14/03/2005

Hoje queria escrever-vos, assim como quem conta uma historia, assim como quem escreve a um amigo de longa data. Queria-vos contar a verdade pintada por mim, a verdade nas cores que eu invento. Queria transmitir alma. Queria ser alma. Mas percebi que sou eu que invento o azul do céu que me afaga a cabeça. E que a minha alma deixa de ser minha quando a escrevo por palavras inventadas por outras almas. E que a verdade deixa de o ser quando a passo para outro que não a tem.



Mesmo assim quero vos contar a única história de amor que conheço.

Tinha três anos… E não cresci desde então. Parei naquela altura, ou pelo menos durante muito tempo assim desejei. Não me lembro de muita coisa daquela tempo. Lembro-me que morávamos numa pequena casa. Lembro-me que tinha de subir uma enorme escadaria para chegar ao teu quarto. Não tenho ideia de te ver de pé. Sempre que me lembro de ti, vejo te deitado naquela cama, branco e magro.
Sabes Pai nunca gostei de nenhum homem como gostei de ti. E eu tinha apenas três anos. Era uma criança e já sabia amar… E como amor só há um, nunca voltei a amar. Não assim. Não com aquele poder.
Teria dado a minha vida pela tua, se me tivesse apercebido a tempo que o tempo estava a acabar. Bastava um sorriso teu para me dar energia para uma semana. Eras tu que me enchias o olhar.
Lembro-me de dias que não paravas de me chamar. E lá subia eu as escadas, com a pressa de te encontrar e de te poder satisfazer um desejo.

Tudo, pai. Tudo por ti.

Sempre que chegava ao teu quarto estava ofegante, as escadas eram bem maiores do que eu, quando me vias entrar sorrias e dizias-me

Sorri para mim princezinha

Lembro-me. Não sei porque é que a minha memória guardou tanta coisa tua.
Sei que tudo o que queria era correr contigo na praia, queria que me pagasses ao colo e que andasses comigo a roda.
Nunca o fizeste.
Eu não me importo.
Deito-me ainda hoje muitas noites a ouvir-te cantar para mim,
Sabes pai, foste o homem que mais amei na minha vida e nem me deixaste saber o que era amar.
Se pudesse voltar atrás no tempo daria mais um abraço, mais um beijo, mais uma lágrima, mais um sorriso, mais um olhar…
Tudo que dei por ti parece pouco.

É sempre pouco amarmos, meu amor.

[Esta pequena história de este enorme amor é da minha mãe. A ela, por ser a mais bela das rosas, a maior das mães. Por ela... Sempre. Amo-te]

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