11/06/2005

Nunca sabes ao certo se te magoas

Sais e voltas a entrar. Arranjas-te e voltas a sair. Sempre com pressa. Tropeças, cais. Rasgas-te toda. E nunca sabes ao certo se te magoas, porque no fundo voltas sempre a cair. É normal em ti. És tu assim. Em cada passo trocado encontras-te, inventas-te e dizes sempre a sorrir que és assim.
Não te importas com as nódoas negras que a vida te vai deixando nos joelhos. Nem te incomoda as mãos arranhadas. Tens as calças todas rasgadas e nem dás conta. Sempre com pressa de tropeçar noutra esquina. Sempre sem medo de te magoares, porque no fundo, nem sabes ao certo se te magoas.
Já conheces o chão de cor. Já lhe sabes o cheiro. E gostas. Ou então gostas de fazer de conta que gostas, para não terem pena de ti quando te virem estendida no chão depois de mais um passo enganado.
Cais e levantas-te, só para mais tarde teres o prazer de cair outra vez. Vives a tropeçar nas pedras, nos degraus, nas pernas dos outros, nas tuas. Vives a vida a lamber o chão. E finges que gostas. E nunca sabes ao certo se te magoas.
Já conheces o caminho de cor e salteado para todos os sítios que podes ir, mesmo assim não consegues não tropeçar. Deve ser essa tua mania de ir a dançar. Essa tua mania de estar sempre a olhar as gaivotas. Deve ser essa tua mania de te atirares para o chão, para fingir que não sofres, para fingir que és forte. Só para tu acreditares.

Feita bailarina de papel, que dança trocada, desacompanhada. Feita boneca de cristal, que se parte em cada queda só para se poder montar toda outra vez. Feita princesa. Feita mulher.

Feita eu…

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