O céu estava frio, ferido de tanto azul. O sol envergonhado. E as nuvens, calmas, passavam devagar, como pinturas com asas.
As gaivotas invadiram me os ouvidos com cânticos de final de dia, manchando o céu de reflexos dourados. O sol desaparecia e dava lugar aquela hora de sonhos cor-de-rosa.
Acabará de acordar.
Sai a rua.
Com os sonhos todos amarrados nos olhos.
Pousei as asas em casa e sai mais leve. Mais minha.
Não desejei levantar voo. Não pedi para me ensinarem a voar. Não inventei palavras para criar momentos elevados. Nem pintei horas para nos escondermos do mundo.
Foi o que sou.
[aqueles raros momentos de sinceridade eterna]
Não me menti, não me inventei, não me fingi.
O último acto acabou com as suas merecidas palmas. As cortinas fecharam. A sala esvaziou. Já passará tempo demais atrás das cortinas a espera de uma nova actuação. Acabou o teatro. Desceu do palco. Largou lá o seu fato de gaivota.
Deu-se ao mundo.
Afinal agora era só ela com os seus pés no chão.
Agora sou só eu com os meus pés no chão.
No acto contínuo da vida.
Viver.
E é tão bom…
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