28/11/2005

É assim que te deixo quando sei que não te deixo para sempre

Quando chegas, como se fosse sempre a primeira vez, trazes na mão os sonhos todos que me fazem adormecer.
E não te amo. Não te amo mais, já não sei amar mais.
E por isso, quando chegas, com os sorrisos todos do mundo e cheio de histórias de encantar, digo-te para voltares depois, noutra altura, noutro tempo.

E hoje é só mais um dia em que tu chegas, sem autorização, em que me roubas do mundo por um momento apenas

[porque a vida, meu amor, a vida é feita de momentos e enfeitada de sentimentos que fingimos conhecer]

Tu chegas, agarras-me com a violencia toda que te ensinaram, e nunca me magoas. Mesmo quando os teus olhos gritam de raiva, quando as tuas mãos se perdem no meu corpo. Não me magoas. Perdeste as forças para me magoar e eu perdi as forças para sofrer por ti.

E chegas, como se fosse sempre a primeira vez, e eu deixo-te brincar. Fazes de conta que es principe e que me vens salvar de qualquer coisa. Não há cavalos alados, nem banda sonora. Eu e tu.
Tu na tua vontade quase infantil de me fazeres tua e eu na minha vontade estupida de te fazer sonhar só mais uma vez, só para depois te ver cair. Como gosto de te ver no chão, meu amor.

Acabamos sempre a brincadeira exaustos. Tu exausto de me amar e eu exausta de te fazer cair. Não sei qual de nós mente melhor.
Não sei qual de nós terá razão.

Sei que me agarras, que me finges tua.
Sei que no final te deixo sozinho, numa cama qualquer sem cheiro, de corpo gelado e alma vazia.
É assim que te deixo quando sei que voltas amanha. E só por saber que voltas.

É assim que te deixo quando sei que não te deixo para sempre

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