07/04/2005

gaivotas que não sabem voar

Duas da manha. A lua alta. O cheiro a terra molhada. As lágrimas a dançarem-nos nossos olhos.
As estrelas dos outros, as nossas, as que roubamos.

Os pés presos à terra por raízes milenares.
As asas abertas.
Os olhos no horizonte.

Os nossos corpos separados por um fino papel que finjo ser muralha. O teu calor. O meu cheiro.
A tua alma.
A minha alma.

[Julgo que as nossas almas brincam as escondidas em noites que julgava para sempre perdidas. Julgo que a minha alma sorri sempre quando encontra a tua. Julgo alias que as nossas almas sempre estiveram juntas, lá no sitio das almas, onde não há papeis para desenharmos muralhas, onde não há brinquedos para fazermos de armas.]

Três da manha. Lua tapada. O som da chuva a cair no chão. As lágrimas a lavarem-nos a cara, espelhos de alma.

Um sopro, um vendaval em mim
O papel desfaz-se, a muralha cai
Agora sou só eu
E eu quero ser em ti.

Os nossos corpos juntos, presos, ancorados. O teu gesto. O meu medo. Toda a nossa vida e um céu pela frente.

“Está na hora…”

Sete da manha. Tenho um autocarro para apanhar e um exame para fazer. Tenho histórias para inventar. Tenho mentiras para confessar. Tenho um sonho para me encher a alma de esperanças que um dia o fim não seja o nascer do sol.

Lá fora as gaivotas.
Gaivotas que não sabem voar e se estilhaçam em lágrimas pelo mundo.


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