçar em mim e me achar…
Voltei…
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O comboio abrandou no compasso certo d’uma banda sonora de um qualquer filme francês.
A paisagem abrandou, ate se imobilizar, num ponto certo com cara de Fim.
Fecharam-se as cortinas, o público esvaziou a sala [a carruagem]. Fiquei sozinha na sombra do que já foi, sem ninguém para bater palmas [tinha ideia que mesmo os dramas tinham direito a palmas no final] Mas só sobraram umas lágrimas.
Peguei na minha mochila, na minha alma, na minha vida, carreguei-me com o mundo, com as dores [as minhas e as tuas] e, voltei a pisar aquele chão.
O meu nariz apurou-se, os meus olhos tremeram, as lágrimas brotaram… Cheirou-me a casa!
Voltei…
Com os pés já no Porto e, com o coração de novo apertado, já com falta de oxigénio [ou de vontade de respirar], não tive tempo de voltar para trás. Um desafinado assobio ecoou na estação e o comboio apressou-se a voltar pelo mesmo caminho de onde tinha vindo, não sei bem se para o mesmo lugar…
Voltei…
Com o meu
passo inseguro e o paraíso no meu
olhar…