12/10/2005

Emaranhado de mim

Selei num segredo os momentos todos do mundo. Guardei por lá as horas certas. Os beijos. As promessas. Num segredo que murmurei ao vento em tom de brincadeira.
Chovia. Chovia muito e o céu era muito cinzento. Decidi que era hora. E embrulhei-me toda em palavras. Fiz um segredo do tamanho do mundo e contei-me ao vento. Ninguém ouviu. A chuva era forte. E o meu grito foi abafado pelos sons do mundo. Gritei baixinho. Gritei muito. Gritei muito alto.
Nada.

Embrulhei-me num segredo que ninguém ouve, que ninguém quer saber. E agora vejo-me fechada em mim. A tropeçar nas linhas que inventei. Cheia de enredos e de histórias encantadas que eu não vivi.
Vejo-me por cá. Longe do mundo, longe de mim. Num segredo que me apaga aos poucos e que já não sei confessar. Perdi as forças para gritar. Ou então perdi a vontade de me mostrar.
Eventualmente ninguém me quer saber.
Por isso, hoje, sou só eu neste meu segredo, estúpido, cheio de mim que me apaga aos poucos e que me faz menos eu.

Um dia tropeço em mim, num canto qualquer onde fiquei a dançar numa balada sem fim, e fico por lá, no sítio dos segredos a ver-me dançar. Ate ao amanhecer, ou o resto da vida. E esqueço-me de mim, do que fiz de mim… Do que quiseram fazer de mim.

É fácil viver a sonhar, com os pés longe do chão frio…
Alegremente livres… Tristemente sós…

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