Pegas-me pela mão
- Vem comigo.
Arrastas-me por vielas escuras, a noite fez-se cedo hoje, o
Verão já partiu e, sinto o frio percorrer-me o corpo devagar num arrepio lento,
debaixo para cima, ao mesmo tempo que a minha respiração se prende por um
segundo na esperança de te reconhecer o passo. Não te reconheço nem o passo,
nem a voz, nem o cheiro. Nessa tua forma desconhecida segues ligeiro a minha
frente, firme e veloz. Não me debato, não hesito e, sigo-te já sem mesmo
precisares de puxar por mim. A tua figura ganha vida nas poucas esquinas em que
a lua se deixa ver. Não te reconheço nessa tua pose altiva e segura. Sei que
seguir-te faz parte do plano, sei que a tua mão na minha é coisa acertada.
Quando paras, largas-me a mão, viraste para mim e colocas as
tuas mãos nos meus ombros.
- Pará.
Não te reconheço a voz. A tua cara agora desprotegida do
escuro deixa me adivinhar quem és. Noutro dia, num outro tempo, numa situação
diferente, desabaria a tua frente. Sou pó na tua presença, dissolvo-me nas tuas
palavras e derreto-me nos teus braços. Mas hoje, nesta noite escura de princípio
de Outono, sou mais forte e tu nessa tua forma desconhecida és só mais um
fantasma com pouca pressa de partir. Podes ficar o tempo que quiseres, poder
perseguir-me por ruas sombrias, podes me caçar nas vielas da cidade. Hoje,
amanha e, sempre. Já não sou tua. Já não te quero. Já não te preciso. Parte
quando quiseres.
bom.. mas estranho :o
ResponderEliminarMuito BOM!
ResponderEliminaradoreiiiii!
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