02/09/2005

Faz segredo (II) - A explosão

Houve uma grande explosão da qual ninguém falou.
Uma explosão universal, das coisas banais. Uma explosão sem nome, sem definição.
Um rebentamento natural de nós no mundo. Tão natural que fomos acusados de atentado contra o pudor.
Houve uma explosão. Uma explosão do nosso tamanho. E podes crer que somos grandes, tão grandes como aquilo que temos dentro de nós.
Ninguém se assustou com tamanha explosão. Não houve barulho, nem brilho, nem coisa nenhuma fora do normal.
Foi uma explosão normal de coisas banais. Foi uma explosão natural.
Foi um rebentamento universal do que nos enche a vida, do que nos molda a alma.

Ninguém se apercebeu. E ninguém sabe ainda que explodimos naturalmente. Não contamos a ninguém.
Ninguém saberia entender o que se passa quando explodimos de dentro para dentro. Numa explosão interna de alma. De mim para mim. De ti para ti. De mim para ti. De ti para mim. Ate quando já não sabemos quem sou eu e quem és tu.
Numa explosão sem cor. Sem dor.

Houve uma explosão. Uma explosão universal. Do tamanho do que temos dentro de nós. Ninguém viu. Fizemos segredo. Eu e tu, confusos num nós misturado pela força da explosão. Os únicos feridos somos nós. Sem arranhões. Sem sangue. Sem dor.

Fica só a marca de uma grande explosão da qual ninguém falou.

…Não fales ainda. Faz segredo

[Nunca tem sentido dar destino as palavras eternas, porque os destinos são mortais. Mesmo assim não posso deixar passar ao lado o ser que se imortaliza em mim por me ensinar o significado das grandes explosões, e das coisas todas sem sentido. Sem nome. Que me ensina sem querer a ver as coisas de um outro prisma.
Continuas sem nome, porque o teu nome é mortal.]

Sem comentários:

Enviar um comentário

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails