Quando chegas a casa abres a porta um pouco empenada, já há muito que não voltavas lá a nossa – tua – casa. Reparas que o pó se foi acumulando, algumas teias de aranha desenham sombras dançantes no tecto. Estranhas. Nunca viste a casa assim, meio abandonada, um pouco sombria ate. A medida que vais avançando ao longo do corredor sentes o meu perfume. Abres um sorriso.
Mal sabes tu que de mim, aí, resta uma sombra do que fui, um odor bolorento do meu amor por ti. Mal sabes tu que na tua prolongada ausência eu morri, aos poucos, devagar e, sem dor.
Enquanto caminho nas ruas frias da cidade que me acolheu, sinto no fundo do bolso uma chave.
Há sempre uma forma de voltar atrás. Há sempre uma maneira de regressar a casa. Vai haver um dia em que os nossos sonhos rebentam dentro de nós e eu volte a saber a morada do meu coração. Hoje é só a chave da porta que eu não sei abrir.
Se abraçasses a noite
Saberias de mim
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