18/09/2011

Vai ou Fica (Tanto me faz)


Pegas-me pela mão

- Vem comigo.

Arrastas-me por vielas escuras, a noite fez-se cedo hoje, o Verão já partiu e, sinto o frio percorrer-me o corpo devagar num arrepio lento, debaixo para cima, ao mesmo tempo que a minha respiração se prende por um segundo na esperança de te reconhecer o passo. Não te reconheço nem o passo, nem a voz, nem o cheiro. Nessa tua forma desconhecida segues ligeiro a minha frente, firme e veloz. Não me debato, não hesito e, sigo-te já sem mesmo precisares de puxar por mim. A tua figura ganha vida nas poucas esquinas em que a lua se deixa ver. Não te reconheço nessa tua pose altiva e segura. Sei que seguir-te faz parte do plano, sei que a tua mão na minha é coisa acertada.
Quando paras, largas-me a mão, viraste para mim e colocas as tuas mãos nos meus ombros.

- Pará.

Não te reconheço a voz. A tua cara agora desprotegida do escuro deixa me adivinhar quem és. Noutro dia, num outro tempo, numa situação diferente, desabaria a tua frente. Sou pó na tua presença, dissolvo-me nas tuas palavras e derreto-me nos teus braços. Mas hoje, nesta noite escura de princípio de Outono, sou mais forte e tu nessa tua forma desconhecida és só mais um fantasma com pouca pressa de partir. Podes ficar o tempo que quiseres, poder perseguir-me por ruas sombrias, podes me caçar nas vielas da cidade. Hoje, amanha e, sempre. Já não sou tua. Já não te quero. Já não te preciso. Parte quando quiseres.

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