27/01/2005

Senta-te um pouco, espera um pouco

Hoje as arvores estão cobertas de ouro, ou então despidas de tudo. Hoje o sol brilha, longe. Hoje o céu é azul, claro. Hoje as nuvens são farrapos dispersos de sonhos perdidos.
Hoje o rio corre ainda com mais pressa para o mar. Hoje o ar assobia-me aos ouvidos, vento. Hoje, um dia igual a todos, marcado pela tua presença.

-O meu nome é Miguel.
-Desculpa, não te conheço.


Negar-te-ei o resto da vida, para que a possa viver por mim. Não vai ser pelos teus olhos azuis, céu. Nem pelos teus cabelos dourados, arvore. Não vai ser por esse brilho que lanças com cada olhar, sol. Não vai ser por essa tua forma desajeitada de ser, rio. Não vai ser pelas palavras doces que me lanças ao ouvido, vento. Que me vou perder em ti.
Negar-te-ei com todas as minhas forças e, esta é a única forma de não me negar a mim.

-Mas ainda vais a tempo de conheceres…
-Mas, eu, não te pedi nada.

E se te pedir vai ser para que desapareças…

Construí uma muralha de cartão, não há maneira de cá chegar. Tranquei-me a mim num mundo de imaginação e, de cá não quero sair. Podes gritar. Podes chamar por mim. Podes tentar trepar o muro que nos separa, mas a caminhada é sempre demasiado grande para quem não sabe onde quer chegar.

Senta-te um pouco, espera um pouco.

Sabes Miguel eu não sou da cor que pinto as minhas paredes… Se é por ai que queres entrar mais vale ficares de fora só a olhar… Cá dentro é um turbilhão sem dimensão. Uma coisa que tu não saberias aguentar.

Mania nossa de mergulharmos de cabeça no desconhecido… No negro das horas... No vazio dos dias...

9 comentários:

  1. Parabéns Gaivota, gostei muito deste teu texto!
    O desconhecido é sempre a esperança e outra vezes a fuga. Por isso temos tanto essa mania ;)

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  2. Obrigada pela visitinha e pelas bonitas palavras...sim senhora, temos escritora!
    Gostei mesmo...só não tenho muito tempo para te ler hoje, este trabalho consome-me as horas....hoje um pouco mais claras. Prometo voltar, tenho que voltar.
    Fica bem, jinhos.

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  3. Por vezes refugiamo-nos no desconhecido só para fugir à realidade. Mas será esse o caminho? Não será o desconhecido uma perigosa ilusão que muitas vezes nos tira verdadeiros momentos de felicidade?
    Ai desconhecido como és tão controverso... levas-nos a momentos de pura ilusao, onde podemos sonhar, mas o acordar... ai o acordar...

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  4. texto muito muito bemescrito, gostei bastante...
    o nosso imaginarioa povoa sempre as nossas ideias e creio q temos medo d encontrar na realidade algo pior do q haviamos imaginado para nós... mas se nunca deixarmos os outros entrarem, se nunca enfrentarmos a realidade esquecendo por momentos as muralhas do nosso imaginário, nunca saberemos o que é melhor para nós mesmos.
    gostei do teu cantinho:)

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  5. Muito bonito este texto.Belas palavras.
    Bom fds.
    Bjs.

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  6. Diz ao "Miguel" que entre mergulhar no desconhecido e não mergulhar a diferença é optar entre Viver e Sobreviver .

    Se ele ficar muito tempo indeciso ou não mergulhar, deixa-te levar pelas tuas emoções que são suficientemente forte e sensatas para te levarem a bom porto.

    Ganhaste um leitor. Obrigado pela visita.

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  7. parabéns pelo texto! acima de tudo ele revela duas coisas. a primeira: temos escritora! a segunda: o ser humano é delicadamente complicado. o sofrimento pode ser demais, a angústia também, as lágrimas ardem (tu sabes que ardem), mas se deitares abaixo a muralha de cartão pode ser que haja sorrisos do lado de lá... tu sabes disso. agora toca a partir pedra que os dias não esperam por ti! um beijo

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  8. POrquê isolarmo-nos de forma tão a ficarmos tão distantes do mundo?
    Porquê temer um olho azul, om cabelo loiro, um brilho no olhar, ou mesmo uma forma desajeitada de ser?
    Ou, se preferires, e em palavras tuas, porquê temer e negar o céu, a árvore, o sol ou mesmo um rio?
    São das melhores coisas do mundo!
    Um beijo

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  9. As barreiras não nos protegem... isolam...***

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